Exército prende líderes governistas e toma o poder em Mianmar
GOLPE MILITAR As Forças Armadas de Mianmar - antiga Birmânia, país localizado no sudeste asiático - aplicaram um golpe de Estado ontem, encerrando um período longo de poder dividido entre militares e o governo civil, então liderado pela vencedora do prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi. Líderes governistas, incluindo Kyi, foram presos, enquanto os militares prometem realizar novas eleições dentro de um ano.
O golpe militar ocorreu com a prisão de algumas das principais figuras do governo civil, inclusive o presidente Win Myint, e o decreto de estado de emergência por um ano, com a nomeação de generais para cargos-chave da política nacional.
Os aliados de San Suu Kyi e seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND), passaram décadas na prisão por fazerem oposição política aos militares. Aung San Suu Kyi, a santa padroeira do partido político, passou 15 anos em prisão domiciliar e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991 por sua resistência não violenta à junta militar que a prendeu. Em uma carta publicada pelo seu partido, Suu Kyi pediu que o povo de Mianmar não aceite o golpe de Estado.
Com as prisões, quem assume o governo é o general Myint Swe, que até então era vice-presidente e chefiava o comando militar de Rangum (maior cidade do país) e que agora foi nomeado presidente interino. Mas quem deve assumir o poder de fato é o general Min Aung Hlaing, que terá o controle legislativo, administrativo e judicial.
Há semanas os militares vem denunciando uma suposta fraude nas eleições legislativas realizadas em novembro, em que o LND venceu por larga margem. Na eleição em questão, a sigla obteve 83% das 476 cadeiras do Parlamento. O Exército contestou o resultado e afirmou ter descoberto 10 milhões de casos de fraude durante a votação, exigindo que a comissão eleitoral publicasse listas para verificação, o que não foi feito.
Apesar de ter sido condenado pela comunidade internacional, o golpe não é o primeiro da história de Mianmar. Desde a independência, em 1948, o país teve apenas três presidentes civis e sofreu com décadas de junta militar antes do estabelecimento da democracia, em 2016. Ao todo, os militares governaram o país por quase 50 anos, e aconteceram golpes em 1962 e 1988.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou punir Mianmar e pediu à comunidade internacional que pressione os militares a devolver o poder aos civis. O Conselho de Segurança da ONU realizará hoje uma reunião de emergência sobre a situação no país.
Biden afirmou que, se a democracia não for respeitada, os EUA tomarão as medidas que julgam apropriadas, embora não as tenha detalhado. O governo americano pediu o fim de todas as restrições às telecomunicações e que a violência não seja usada contra civis.