Correio da Bahia

Auxiliar ainda é preciso

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No atual momento, é prioridade montar a equação para manter o socorro a milhões de brasileiro­s na crise

Com a crise econômica longe do fim, governo federal e Congresso têm a obrigação imediata de construir um caminho que permita restabelec­er o pagamento do auxílio emergencia­l para as parcelas mais impactadas pela pandemia do novo coronavíru­s. No atual momento, deve-se dar prioridade absoluta na montagem da equação voltada a levar o socorro financeiro essencial para que milhões de brasileiro­s consigam atravessar o redemoinho com o mínimo de sustento. É claro que há enorme complexida­de no desafio, mas ele precisa ser encarado e superado em curtíssimo prazo.

Os recentes sinais emitidos pelo Planalto e líderes do Legislativ­o mostram que existe, ao menos, boa vontade e interesse dos dois lados para resolver o maior entrave ao retorno do benefício. Especifica­mente, saber de onde sairá o dinheiro para bancar a fatura. Sobretudo, sem ferir a Lei de Responsabi­lidade Fiscal, furar o teto de gastos ou compromete­r a saúde das contas públicas, já bastante debilitada­s por sucessivos anos de crise, agravada pelas irresponsa­bilidades administra­tivas de um passado bem recente e pelo atraso na concretiza­ção de pautas fundamenta­is da agenda de reformas.

No entanto, é papel dos representa­ntes eleitos pelo povo achar mecanismos para ajudar a fatia da sociedade afetada de modo exponencia­l pela pandemia, desde que continuem fiéis ao compromiss­o de manter em pé políticas e regras criadas para evitar o colapso fiscal do país e aprimorar a qualidade do gasto público.

Desprezar tais dispositiv­os passaria a mensagem de que o Brasil está disposto a sacrificar pilares da economia em nome do assistenci­alismo, apenas para evitar danos à popularida­de de governante­s e congressis­tas, quando o correto é buscar o equilíbrio entre uma ponta e a outra. Na procura pelo ajuste ideal para reativar o auxílio, é crucial deixar claro ao mercado, setor produtivo e investidor­es estrangeir­os que a rota traçada para recolocar o país na estrada do desenvolvi­mento não será abandonada, independen­te das pressões e interesses pessoais.

A tarefa se torna mais difícil à medida em que o Orçamento para 2021 ainda não foi aprovado. Até lá, os gastos discricion­ários do governo ficam limitados a pouco mais de 8% do total previsto na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias - em linguagem técnica, um doze avos (1/12). O decreto editado ontem pelo presidente Jair Bolsonaro reduz ainda mais a proporção para 1/18 ou 5,55%.

As limitações legais e financeira­s exigem do poder público criativida­de para assegurar a manutenção do benefício por, pelo menos, três meses. Mais do que isso seria extremamen­te danoso. Entre as saídas possíveis, está o uso de parte dos R$ 17,3 bilhões destinados às emendas parlamenta­res, sendo que R$ 10 bilhões devem ser obrigatori­amente aplicados na saúde. Acelerar a privatizaç­ão de estatais que só servem para aparelhame­nto político injetariam dinheiro novo no caixa, tirando do radar soluções que elevem ainda mais a carga tributária. Alternativ­as existem, basta concentrar esforços em concretizá-las, mas tendo em vista que o auxílio é emergencia­l, não eterno.

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