Correio da Bahia

CARNAVAL É AMOR

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Uma das inspiraçõe­s de nosso Carnaval é o amor, é verdade que a festa se originou na Europa como saturnal, festa da carne, mas quem disse que a carne não ama? Amar, ou buscar o amor, desde sempre foi o espírito do Carnaval. É conversa fiada essa coisa de brincar o Carnaval porque gosta de dançar, dançar sozinho, ainda que compatível com o mantra “eu me amo e isso basta” que a literatura e os conselheir­os de auto-ajuda estimulara­m neste século para fortalecer a nossa autoestima.

Desde cedo o Carnaval da Bahia assumiu símbolos do amor, inclusive do amor de corno. O triângulo amoroso da Colombina com seu amor dividido entre o Pierrot e o Arlequim, legado da Commedia Dell’Arte do teatro renascenti­sta, foi o tema de Armando de Sá e Miguel Brito no hino oficial do Carnaval: “Colombina eu te amei/Mas você não quis/Eu fui para você/Um Pierrot feliz” e, na sequência, o amor dividido com um anônimo Arlequim: “Os confetes dourados /Que alguém te atirou / Não fui eu quem jogou / Não fui eu quem jogou”.

Maria Bethania caprichou na interpreta­ção do clássico de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres: “Um pierrô apaixonado/Que vivia só cantando/Por causa de uma Colombina/Acabou chorando, acabou chorando...”. Legado de amor na música e, também, nos gestos. Usamos os confetes e as serpentina­s para atrair a atenção dos outros, um abre alas da paquera como foi por décadas o lança-perfume. Jogava-se um cheirinho no cangote, ou na orelha, assim meio distraído para disfarçar, mas, nem tanto que deixasse passar desaperceb­ida a intenção.

O lança-perfume foi a evolução das laranjinha­s de cera contendo água que jogávamos nos tempos do entrudo. Brincadeir­a com viés amoroso, quebrava a sisudez dos rigorosos costumes vitorianos com suas barreiras morais. Facilitava a aproximaçã­o. Na Bahia, inventamos as pranchas de bonde com foliões sob trilhos. O romantismo foi nossa inspiração e por isso as denominamo­s de: “Setas de cupido”, “Buquê de Rosas”, “Flores em botão”, “Mocidade das flores”, “Cantando e rindo”, “Felizes borboletas”.

Os sambistas e os cantores de MPB e de trio resgataram o amor: Caymmi: “Lucila, meu bem Lucila/Vamos pra farra/Enquanto seu pai cochila”; Walmir Lima: “Tó, estou na gandaia/ com peito cheio de amor e para dar”; Ederaldo Gentil: “Vêm, meu grande amor/vem, que o Corujas chegou”; Caetano: “A gente se olha/se beija se molha/de chuva, suor e cerveja”; Moraes Moreira e Dodó & Osmar: “Pombo Correio/Voa depressa/E esta carta leva/Para meu amor”; Pierre Onassis: “Ai, se não me desse/o seu amor/o que seria de mim Deus meu/O que seria de mim”; vocalistas do Eva: “Sou Adão e você será/Minha pequena Eva, Eva/O nosso amor na última astronave, Eva”.

Dinha: “Não dá para esconder/o que eu sinto por você, Ara/Não dá, não dá, não dá”; Waltinho Queiroz: “Pula meu irmão/brinca meu amor/que eu lhe conto um segredo”; Ricardo Chaves: “Há tanto tempo que eu te quero de meu lado/Nossos caminhos não haviam se cruzado/Meu coração bate mais forte na emoção de ter você para mim”; Bell Marques: “Ai, se a saudade apertar/Venha pra cá pro meu coração/Ai, se quiser me encontrar/Eu vou brincar no Camaleão”; Ivete Sangalo: ”Nasci para te amar/e não para chorar/de tanta saudade amor/Não quero partir/não posso ficar/então me diga onde eu vou”.

O amor expresso na denominaçã­o de dois blocos de grade acolhida, cada um no seu tempo: Simpatia Quase Amor e Cheiro de Amor com suas rosas distribuíd­as às mulheres no percurso e, do alto do trio, a água perfumada borrifada nos foliões.

Desde cedo o Carnaval da Bahia assumiu símbolos do amor, inclusive do amor de corno

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