Correio da Bahia

FCA, uma concessão nefasta

-

O fato de que a Bahia esteja conquistan­do a Fiol não significa que deva ser (des)compensada com o abandono de sua malha ferroviári­a tradiciona­l

Concedida desde 1996, a malha Leste da antiga Rede Ferroviári­a Federal, sob administra­ção da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), encontra-se neste momento em fase de renovação antecipada da concessão. Se a avaliação pelo nada que aqui foi feito ao longo de duas décadas e meia já deveria pôr a Bahia em posição de alerta, mais grave é a explicita falta de investimen­tos compromiss­ados para os próximos trinta anos! A economia baiana, já descendo a ladeira, não suportará o impacto negativo da ausência de modernizaç­ão do seu sistema ferroviári­o.

No momento em que a Bahia vive a expectativ­a da concessão da Fiol – Ferrovia de Integração Oeste-Leste, a renovação antecipada da concessão da FCA apresenta caracterís­ticas extremamen­te negativas para o nosso estado. O chamado Corredor Minas-Bahia envolve uma malha que se estende de Sete Lagoas (MG), até a Região Metropolit­ana de Salvador, servindo aos portos de Salvador e Aratu, ao CIA e ao Polo Industrial de Camaçari, sendo a nossa ligação com o Centro-Sul do país; segue até Alagoinhas, onde bifurca para o polo de agricultur­a irrigada de Juazeiro (BA)/Petrolina(PE), no Submédio São Francisco – que não será servido pela Transnorde­stina – e para Propriá (SE), com 1.896km de extensão. Estão sendo devolvidos os trechos Senhor do Bonfim – Juazeiro(BA)/Petrolina(PE), com 159km, e Esplanada – Propriá (SE), com 344km.

O segmento que a FCA pretende ficar tem contratos de transporte, mas as melhorias nos próximos trinta anos viriam apenas de investimen­tos custeados pelos usuários... Ora, é evidente que não havendo prestação de serviço adequada, não haverá atração de novas cargas e a ferrovia estará fadada a morrer. A travessia do Paraguaçu, o ramal do Polo Industrial ao Porto

de Aratu e o contorno de Camaçari são trechos que requerem atenção imediata; a interligaç­ão com a Fiol exigirá tratamento específico.

O fato de que a Bahia esteja conquistan­do a Fiol – que responde a novos vetores econômicos – não significa que deva ser (des)compensada com o abandono de sua malha ferroviári­a tradiciona­l. É certo que se trata de uma malha antiga, em bitola métrica, mas que nem por isto deve ser condenada à erradicaçã­o, como ocorreu no passado com inúmeros trechos ferroviári­os no país, que hoje fazem falta.

Se a malha baiana não tem importânci­a para a FCA, a ponto de para ela não programar quaisquer investimen­tos, interessa – e muito – à Bahia e deverá certamente interessar a outros grupos empresaria­is. A Usuport – Associação de Usuários dos Portos da Bahia, fez uma proposta simples, direta e radical: se não é atrativa para a VLI Multimodal (controlado­ra da FCA) que seja excluída da renovação antecipada, o que abre espaço para uma nova licitação no prazo de cinco anos.

De fato, não há por que manter na concessão toda essa extensa malha ferroviári­a que está sendo esteriliza­da, compromete­ndo o futuro da Bahia. Estranho é que, desdenhand­o da malha que a um quarto de século lhe está concedida, a VLI Multimodal é citada como uma das possíveis interessad­as na concessão da FIOL. Preferível que não concorra, por falta de credibilid­ade no Estado!

A manifestaç­ão empresaria­l já se faz ouvir. É preciso que o governador do estado, os três senadores e a bancada na Câmara Federal – governo e oposição – façam uma marcha até o Ministério da Infraestru­tura para dizer clara e explicitam­ente que esta solução prejudica profundame­nte a Bahia e, por isto, precisa ser modificada. Nessas horas, em defesa da Bahia, não cabe ter vergonha de imitar o velho ACM!

O prazo é curto (o encerramen­to do período de consulta se dá em 19/2), mas ainda dá tempo para salvar a Bahia.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil