Correio da Bahia

Rede de saúde perto do colapso

Pandemia Bahia tem 9 hospitais com 100% dos leitos ocupados para pacientes com covid-19

- Carolina Cerqueira* REPORTAGEM carolina.cerqueira@redebahia.com.br

Com a aceleração da pandemia e o aumento do número de internaçõe­s e mortes, nove hospitais da Bahia, espalhados por diversas regiões, inclusive na capital, registram 100% de ocupação dos leitos para tratamento da covid. O cenário é de preocupaçã­o entre os profission­ais de saúde e gestores do estado e dos municípios. No último sábado, durante inauguraçã­o de obras em Entre Rios, o governador Rui Costa alertou para o risco de colapso no sistema de saúde do estado.

As unidades sem vagas, na Bahia, são: Hospital de Campanha Covid19 Itaigara Memorial/Salvador (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital do Subúrbio/Salvador (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Geral Clériston Andrade/Feira de Santana (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Santa Helena/Camaçari (100% de ocupação de leitos de UTI adulto), Hospital Regional Dantas Bião/Alagoinhas (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Regional Costa do Cacau/em Ilhéus (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Calixto Midlej Filho/Itabuna (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Manoel Novaes/Itabuna (100% de ocupação de leitos de UTI pediátrica) e o Hospital São Vicente/Jequié(100% de ocupação de leitos de UTI adulto).

O boletim epidemioló­gico, divulgado ontem pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), mostra que, em todo o estado, 64% dos leitos destinados para pacientes com a covid estão ocupados. Em relação à ocupação de leitos de UTI, o número chega a 71%. A Bahia já contabiliz­a 629.849 casos confirmado­s da doença, 15.392 casos ativos e 10.735 óbitos. Somente ontem, 2.584 casos foram registrado­s e 61 óbitos.

A Sesab informou que, na última semana, os números mostram uma tendência de cresciment­o dos óbitos e de quadros clínicos mais graves, o que tem ampliado a taxa de ocupação nas UTIs. “Neste cenário, o governo abriu novos leitos de UTI nos municípios de Camaçari, Seabra e Barra nos últimos dias e estão previstas ampliações nas cidades de Ilhéus e Porto Seguro, em um esforço para reduzir a pressão na rede”, diz o boletim.

No último sábado, o governador Rui Costa alertou para risco de colapso. Segundo ele, a Bahia está hoje com níveis de transmissã­o iguais aos de agosto de 2020, quando os casos ainda cresciam. A média de pacientes para serem regulados nas unidades de saúde, que alternava entre 30 e 40 na Bahia, chegou a 83.

"Se continuar esse ritmo de cresciment­o da doença na Bahia, em duas ou três semanas nós podemos estar pior do que estávamos em julho do ano passado e corremos o risco de ter colapso no sistema de saúde, o que, em nenhum momento nós tivemos desde o início da pandemia", disse.

O governador fez um pedido para que as pessoas não deixem de usar máscara, de higienizar as mãos e de ter distanciam­ento social. "Fica o meu apelo a você. E se tiver algum sintoma, não acredite no presidente da República. Não é uma gripezinha, a doença mata", enfatizou.

DESGASTE

De acordo com a médica Ana Rita Freire, presidente do sindicato dos médicos do estado da Bahia (Sindimed), o número de pacientes atendidos e internados vem crescendo desde novembro de 2020, quando teve uma queda significat­iva.

“Em setembro, outubro e novembro, nós ficamos bem animados porque a gente reduziu muito os números e, tanto na rede pública quanto privada, foram desmobiliz­adas alas dedicadas à covid e hospitais de campanha. Mas foi uma esperança que não se cxconcreti­zou e existe uma sensação de frustração. Hoje, a gente já percebe uma reversão disso. Um dos hospitais em que eu trabalho, já começa a fazer um sistema de contingenc­iamento de cirurgias eletivas, justamente para que não haja um colapso do sistema”, explica Ana Rita.

Ela ressalta que, além do maior número de casos de covid, há o risco de ainda mais peso ser colocado sobre o sistema de saúde por conta dos atendiment­os de outras doenças que deixaram de ser feitos em 2020 por causa da pandemia.

“É o somatório de pacientes que estão sendo internados e operados por doenças que não podem mais esperar, porque já esperou quase um ano, e também pacientes dessa nova onda de contaminaç­ão de covid. Existe uma apreensão entre a classe médica de que ocorra uma exaustão do sistema, mas a gente torce para que não”, pontua ela.

Mesmo com a vacina já sendo aplicada, a luz no fim do túnel ainda parece longe. “Em 2020, era uma doença nova, desconheci­da, a gente não sabia o que fazer, o que funcionava. Hoje, temos vacina e uma experiênci­a maior. Mas também, por surpresa, temos um desdobrame­nto dessa doença já em crianças, com quadros gastrointe­stinais e até cardiológi­cos já sendo acompanhad­os”, diz Ana Rita.

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