Rede de saúde perto do colapso
Pandemia Bahia tem 9 hospitais com 100% dos leitos ocupados para pacientes com covid-19
Com a aceleração da pandemia e o aumento do número de internações e mortes, nove hospitais da Bahia, espalhados por diversas regiões, inclusive na capital, registram 100% de ocupação dos leitos para tratamento da covid. O cenário é de preocupação entre os profissionais de saúde e gestores do estado e dos municípios. No último sábado, durante inauguração de obras em Entre Rios, o governador Rui Costa alertou para o risco de colapso no sistema de saúde do estado.
As unidades sem vagas, na Bahia, são: Hospital de Campanha Covid19 Itaigara Memorial/Salvador (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital do Subúrbio/Salvador (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Geral Clériston Andrade/Feira de Santana (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Santa Helena/Camaçari (100% de ocupação de leitos de UTI adulto), Hospital Regional Dantas Bião/Alagoinhas (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Regional Costa do Cacau/em Ilhéus (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Calixto Midlej Filho/Itabuna (100% de ocupação de leitos clínicos), Hospital Manoel Novaes/Itabuna (100% de ocupação de leitos de UTI pediátrica) e o Hospital São Vicente/Jequié(100% de ocupação de leitos de UTI adulto).
O boletim epidemiológico, divulgado ontem pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), mostra que, em todo o estado, 64% dos leitos destinados para pacientes com a covid estão ocupados. Em relação à ocupação de leitos de UTI, o número chega a 71%. A Bahia já contabiliza 629.849 casos confirmados da doença, 15.392 casos ativos e 10.735 óbitos. Somente ontem, 2.584 casos foram registrados e 61 óbitos.
A Sesab informou que, na última semana, os números mostram uma tendência de crescimento dos óbitos e de quadros clínicos mais graves, o que tem ampliado a taxa de ocupação nas UTIs. “Neste cenário, o governo abriu novos leitos de UTI nos municípios de Camaçari, Seabra e Barra nos últimos dias e estão previstas ampliações nas cidades de Ilhéus e Porto Seguro, em um esforço para reduzir a pressão na rede”, diz o boletim.
No último sábado, o governador Rui Costa alertou para risco de colapso. Segundo ele, a Bahia está hoje com níveis de transmissão iguais aos de agosto de 2020, quando os casos ainda cresciam. A média de pacientes para serem regulados nas unidades de saúde, que alternava entre 30 e 40 na Bahia, chegou a 83.
"Se continuar esse ritmo de crescimento da doença na Bahia, em duas ou três semanas nós podemos estar pior do que estávamos em julho do ano passado e corremos o risco de ter colapso no sistema de saúde, o que, em nenhum momento nós tivemos desde o início da pandemia", disse.
O governador fez um pedido para que as pessoas não deixem de usar máscara, de higienizar as mãos e de ter distanciamento social. "Fica o meu apelo a você. E se tiver algum sintoma, não acredite no presidente da República. Não é uma gripezinha, a doença mata", enfatizou.
DESGASTE
De acordo com a médica Ana Rita Freire, presidente do sindicato dos médicos do estado da Bahia (Sindimed), o número de pacientes atendidos e internados vem crescendo desde novembro de 2020, quando teve uma queda significativa.
“Em setembro, outubro e novembro, nós ficamos bem animados porque a gente reduziu muito os números e, tanto na rede pública quanto privada, foram desmobilizadas alas dedicadas à covid e hospitais de campanha. Mas foi uma esperança que não se cxconcretizou e existe uma sensação de frustração. Hoje, a gente já percebe uma reversão disso. Um dos hospitais em que eu trabalho, já começa a fazer um sistema de contingenciamento de cirurgias eletivas, justamente para que não haja um colapso do sistema”, explica Ana Rita.
Ela ressalta que, além do maior número de casos de covid, há o risco de ainda mais peso ser colocado sobre o sistema de saúde por conta dos atendimentos de outras doenças que deixaram de ser feitos em 2020 por causa da pandemia.
“É o somatório de pacientes que estão sendo internados e operados por doenças que não podem mais esperar, porque já esperou quase um ano, e também pacientes dessa nova onda de contaminação de covid. Existe uma apreensão entre a classe médica de que ocorra uma exaustão do sistema, mas a gente torce para que não”, pontua ela.
Mesmo com a vacina já sendo aplicada, a luz no fim do túnel ainda parece longe. “Em 2020, era uma doença nova, desconhecida, a gente não sabia o que fazer, o que funcionava. Hoje, temos vacina e uma experiência maior. Mas também, por surpresa, temos um desdobramento dessa doença já em crianças, com quadros gastrointestinais e até cardiológicos já sendo acompanhados”, diz Ana Rita.