Correio da Bahia

CIRCUITO VAZIO, VARANDA CHEIA!

SEM FOLIA NAS RUAS, VARANDAS DE SALVADOR VIRAM PALCO DE SHOWS SURPRESA NO CARNAVAL

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No início da pandemia, os baianos descobrira­m uma nova forma de se comunicar com os vizinhos, de longe: bastava chegar na janela e berrar “Eu falei faraó!”, que a resposta imediatame­nte viria com um “Ê, faraó!”. Mas o líder do Egito decidiu compartilh­ar seu trono e, ontem, diversos outros artistas puderam tocar seus hits nas varandas, sacadas e terraços de prédios de Salvador, conquistan­do tantos súditos quanto o próprio Tutancamon. Além de Margareth Menezes, dona do primeiro viral de varanda, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Olodum, Larissa Luz, Banda Eva e Banda Didá também se apresentar­am em diversos locais de Salvador, como parte do “Carnavaran­da Tropical”, organizado pela cerveja Devassa.

As apresentaç­ões acontecera­m de surpresa nos locais, mas os moradores já desconfiav­am de que algo estava por vir desde o último sábado, quando começou um movimento estranho de carga e descarga.

A estudante Mirna Fonseca, 43 anos, moradora do Horto Florestal, resolveu investigar melhor e descobriu do que se tratava. Faltava apenas saber qual artista se apresentar­ia em seu prédio. Por isso, ontem ela desceu logo cedo, armando uma tocaia na garagem do edifício. Qualquer pessoa que chegava, a estudante perguntava se tinha alguma relação com a apresentaç­ão. A revelação veio da melhor maneira possível: enquanto aguardava na garagem, viu Ivete sair do carro e acenar. Mirna subiu correndo e, ao chegar no playground, começou a gritar para a mãe e filha que lá a aguardavam. “É Ivete, é Ivete”, repetia aos berros. ‘Mainha’ foi a artista responsáve­l por dar a largada Carnavaran­da Tropical, às 15h30 de ontem.

Da cobertura do edifício, para alegria de Mirna e da galera nas varandas dos prédios vizinhos, Ivetona tocou sucessos como O Mundo Vai, música do Carnaval passado, e Tá Solteira Mas Não Tá Sozinha - feita em parceria com Harmonia do Samba e favorita ao mesmo prêmio neste ano. Ivete se emocionou durante a apresentaç­ão, chegando a chorar em alguns momentos. “Ano que vem a gente se encontra, estou com saudades”, disse ao público. Ela também elogiou a iniciativa de fazer esse show à distância. “Foi uma grande ‘sacada’”, disse, fazendo um trocadilho.

O show foi curto, durou apenas 20 minutos. Após o final, Mirna voltou para a garagem à espera da musa. A luta valeu a pena e ela conseguiu tirar uma foto de Veveta entrando no carro. “Sempre quis conhecer Ivete e hoje tive essa oportunida­de. Ela foi super simpática e o show foi maravilhos­o. As varandas estavam cheias, com todo mundo feliz e se divertindo. Foi um pequeno Carnaval, feito com muito carinho”, relata a moradora do Horto Florestal.

Logo após o prédio de Mirta, foi a vez de Brotas ter seu show, comandado pela Banda Eva. Prédios do Corredor

da Vitória, Comércio, Itaigara, Jardim Apipema, Rio Vermelho, Imbuí e Le Parc também sediaram apresentaç­ões.

CIRCUITOS VAZIOS

Enquanto as festas aconteciam nas varandas, os tradiciona­is circuitos da folia ficaram vazios. O maior movimento foi registrado na Barra, mas nada atípico para um domingo de verão. Policiais e guardas civis faziam rondas para evitar aglomeraçõ­es, enquanto o povo se concentrav­a nos bares.

‘Comer água’ também foi o principal programa para quem foi ao Pelourinho, lar do circuito Batatinha. Enquanto as ruas estavam sem grande movimento, o ‘Cravinho’, famoso bar da região, tinha até fila na porta para pegar a bebida. Às moscas mesmo só o Campo Grande, onde havia apenas dois homens colocando a base e fingindo pular carnaval colado na corda.

Ano que vem a gente se encontra, estou com saudades. Isso foi uma grande sacada! Ivete Sangalo

Fazendo um trocadilho com o fato de fazer um show surpresa na ’sacada’ de um prédio, ontem. A apresentaç­ão envolveu outros artistas baianos, que se espalharam pelas varandas da cidade

 ?? DIVULGAÇÃO ?? Cacique Brown fez a alegria dos foliões, que trocaram os circuitos pela janela de casa, por conta da pandemia
DIVULGAÇÃO Cacique Brown fez a alegria dos foliões, que trocaram os circuitos pela janela de casa, por conta da pandemia

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