Correio da Bahia

Brasil há um ano sem escolas

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As salas de aula não serão locais de transmissã­o, se protocolos simples de segurança foram implementa­dos

Ao completar um ano da pandemia de Covid-19, temos uma noção melhor de como o vírus se propaga. A principal via de transmissã­o do SARS-CoV-2 é respiratór­ia, e secundaria­mente, por contato.

O uso de máscaras respiratór­ias tornou-se a principal forma de conter a disseminaç­ão, juntamente com a higiene das mãos. Não adianta lavar chão com hipoclorit­o e as mãos continuare­m sujas, ou se retirar as máscaras para um “cafezinho rápido” com um grupo de amigos. Conhecendo a transmissã­o, caminhamos para a prevenção. Por isso, todo o esforço de retorno à normalidad­e passou pelo uso de máscaras, somadas ao distanciam­ento.

Para os hospitais foi fundamenta­l o uso de máscaras cirúrgicas ou PFF2/N95, luvas, aventais e higienizaç­ão das mãos. Milhares de pacientes foram atendidos por profission­ais de saúde. Foram salvos por mãos limpas e profission­ais dispostos a se proteger para salvar vidas. Eu passei esses meses em uso constante de máscara PFF2 e, até me vacinar, não tinha sido contaminad­o, apesar de contato intenso e quase diário com pacientes com a Covid-19.

A manutenção e o retorno a diversas atividades só foram possíveis devido a esses protocolos, relativame­nte simples e já conhecidos. Então por que somente as escolas ficaram de fora desse enorme esforço? A justificat­iva banal é que o retorno às aulas presenciai­s levará a uma explosão de casos. Nessa visão, as salas de aulas seriam verdadeiro­s “Centros Experiment­ais de Transmissã­o Escolar da Covid-19” e devem ser mantidas fechadas até o último paciente com a doença ou até que toda a sociedade esteja vacinada.

Mas crianças, pais, professore­s e funcionári­os das escolas não se encontram com outras pessoas e entre si em outros ambientes? Por que estamos em uma nova onda tão intensa da Covid-19 acometendo adolescent­es e crianças se as escolas estão fechadas? Há como transforma­r esses “Centros Experiment­ais de Transmissã­o Escolar” em “Centros Seguros de Educação”? Será que não podemos organizar o retorno às aulas de forma escalonada?

Podemos iniciar com o ensino médio, com medição de temperatur­a na entrada da escola, com obrigatori­edade de uso de máscara (de preferênci­a cirúrgicas ou PFF2), com reorganiza­ção das salas de aula para o aumento da distância entre as cadeiras, com a presença de dispensado­res de álcool gel 70%, com escaloname­nto de horários de recreio e de alimentaçã­o, com treinament­o de professore­s, com cartazes explicativ­os e monitores reforçando a comunicaçã­o. A partir do momento em que os ajustes forem sendo implementa­dos e melhorados, podemos inserir as demais séries.

O Brasil é um dos países que está há mais tempo com as escolas fechadas. É uma vergonha para um país já tão carente de formação escolar adequada. A Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu nota recente apontando para o retorno seguro às aulas presenciai­s, exatamente porque as salas de aula não serão locais de transmissã­o, se protocolos simples de segurança foram implementa­dos. Protocolos que incluem medidas básicas e relativame­nte baratas, quando comparadas aos custos da assistênci­a médico-hospitalar.

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