Correio da Bahia

Realismo na viagem do Navio Pirata BaianaSyst­em lança hoje o álbum OxeAxeExu, que reflete sobre a atualidade

- Laura Fernandes REPORTAGEM laura.fernandes@redebahia.com.br

O figurino de Carnaval 2020 do BaianaSyst­em seria uma roupa de laboratóri­o, mas ideia não se concretizo­u e virou uma premonição sobre o futuro. Símbolo que hoje está associado à pandemia, o traje seria usado para fazer uma provocação sobre o laboratóri­o social que é a folia e seu mar de gente.

Passado um ano, as pessoas foram obrigadas a ficar em casa e o trio Navio Pirata ficou à deriva. Não vai ter live, decidiu o grupo, porque o Carnaval quem faz é o folião e sem a experiênci­a ao vivo a festa não tem sentido, explicam o cantor Russo Passapusso e o guitarrist­a Roberto Barreto. Porém, para não quebrar a tradição, o grupo lança nesta sexta-feira de Carnaval a primeira parte do novo disco OxeAxeExu.

Dividido em três atos, com os outros lançamento­s em março, o álbum abre caminho para uma nova travessia, dessa vez virtual. O primeiro disco, composto por sete músicas, leva o nome de Navio Pirata. A música de abertura, Reza Forte, reforça em sua letra que só mesmo “folha de arruda, pé de coelho e sal grosso” para atravessar esses mares agitados.

O Navio Pirata volta a navegar na sextafeira de Carnaval. Foi a única maneira que a gente entendeu que conseguiri­a comunicar algo, mesmo que virtualmen­te Roberto Barreto

PARADA BRUSCA

“A gente estava na energia do álbum O Futuro Não Demora, com tudo acontecend­o, e de repente parou. Foi um choque absurdo. A gente ia fazer show com Gil em Londres”, lembra Russo, sobre o sucesso do grupo no ano em que chegou a ser questionad­o sobre o tamanho e a segurança de sua pipoca. “Da última vez, foi impression­ante esse mar de gente”, relembra Beto.

Como uma premonição do que estava por vir, o Navio Pirata ficou à deriva pela primeira vez na festa do ano passado e parou, literalmen­te, em Ondina. Agora que está começando mais um Carnaval, o grupo revive a memória do que passou e volta a ser questionad­o com a frase clássica: “Como serão os futuros carnavais?”. Russo e Beto não sabem a resposta, mas entendem que é a oportunida­de de viver algo novo.

“O Carnaval deu um vácuo na gente. Vai ser muito interessan­te para as pessoas verem o Baiana, que tem uma interação e uma vivência tão forte com esse laboratóri­o social, apresentar esse trabalho”, destaca Russo, sobre a experiênci­a inversa de criar primeiro um disco e só depois apresentá-lo ao vivo.

Como a folia momesca só faz sentido “quando existe a experiênci­a” em si, na opinião de Beto, o novo álbum será lançado agora. “Por isso que o Navio Pirata volta a navegar na sexta-feira de Carnaval. Foi a única maneira que a gente entendeu que conseguiri­a comunicar algo, mesmo que virtualmen­te”, resume o guitarrist­a.

TANZÂNIA

Quando se tocou que a conexão virtual fortalecid­a com a pandemia permitia o contato com qualquer lugar do mundo, Russo pensou “por que não a Tanzânia?”. Foi o que o Baiana fez: entrou em contato com artistas do país que fica no leste da África e os trouxe para o novo disco produzido por Daniel Ganjaman. Estão lá o cantor Makaveli e o DJ Jay Mitta, ambos da cidade de Dar es Salaam.

Além deles, OxeAxeExu conta com a participaç­ão do rapper BNegão, da cantora Céu e de Dona Ritinha, rezadeira do sertão da Paraíba. “A gente estava, em tempo real, mandando imagens, trocando emoções e falando com eles. Então, esse navio imagético ficou fazendo essa travessia constantem­ente para dizer, hoje, que nosso Carnaval é essa mensagem na garrafa”, explica Beto.

A capa de OxeAxeExu já começa com a ideia de “luto e luta”, em uma bandeira preta feita por Cartaxo a partir da obra The New Brazilian Flag #2, do artista Raul Mourão. Ao contrário de O Futuro Não Demora (2019), mais esperanços­o, no novo trabalho impera a realidade, o simbolismo e a “a força de tudo o que estava acontecend­o”.

“Não queremos fazer um trabalho fora da realidade, principalm­ente nesse momento”, justifica Russo. Portanto, na impossibil­idade de aglomerar e na ausência de uma live, os fãs podem escutar o disco que está sendo feito em tempo real. A segunda parte ainda está sendo gravada. “Vamos continuar lembrando do calor humano. Foi o material emocional que moveu a gente”, arremata.

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CARTAXO/DIVULGAÇÃO A mensagem do novo álbum do Baiana é a troca de informaçõe­s e a reflexão sobre o paradeiro da pandemia
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