Com UTIs cheias as aulas não voltam
Governador se reúne com prefeitos e secretários e diz não ser a hora da retomada
“Ainda não é a hora de retornar às aulas presenciais”. Mesmo lamentando a decisão, esse foi o posicionamento do governador Rui Costa após uma reunião, por videoconferência, com membros da União dos Municípios da Bahia (UPB), os prefeitos, técnicos das secretarias estaduais da Educação e da Saúde, além de outras autoridades. A reunião aconteceu na noite desta quinta-feira (11) para discutir critérios de volta às atividades presenciais nas escolas de todo o estado.
A reunião deu continuidade a duas outras que foram realizadas nos dias 5 e 8 de fevereiro, nas quais ficou previsto que o retorno acontecerá seguindo um modelo híbrido: as turmas serão divididas em 50%, com aulas em dias alternados. No dia em que o estudante não estiver na escola, ele terá material pedagógico digital e impresso para utilizar em casa.
Rui Costa voltou a defender que as taxas de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e de mortalidade pela covid-19 serão determinantes para a escolha de um momento para o reinício das atividades escolares.
Nesta quinta-feira, segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o estado registrou 47 mortes e 3.253 novos casos de covid-19 em 24 horas. As mortes que constam no boletim de ontem bateram o recorde de maior número de óbitos desde outubro de 2020.
“É importante que nós estamos tendo esse diálogo para formar uma frente única com os municípios. Queremos o retorno das aulas, entendemos que é fundamental para o desenvolvimento de nossos jovens, mas o momento não está fácil. É um problema grave que requer todo o nosso foco antes que possamos pensar num retorno”, disse o governador.
PAIS E ESTUDANTES
Entre pais e estudantes da rede pública estadual, a opinião sobre o retorno ou não das atividades presenciais é dividida. Aluno do colégio Manoel Vitorino, Arthur Santos, 17, diz que a rotina de estudos em formato remoto é complicada e que sente falta de ir à escola, ter contato com colegas, amigos e professores.
Mas, ao mesmo tempo, teme que um retorno no momento atual acarrete situações como as que são registradas em São Paulo, onde 11 escolas públicas paralisaram as atividades temporariamente menos de uma semana após o retorno presencial porque havia focos de covid-19 nas unidades.
Pelo lado dos pais, a empregada doméstica Maria Sousa, 40 anos, aponta que é a favor do retorno porque seu filho de 12 anos, João Pedro, enfrenta dificuldades com o ensino remoto.
"O rendimento dele caiu, ele não se sente bem, tem aprendido menos. Acho que com a volta do presencial ele conseguiria se sair melhor. A gente já vê tudo abrindo, gente na rua, com os protocolos dá para colocar pelo menos algumas vezes com os professores", afirma.
Uma nova reunião será marcada na próxima semana com representantes do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), da Defensoria Pública e do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) para apresentar os dados que já foram discutidos até agora.
AMEAÇA DE GREVE
Os educadores não são a favor do retorno presencial agora. É o que garante o presidente do Sindicato dos Professores da Bahia (APLB), Rui Oliveira.
De acordo com ele, uma pesquisa interna feita com mais de 1300 educadores de todo o estado apontou que 97% deles é contra o retorno. O motivo? preservar vidas.
"Toda semana morre um educador. É preciso pensar que mesmo num modelo híbrido teremos alunos circulando em ônibus, em contato uns com os outros e aumenta a chance de transmissão do vírus", explica Oliveira.
O sindicato é taxativo: numa hipotética liberação antes de vacinar alunos e professores, a ordem é de realizar greve. "Estamos mais perto do fim do túnel do que imaginamos. Queremos trabalhar. Tem sido muito difícil para nós essa adaptação e falta de contato, mas o que precisamos é priorizar as vidas".
De forma remota, as aulas na rede municipal de Salvador serão retomadas no dia 18, afirmou o secretário de educação da capital, Marcelo Oliveira. Para compensar os dias perdidos em 2020, os alunos terão atividades de segunda à sábado. Inicialmente, a modalidade será a remota, pela televisão. A fim de atender todos os 163 mil estudantes da rede, a Secretaria Municipal de Educação ampliará para quatro ou cinco canais de TV para as aulas.
Governador