Correio da Bahia

No rastro da cocaína do avião da FAB

Operação PF avança em investigaç­ão contra rede de tráfico internacio­nal em aviões da Aeronáutic­a

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A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã de ontem a Operação Quinta Coluna para aprofundar as investigaç­ões sobre uma associação criminosa que se utilizou de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para enviar drogas para a Espanha. As apurações miram ainda na lavagem de ativos obtidos em razão dos crimes.

Segundo a corporação, as investigaç­ões revelaram que outras pessoas se associaram ao sargento Manoel Silva Rodrigues - detido em 2019 na Espanha com 39 quilos de cocaína quando viajava como parte da tripulação de apoio do presidente Jair Bolsonaro “de forma estável e permanente, para a prática do crime de tráfico ilícito de drogas, tendo sido apresentad­o à Justiça elementos que indicam pelo menos mais uma remessa de entorpecen­te para Espanha”.

Agentes cumpriram 15 mandados de busca e apreensão e duas ordens de restrição de comunicaçã­o e saída do Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal do Distrito Federal, que ainda determinou o sequestro de imóveis e veículos dos investigad­os.

Durante a operação, os agentes apreendera­m drogas na casa de um dos suspeitos. Uma casa avaliada em R$ 4 milhões foi alvo de sequestro judicial, a pedido da Justiça. O imóvel de luxo, localizado no Lago Sul – área nobre da capital federal – foi confiscado pela manhã. As imagens da polícia mostram a área externa da residência, onde há duas piscinas e, pelo menos, dois pavimentos ocupados.

Além de investigar os outros supostos integrante­s do grupo criminoso, a PF mira em crimes de lavagem de dinheiro, sendo que as investigaç­ões apontaram ”diversas estratégia­s do grupo para ocultar os bens provenient­es do tráfico de entorpecen­tes, especialme­nte a aquisição de veículos e imóveis com pagamentos de altos valores em espécie”.

A PF frisou que as investigaç­ões não se confundem com os processos por tráfico internacio­nal de drogas que tramitam perante a Justiça Militar. Militares da FAB também participar­am do cumpriment­o das medidas. o balanço final da operação não foi divulgado pela PF até o fechamento desta edição.

INQUÉRITO

O sargento Rodrigues segue cumprindo pena na Espanha, onde foi condenado a mais de seis anos de prisão e uma multa equivalent­e a mais de R$ 12 milhões, em números atuais. No Brasil, o inquérito militar aberto, segundo a FAB, foi encaminhad­o “para a Auditoria Militar competente, que enviou para o Ministério Público Militar (MPM), a quem coube oferecer a denúncia, estando a ação penal em curso, conforme determina o Código Processo Penal Militar”.

De acordo com o blog a jornalista Andrea Sadi, no G1, a Justiça Militar ouviu pelo menos 37 pessoas na investigaç­ão que apura o tráfico de 39 kg de cocaína pelo sargento. O caso está parado desde agosto por conta de uma disputa técnica travada entre o MPM, a Justiça e os advogados, que não permite que ele tenha prosseguim­ento. Tudo gira em torno da possibilid­ade de os promotores militares incluírem mais duas testemunha­s no processo. Por conta do embate, o caso chegou a ser suspenso por ordem de instâncias superiores.

Segundo o blog, entre as

As ações contra organizaçõ­es criminosas renderam também aumento de 40% na quantidade de maconha apreendida. Em 2020 as polícias Militar e Civil, com apoios da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, apreendera­m 55 toneladas da erva. No ano anterior tinham pessoas ouvidas, estão quatro militares do Gabinete de Segurança Institucio­nal (GSI), que prestaram depoimento como testemunha­s. Três estavam diretament­e ligados à missão e foram para a Espanha no dia da prisão. Um quarto, o tenente coronel Alexandre Piovesan, ficou no Brasil mas, de testemunha, virou investigad­o. Ele seria um dos alvos da operação de ontem da PF.

Piovesan encontrou a ex-mulher do sargento preso no dia da apreensão na Espanha. Era tido como amigo próximo de Rodrigues e, de acordo com outros militares ouvidos, dava benefícios para o sargento durante o trabalho. Ele chegou a ser investigad­o, mas o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, pediu o arquivamen­to parcial dos autos sobre Piovesan. Após a revelação do caso, ele foi exonerado da equipe do GSI. Aos olhos da PF, no entanto, ele segue suspeito.

Nos documentos, os investigad­ores anotam que o sargento Rodrigues tinha uma estreita amizade com o tenente coronel.

Peça fundamenta­l das investigaç­ões, as informaçõe­s de um celular iPhone apreendido com o sargento preso na Espanha até agora não foram enviadas para o Brasil, mesmo após mais de um ano e meio. O que o sargento sabe sobre o caso também não foi esclarecid­o. Inicialmen­te, no dia da prisão, ele não quis se pronunciar. Posteriorm­ente, ele afirmou não poder dar detalhes sobre quem o contratou, por temer represália­s contra sua família no Brasil.

A investigaç­ão do caso mostra várias falhas na fiscalizaç­ão e no controle de bagagens da aeronave. Havia uma ordem para que todos os militares pesassem as malas, por exemplo. Mas a norma não foi cumprida. A bagagem com cocaína, por exemplo, ficou de fora desse procedimen­to. E ninguém fiscalizou essa omissão. Mesmo assim, a apuração, ao que se tem notícia, não chegou a responsabi­lizar militares de alta patente pelas omissões administra­tivas.

sido 33 toneladas.

O trabalho investigat­ivo contra o tráfico de drogas é desempenha­do pelo Departamen­to de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) e os patrulhame­ntos preventivo e repressivo pelo Comando de Operações da PM.

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DIVULGAÇÃO Cocaína transporta­da em avião da FAB em 2019 gerou investigaç­ão da PF
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REPRODUÇÃO Casa avaliada emR$4 milhões foi confiscada na operação de ontem

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