Correio da Bahia

Celebração em dose tripla

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O percurso do carro até o mar não foi fácil. Mas, cada metro foi percorrido até que a distância permitisse que as ondas tocassem os pés de Lindaura Maria dos Santos, conhecida como Dona Branca. Não há dúvidas de que o esforço valeu a pena, afinal, reverencia­r Iemanjá é uma tradição mantida há mais de seis décadas pela idosa, que fez 98 anos, ontem, e divide a data com a Rainha do Mar. Todo dia 2 de fevereiro é especial para dona Lindaura e sua família, mas esse ano foi ainda mais marcante por também ter sido a data em que a aniversari­ante do dia tomou sua primeira dose de vacina contra o coronavíru­s.

Enquanto ainda esperava na fila do drive-thru da vacinação no 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris, por integrar o grupo de idosos com 95 anos ou mais, que começaram a ser vacinados ontem, Lindaura contou que tomar a vacina foi o melhor presente que poderia receber. “Foi um presente maravilhos­o que Deus me deu”, afirmou, pouco antes de receber a dose da CoronaVac, às 9h40.

Toda a família se emocionou com o simbolismo da data. Uma das filhas que a acompanhar­am no carro, Jovelina Alcântara, 65, disse que só tem a agradecer pelo presente recebido pela mãe em forma de imunizante. “A gente não via a hora dessa vacina chegar porque isso significa mais tempo da minha mãe com a gente”.

Ficou estampado no rosto de Dona Branca que a agulhada doeu, mas ela ressaltou que é necessário tomar a vacina, além de usar máscara. Contou ainda que a pandemia e os meses de isolamento social a entristece­ram: “Eu fiquei triste por não entender o que estava acontecend­o, mas já estou melhor”, garantiu a devota de Iemanjá. Na família, apenas uma neta pegou o novo coronavíru­s, mas não desenvolve­u os sintomas graves da covid-19.

Sem esconder a empolgação pela data, todos os familiares presentes usavam camisetas com fotos da matriarca. Durante a vacinação, a idosa foi acompanhad­a por três filhas no carro.

A família é extensa, são 11 filhos - um deles já falecido, 20 netos, 24 bisnetos e uma tataraneta, além das noras e genros. De todo esse grupo, nove foram até a praia de Pituaçu para acompanhar a entrega das flores e da alfazema para Iemanjá. Todos usavam máscara.

Os festejos do ano passado reuniram muito mais gente em um restaurant­e da orla para um almoço, mas a comemoraçã­o de 2021 teve que ser restrita. “Para evitar aglomeraçã­o, reduzimos ao máximo o número de pessoas. Alguns nem estariam aqui, mas resolveram vir”, contou Lindaura Filha.

A ida para a praia de Pituaçu aconteceu logo depois da vacinação - por volta de 10h20, a família já estava na orla do bairro se preparando para depositar a oferenda. Uma primeira tentativa de chegar até o mar teve que ser abortada pela dificuldad­e de acesso à areia. Em um ponto da orla um pouco mais para a frente, a idosa chegou ao local desejado depois de contar com a ajuda das filhas e de vendedores ambulantes que a carregaram em uma cadeira durante um trecho.

No rasinho do mar, Dona Branca jogou diversas rosas brancas no oceano em saudação à orixá homenagead­a do dia. A oferenda sempre é entregue na região de Pituaçu porque um dos filhos é salva-vidas e atua no local.

Vacinada e com quase 100 anos, dona Branca quer mais vida e saúde Eu coloco um presente no mar todo o ano pela fé que eu tenho em Deus e em Iemanjá. No futuro, quero sempre continuar entregando flores Lindaura Maria

1 Dez familiares foram com Dona Branca até a orla de Pituaçu para seu ritual de presentear Iemanjá, que já ocorre há seis décadas 2 Antes da ida à praia, no entanto, dona Branca foi até o 5º Centro receber sua dose de vacina 3 Imunizada ,a idosa chegou na beirinha do mar para colocar suas rosas e já pensa na festa que fará em 2022 MARINA HORTÉLIO, COM A ORIENTAÇÃO E A SUPERVISÃO DA SUBCHEFE DE REPORTAGEM MONIQUE LÔBO.

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NARA GENTIL

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