INTERESSES PLURAIS
Afinal se fez justiça. Marcos de Lontra Costa e Hélio Marcio Dias Ferreira são os curadores da exposição Ivan Serpa: A Expressão do Concreto. Este artista é um dos maiores nomes da arte brasileira. Serpa era complexo e ficou muito tempo no ostracismo. O tempo como se diz popularmente – “é o senhor da razão”. A retrospectiva está no Centro Cultural Banco do Brasil – Centro – Rio de Janeiro até o final de abril.
Uma das dificuldades era que Serpa não tinha coerência artística. Era cobrado pela crítica dos anos 1960 e 1970, que tinha grande prestígio na época, faziam e desfaziam carreiras. Serpa nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e faleceu também no Rio, aos 50 anos. Seu início de carreira começou em 1947. Participou da Iº Bienal de São Paulo e recebeu o Prêmio Jovem Pintor Nacional em 1951. Ano seguinte, ministrou cursos de pintura para crianças. Em 1953, participa da Iº Exposição Nacional de Arte Abstrata em Petrópolis.
No ano seguinte, cria o Grupo Frente assumindo sua liderança, e foi um marco no movimento construtivo das artes plásticas brasileiras. Entre os seus seguidores estão Hélio Oiticica, Ferreira Gullar, OliveiraBastos,TerezaAragão,AluísioCarvão,DécioVieira, Rubem Ludolf, Frans Weissamann e Abraham Palatnik, todos os nomes luminares da arte brasileira. A única condição para participar do grupo, segundo Serpa, “era romper com as fórmulas da velha academia, dispondo-se a questionar a arte e caminhar pelos próprios pés”. Uma curiosidade, a artista “naif” Elisa Martins da Silveira fazia parte do grupo. O lema era “liberdade de experimentações”.
Ivan Serpa era pintor, desenhista, gravador e professor de francês. Sua carreira oscilou entre o figurativismo e a arte concreta. Fazia as duas vertentes e entre elas incluia a pop art, expressionismo, textura de corrosões, colagens, bico de pena, uma multiplicidade de temas, suportes, técnicas e assuntos.
O fato mais importante era que Serpa sempre esteve na dianteira das artes. Participou de varias Bienais de São Paulo, além de Veneza 1952,1954, 1962 e Zurique 1960 quando foi premiado. Foi restaurador de obras raras em papel na Biblioteca Nacional, criou uma técnica numa máquina que fortalecia papéis fragilizados, professor de crianças e adultos. Serpa compreendia estilos muitos distintos, tinha uma linguagem internacional. Em sua fase Negra, a mais valorizada, mostrava figuras contorcidas e sombrias, refletindo a agonia e outras crises humanitárias dos anos 1960.
O que se pode dizer deste artista poderoso e criativo como coerência é a obsessão pelas artes visuais, que atravessou sua curta carreira.