Correio da Bahia

Varejo baiano tem o pior resultado em 4 anos

Pesquisa Vendas no setor recuaram 4,3% no ano passado, informa o IBGE

- Marcela Villar* REPORTAGEM marcela.vilar@redebahia.com.br

O ano de 2020 acabou, mas deixou amargas consequênc­ias no comércio varejista da Bahia. As vendas no setor recuaram 4,3% - a maior queda anual desde 2016, segundo dados divulgados, ontem pelo IBGE. Esse percentual foi o terceiro pior do Brasil, atrás apenas do Ceará e Distrito Federal, que tiveram recuo de 5,8% e 4,9%, respectiva­mente. A realidade da Bahia foi na contramão da do Brasil, onde as vendas cresceram 1,2%.

No mês de dezembro em relação a novembro de 2020, a baixa no comércio baiano também foi de 4,3%. Ao comparar esta taxa à igual mês de 2019, a retração no varejo foi ainda pior: de 6,6%. De acordo com o IBGE, seis dos oito segmentos analisados tiveram queda em 2020. O que mais sofreu em 2020 foi o de livros, jornais, revistas e papelaria, que caiu 41,6%. Em segundo lugar, a categoria que mais apresentou retração nas vendas foi a de vestuário, tecidos e calçados: a queda chegou a 28,8% no ano passado - o pior desde 2001.

As baixas foram mais expressiva­s entre os meses de março a setembro, em função do fechamento do comércio como medida de combate à pandemia do novo coronavíru­s. Para o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze, os resultados são piores do que os esperados. Ele atribui a queda ao fim do auxílio emergencia­l. "A gente esperava que o segundo semestre rendesse mais, mas, o auxílio emergencia­l foi crucial para, pelo menos, não ser um desastre total nas vendas do comércio. Ele deu um gás forte nos meses de agosto e outubro, e, em novembro e em dezembro, essa tendência para baixo mostra claramente o impacto do fim do auxílio”, analisa o economista.

Ele afirma que, por não ter os R$ 600 garantidos em 2021, houve a retração no consumo no mercado. “Em dezembro, as pessoas ficaram receosas com as notícias sobre a segunda onda, houve o fim do auxílio, havia um medo de perder o emprego no ano seguinte, tinham as contas do início do ano para pagar e o crédito não estava tão facilitado assim. Isso tudo leva a uma restrição maior de consumo. As pessoas guardaram dinheiro como se fosse uma poupança”, observa.

QUEDA

A gerente da loja Hering do Shopping Barra, Dionei Silva, de 37 anos, diz que perdeu pelo menos 50% no volume de vendas em 2020, em relação à 2019. “Realmente, teve uma queda absurda e ainda continua, porque a gente está dependendo de um bom resultado da vacina para melhorar as vendas. Agora que o shopping está abrindo mais cedo, possa ser que tenha um fluxo melhor de cliente, mas 2020 foi um ano que tem que ser esquecido”, disse Dionei. Não chegaram a ter demissões na loja, mas suspensões dos contratos de trabalho durante os primeiros meses da pandemia. Em outubro, toda a equipe, de sete pessoas, já estava recontrata­da.

O presidente do Sindicato dos Comerciári­os de Salvador, Renato Ezequiel, diz que os números foram esperados. “O ano de 2020 foi muito agressivo devido à pandemia, com o comércio fechado e com as pessoas se mantendo em casa”, comenta Ezequiel. No entanto, ele discorda que os números tenham sido tão ruins, porque, segundo ele, na mesma proporção que houve queda nas vendas presenciai­s, houve aumento nas vendas pela internet.

“Muita gente comprou pela internet e o e-commerce bombou, vendeu muito. As pessoas não foram na loja comprar, mas compraram online. Além disso, tivemos meses que quase 50 milhões de pessoas não tinha um centavo no bolso e receberam os 600 reais e isso foi investido na economia. Então não justifica esses dados, porque tem que observar esses detalhes, porque a queda das vendas presenciai­s compensou pela internet”.

Foi justamente ao usar a internet como aliada que a empresária Milena Ricarte, 44 anos, conseguiu alavancar as vendas em sua loja de moda feminina, a Ricartte, no Shopping Bela Vista. A aposta foi investir nas redes sociais para trazer os clientes para a loja. “Eu precisava vender mesmo com a loja fechada. Então eu adotei uma estratégia de dar desconto em muitas mercadoria­s e comecei a vestir as roupas da loja, com uma dinâmica diferente, colocando música, dançando, e meu cliente começou a ter simpatia com minha apresentaç­ão. Foi minha virada de chave, eu sofri o efeito inverso”, conta Milena.

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NARA GENTIL Segmento de calçados, vestuário e tecidos acumulou uma queda nas vendas de 28,8% no ano passado, segundo pesquisa do IBGE

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