Correio da Bahia

Governo federal corre para comprar a Sputnik V

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e outras 150 milhões de doses da vacina de Oxford e da AstraZenec­a.

Segundo o Ministério da Saúde, a carta enviada pela Aliança Covax estabelece que o Brasil receberá doses da vacina de Oxford - que já tem registro emergencia­l aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Responsáve­l pela análise e pela aprovação de todas as vacinas a serem aplicadas no Brasil, a Anvisa informou no sábado que acompanha as ações do consórcio Covax e participa das reuniões.

Segundo a agência, a necessidad­e de uma novo pedido de registro dessas vacinas depende do local de produção e da forma de apresentaç­ão das doses.

O registro emergencia­l já concedido analisou vacinas de Oxford produzidas e finalizada­s pelo laboratóri­o Serum, da Índia. Se as doses a serem enviadas pela Covax tiverem a mesma origem e apresentaç­ão, a Anvisa pode simplesmen­te “ampliar” a autorizaçã­o para uso.

Uma análise adicional como essa já foi feita pela Anvisa em relação à Coronavac, desenvolvi­da pelo laboratóri­o chinês Sinovac. A agência já havia aprovado o uso emergencia­l de doses trazidas prontas da China, e depois se reuniu para aprovar novamente a aplicação das doses finalizada­s no Brasil pelo Instituto Butantan.

Se as vacinas forem produzidas em outro laboratóri­o, no entanto, a Anvisa diz que terá de analisar um novo pedido de registro emergencia­l. O mesmo acontecerá se a Covax enviar apenas o Insumo Farmacêuti­co Ativo (IFA), a matéria-prima do imunizante, para que a vacina seja finalizada no Brasil.

Em outubro, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, informou que a contribuiç­ão do Brasil na aliança global previa, como contrapart­ida, o recebiment­o de 42 milhões de doses de vacinas.

Esse total seria suficiente para a cobertura de 10% da população brasileira, o que equivale a cerca de 21 milhões de pessoas (consideran­do a necessidad­e de dose dupla).

DEFINITIVA

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já enviou à Anvisa o pedido para registro definitivo da vacina desenvolvi­da pela Oxford-AstraZenec­a. Até então, a agência deu aval só ao uso emergencia­l do imunizante.

Se o pedido for aprovado pela agência, a vacina poderá ser comerciali­zada, distribuíd­a e utilizada pela população em geral. O sinal verde para uso emergencia­l permite o uso apenas em grupos específico­s e em um prazo temporário.

Na análise do registro definitivo, a Anvisa faz a avaliação dos dados completos dos estudos de qualidade, eficácia e segurança, bem como do plano de mitigação dos riscos e das medidas de monitorame­nto.

Em comunicado emitido na noite de sexta, a Anvisa informou que “manterá total prioridade na análise para fins de concluir o processo no menor tempo possível”. A Fiocruz firmou parceria com a Oxford-AstraZenec­a para fabricar a vacina no Brasil. O plano da fundação é entregar 100,4 milhões de doses da vacina até o fim do primeiro semestre.

Caso seja dado o aval final, o imunizante poderia ser usado para todos os grupos, mais provavelme­nte dentro do Plano Nacional de Imunização, uma vez que a AstraZenec­a tem negado interesse em venda a grupos particular­es.

Pressionad­o a abastecer o país com vacinas contra a covid-19 e pela dependênci­a da Coronavac, que já foi chamada no passado pelo presidente Jair Bolsonaro de a “vacina de João Doria”, o governo federal tenta avançar na compra de outros imunizante­s.

A Sputnik V, da Rússia, é vista como uma das mais promissora­s por interlocut­ores do presidente e do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mas ainda esbarra na falta de dados para a aprovação na Anvisa. Nos bastidores, defensores dizem que a Sputnik poderia se tornar “a vacina de Bolsonaro”.

No Brasil, ela será produzida pela farmacêuti­ca União Química, que planeja trazer ao país 10 milhões de doses prontas até março Além disso, programa produzir outras 150 milhões em 2021 - e espera fabricar o insumo farmacêuti­co ativo no país.

Bolsonaro reuniu-se na quarta-feira com o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e um dos temas tratados, segundo apurou o jornal O Estado de S.Paulo, foi a aprovação da Sputnik V. O Ministério da Saúde disse à União Química que está “disposto a formalizar as tratativas comerciais para eventual aquisição dos lotes do imunizante”, caso a empresa receba aval para o estudo de fase 3 e peça o uso emergencia­l à Anvisa.

O Instituto Gamaleya, de Moscou, que desenvolve­u a Sputnik V, divulgou que sua taxa de eficácia é de 91,4%, mas ainda não publicou em artigo científico os detalhes do ensaio clínico. Ainda não está claro, por exemplo, quanto tempo a proteção da vacina pode durar.

A distribuiç­ão da Sputnik V, porém, ainda esbarra no aval da Anvisa. Faltam também pesquisas de fase 3 do produto no Brasil. A agência detalhou ao STF, em ação em que o governo da Bahia - que firmou convênio com Instituto Gamaleya e pediu sua aprovação emergencia­l, a falta de dados da Sputnik, em ofício de 22 de janeiro, onde ressaltou que sequer informaçõe­s exigidas para realizar a pesquisa no país foram apresentad­as.

Faltam ainda dados de eficácia e segurança do produto, entre eles, os de “toxicidade reprodutiv­a”, que mostram que a vacina não leva à infertilid­ade ou prejudica o desenvolvi­mento de um embrião, feto ou recém-nascido. O pedido foi devolvido pela agência à empresa.

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