Cidade do pó: Salvador na mira do tráfico
Cocaína apreendida na capital entre o ano passado e o começo de 2021 já soma mais de sete toneladas
‘Salvador, cidade do pó’. Essa alcunha indesejada foi dada à capital baiana após dois fatos que entraram no noticiário desta semana: primeiro, meia tonelada de cocaína foi encontrada escondida em um avião no aeroporto internacional da capital, na tarde da última terça-feira (09) e depois, cerca de 430 kg da mesma droga foram apreendidos no final da manhã desta quarta-feira, 10, no porto.
Na ação no aeroporto, a droga seria levada para Portugal e foi achada pelos cães farejadores Fuzil e Sonic, da Coordenação de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil. Já no porto de Salvador, a Polícia Federal (PF) localizou a droga durante uma ação de fiscalização em conjunto com a Receita Federal.
Segundo a Polícia Federal informou, no caso do aeroporto da capital, primeiro o piloto fez um alerta de pane durante o voo para Salvador, a partir daí mecânicos inspecionaram a aeronave e acabaram encontrando uma parte da droga. Com o apoio dos cães treinados para a localização de entorpecentes, os policiais civis encontraram o restante da carga de cocaína. Equipes da Polícia Federal acompanharam as buscas no terminal aeroviário.
As porções de cocaína estavam divididas em tabletes que estampavam as marcas de duas grandes empresas de materiais esportivos. Dois passageiros e três tripulantes foram conduzidos para a sede da PF, que ficará responsável pela investigação.
Os responsáveis pelo tráfico poderão ser enquadrados pelos crimes de tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico, previstos nos artigos 33 e 35 da Lei 11.343/2006, cujas penas, somadas, podem chegar a 25 anos de reclusão.
CARGA NO PORTO
A outra apreensão gigantesca ocorreu a pouco mais de 25 km do aeroporto, no Porto de Salvador. Os cerca de 430 kg de cocaína foram apreendidos no final da manhã de ontem. Segundo a PF, a droga foi localizada durante uma ação de fiscalização conjunta com a Receita Federal.
A cocaína, acondicionada em bolsas de nylon, estava escondida em uma carga de suco de abacaxi que tinha como destino a cidade de Valência, na Espanha.
A identificação do produto ilícito foi feita durante fiscalização de rotina à qual geralmente são submetidas as cargas que embarcam e desembarcam no porto. Agora, a PF continua a investigação para descobrir os responsáveis pelo embarque da droga.
Delegado titular da Alfândega de Salvador, o auditor fiscal Fernando Matos explica que uma vantagem geográfica faz com que tantas apreensões de drogas sejam realizadas na capital baiana.
O porto daqui, normalmente, é a última parada de vários navios antes de seguirem viagem para seus destinos finais, em grandes centros europeus ou para localidades na África e Ásia.
"Salvador é um ponto de saída do Brasil. Normalmente é o último ponto que o navio passa antes de deixar o país e dá acesso aos grandes centros consumidores dessas drogas mais caras, de padrão Classe A, como a cocaína. Por isso se torna atrativo", explica o delegado Fernando Matos.
FORÇA-TAREFA
As investigações para apreender esse tipo de carga derivam de uma ação conjunta entre a Receita Federal e a Polícia Federal. Juntas, as duas entidades monitoram cargas surpresa através dos seus serviços de inteligência. Isso envolve fiscalização 24 horas por dia dos depósitos do porto e avaliação de cargas suspeitas antes mesmo delas serem colocadas nos navios.
Essa força-tarefa apreendeu um total de 6.775 tonela10 de fevereiro: 430 kg, com destino ao Porto de Valencia, na Espanha das de cocaína no Porto de Salvador somente em 2020 (confira lista completa ao lado). Com os 430kg apreendidos ontem, o número já chegou a mais de 7 toneladas. No aeroporto de Salvador, não houve apreensões durante todo o ano passado.
OUTRAS CIDADES
Houve, também em 2020, uma apreensão de duas toneladas de cocaína encontradas no dia 19 de junho, numa carga de soja armazenada no Porto de Ilhéus, que seguiria para Bruxelas, na Bélgica
Por conta da quantidade elevadíssima de conteineres transportados por navios de carga, esse trabalho de inteligência é fundamental. Após toda a apuração prévia, os agentes da Polícia Federal vão até o local suspeito para abrir o galpão e fazer os flagrantes.
"A gente precisa selecionar um pequeno número de conteineres e precisamos abrir o certo. É um trabalho de inteligência e monitoramento muito bem feito para surtir esse resultado", explica o delegado.
Após realizar a apreensão, fica a cargo exclusivo da Polícia Federal a apuração da origem da droga e busca pelos responsáveis por fazer toda a operação. Até o fechamento desta edição, às 23h de ontem, a PF não havia dado detalhes das investigações.