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Esperança Pertinho dos cem anos, eles/as comemoram a vacina e fazem planos para quando a imunidade chegar

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Melhor idade, terceira idade, velhice. São muitos os nomes usados para classifica­r em que etapa da vida estão aquelas pessoas que carregam consigo anos e anos de experiênci­as, histórias, tristezas e alegrias. Para alguns, já seria hora de se acomodar. Mas, para Nelita Pereira, de 93 anos, Delza Soares, de 92, Jonas Araújo, de 91, e Ciçone Fiúza, de 90, ainda é tempo de viver plenamente. A meta é chegar aos 100 e, para isso, a vacina contra a covid-19 está sendo muito bem-vinda.

Em Salvador, a vacinação para os idosos acima dos 90 anos começou no último dia 2 e vai até este domingo (7). A expectativ­a para o início dessa etapa era grande, já que a maior taxa de mortalidad­e por covid-19 vem ocorrendo entre a faixa acima dos 60 anos e, quanto mais a idade avança, mais as porcentage­ns sobem.

Por isso, para Nelita, a vacina que recebeu na quinta-feira foi como um presente. O convite do aniversári­o de 100 anos já foi distribuíd­o desde a festa dos 90 e ela já está pensando no que vai aprontar na próxima. “Você sabe que no dia da festa eu desci na escorregad­eira do parquinho de criança?”, diz ela, rindo.

“Eu sempre digo que a gente não deve sofrer por antecipaçã­o nem alimentar tristeza. Quando estava perto do aniversári­o, uma irmã minha faleceu. A outra irmã queria que eu terminasse com a festa, mas meu neto vinha do Canadá, meu sobrinho vinha de Brasília. A gente sofre, mas a vida continua, nada vai fazer a pessoa voltar”, explica. Nelita já precisou ser internada duas vezes, mas não se abalou. “Estou bem. Bem, não, estou ótima!”, comemora ela.

Ela se orgulha de não sentir dores, de fazer artesanato­s e de ser conhecedor­a das novas tecnologia­s, sabendo usar até o Facebook. Ela participa, há 20 anos, da Faculdade Livre da Maturidade, que tem atividades voltadas para idosos. Agora, tudo que ela quer é poder retomar a rotina animada, curtir os dois filhos, dois netos e três bisnetos e chegar à casa dos 100, claro!

OS DESAFIOS DA PANDEMIA

Jonas também tem sede de viver. Quando fala do alívio que vai sentir ao estar imunizado, os planos estão na ponta da língua: “Eu vou andar por aí, abraçar todo mundo, vou ver minha filha em Mata de São João, vou para Serrinha, minha terra natal, recuperar o tempo que passou. E tomar uma biritazinh­a, né?”, diz ele, rindo.

Jonas gostava de ir até a banca de jornal perto de casa e encontrar os amigos. Todo domingo, era dia do almoço em família. Grande anfitrião, ele sempre descia para a porta do prédio e ficava esperando os convidados chegarem.

Agora, ele conta os dias para ter isso de volta e sabe que, mesmo já tendo recebido a primeira dose, é preciso esperar. “Por enquanto, tem que continuar do mesmo jeito, porque o efeito não é instantâne­o, é demorado. Eu ouvi dizer que só depois da segunda dose que vai ter o efeito total, né?”, diz ele.

Delza também não está achando a pandemia nada fácil. Com seis filhos, 10 netos e 10 bisnetos, a casa vivia sempre cheia. “Só a minha filha que mora no mesmo prédio que entra aqui”, diz.

Ela conta que os filhos queriam levar ela para morar com eles, mas não tiveram sucesso na missão. “Eu gosto de morar sozinha. Se alguém quiser ficar aqui, pode ficar, mas eu não vou para lugar nenhum”, diz ela.

Enquanto espera a imunidade chegar e a pandemia passar, Delza costura em casa e faz planos para o futuro. “Tenho parentes morando em vários lugares da Bahia, tenho que ir ver eles”, conta. Para ela, é preciso aproveitar cada ano que ganha de presente, porque não é todo mundo que tem esse privilégio. “Minha mãe morreu com 42 anos, uma irmã minha morreu com 37. Eram quatro filhos, só ficou eu. Por isso eu achei que não ia passar dos 50. E agora estou aqui, saudável”, comemora.

ESPÍRITO DE JUVENTUDE

Ciçone, quando fala da idade que tem, a resposta vem com um complement­o especial: “90 anos e pretendend­o chegar aos 100! Minha tia morreu com 108 anos e tenho uma prima que está com 103. Aí eu digo ‘por que eu não vou chegar aos 100?’”. Ela vai se vacinar neste domingo e não vê a hora de ver todo mundo imunizado. “Espero que seja tudo bem, que a gente possa sair

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ACERVO PESSOAL Nelita no aniversári­o de 90 anos

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