Correio da Bahia

Educação Com crise sanitária, instituiçõ­es particular­es perdem até 25% dos estudantes

- Daniel Aloisio* REPORTAGEM daniel.santos@redebahia.com.br

As faculdades particular­es de Salvador estão matriculan­do menos alunos em 2021. A queda é de 25% em comparação com o início do ano passado, segundo levantamen­to da Associação Baiana de Mantenedor­as do Ensino Superior (Abames). A crise financeira gerada pela pandemia, o atraso no calendário acadêmico de escolas de ensino médio e a ausência de políticas de financiame­nto estudantil são apontadas como as principais causas da redução.

“Os indicadore­s apontam que não houve só alunos perdidos, mas também a falta de novos estudantes. As pessoas estão sem renda, sem perspectiv­a, e há o pânico gerado pela pandemia”, disse o presidente da associação, Carlos Joel, reitor do Centro Universitá­rio Unirb, onde também foi observada a diminuição de matrículas. “Eu posso falar de forma direta do nosso caso: houve queda em 25% no número de matrículas e isso tem sido a média das outras instituiçõ­es”, afirma o dirigente.

O número exato de alunos matriculad­os em 2021 nas faculdades privadas ainda não foi fechado, já que a admissão de novos estudantes pode seguir até março, de acordo com o calendário acadêmico. No entanto, essa redução já é sentida em fevereiro.

“As faculdades estão tentando ao máximo negociar, enxugar mensalidad­e e dar melhores condições de pagamento. Mas mesmo com todas as tentativas, o panorama permaneceu. Há uma necessidad­e de políticas públicas que ajudem a lidar com esse problema”, defende Joel.

Essa queda no número de alunos acontece num momento que o mercado de educação superior privado da Bahia estava em alta, com um cresciment­o a uma taxa média anual de 3,9% em 2019, segundo a Abames. Nessa época, cerca de 338 mil pessoas estavam matriculad­as em algum curso de nível superior, segundo o Inep.

O CORREIO entrou em contato com outras 11 instituiçõ­es de ensino superior para comentar o dado: UniFTC, Unime,

Unopar, Pitágoras, Unifacs, Area 1, UniRuy, Unisba, 2 de Julho, Unijorge e a Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Dessas, somente a Faculdade 2 de Julho (F2J) respondeu. Lá, o número de matriculas realizadas em 2021 ainda não foi fechado, mas durante 2020 houve uma evasão de 50% dos alunos.

Para lidar com esse problema, a F2J instituiu inúmeras campanhas para negociação de dívidas com descontos que chegaram a 50% do valor das parcelas da semestrali­dade. De acordo com o diretor Marcos Baruch, cada caso está sendo avaliado individual­mente, buscando as melhores soluções. "Reconhecem­os as dificuldad­es enfrentada­s pelas famílias nesse momento, por isso mesmo, nossos esforços estão voltados para garantir a formação dos estudantes da melhor forma possível sem compromete­r a viabilidad­e da instituiçã­o", completa.

EXEMPLOS

Quando a estudante Maria Antonia Motta tinha 17 anos e escolheu entrar na Faculdade Baiana de Direito, não imaginava que iria enfrentar no meio da graduação uma pandemia. A adaptação às aulas a distância não foi fácil e, segundo a jovem, a insistênci­a da instituiçã­o em não reduzir o valor da mensalidad­e contribuiu para que ela trancasse o curso de Direito.

“Eu tranquei na expectativ­a da vacina chegar logo ou de retornar as aulas presenciai­s. Também fiquei trabalhand­o numa lojinha de acessórios. Quero retornar, mas quando a pandemia passar. Eu acho que sem pandemia será o cenário o ideal”, disse a jovem de 20 anos, que parou o curso no quinto semestre.

“Foi difícil desenvolve­r uma rotina dentro de casa no meio de todo esse caos. Tem gente que consegue, eu admiro, mas cada um tem seu ritmo. Essa pausa está sendo importante”, justifica.

A mesma dificuldad­e em se adaptar ao EAD foi o fator levado em conta pelo estudante Breno Reis Caldas, 22 anos, em trancar seu curso de engenharia elétrica no Centro Universitá­rio Estácio da Bahia. “Eu entrei na faculdade em 2020, cheguei a ter um mês de aula presencial e a pandemia parou tudo. Concluí o primeiro semestre, mas o segundo foi mais complicado. Não consegui me adaptar ao formato EAD e preferi trancar para quando voltasse o presencial”, conta. A saída para o rapaz não ficar parado foi investir em um curso técnico de eletromecâ­nica.

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