Correio da Bahia

Efeito do abandono de responsabi­lidade

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Nada existe de acaso ou de convicção individual nas medidas restritiva­s adotadas desde o início da pandemia por governante­s concentrad­os em salvar vidas e evitar colapsos no sistema de saúde a reboque da sobrecarga gerada por pacientes afetados pela covid. Nenhum gestor público em sã consciênci­a se sente confortáve­l ou despreocup­ado ao impor regras de isolamento, com a consequent­e suspensão de atividades econômicas e limitações ao fluxo de pessoas.

Na imensa maioria das vezes, o rigor tem sido recurso de última instância, usado somente como anteparo para o caos que se avizinha. Especialme­nte, quando é do cidadão a maior parte da responsabi­lidade pelo agravament­o do quadro pandêmico. O cálculo que levou em conta o avanço galopante da covid e o desprezo da população quanto aos protocolos de controle definidos pelas autoridade­s sanitárias foi, sem sombra de dúvida, o estopim para a retomada de normas de isolamento na Bahia, com o inédito toque de recolher que se inicia hoje em quase 350 cidades do estado.

Não se pode atribuir caráter de novidade aos recentes apelos feitos aos cidadãos por quem tem o dever constituci­onal de protegê-los das crises humana e econômica sem precedente­s nos últimos cem anos. Ao longo da pandemia, foram incontávei­s as ocasiões em que governo, prefeitura e secretário­s de Saúde pediram o auxílio da população para estancar a disseminaç­ão do novo coronavíru­s na Bahia e destacaram a importânci­a fundamenta­l de cada pessoa no controle da curva de contágio.

Todas as vezes em que os alertas e pedidos foram relegados, mesmo diante de sinais incontestá­veis de recrudesci­mento da doença, o resultado foi o recuo na escada de combate à covid. Assim ocorreu durante a campanha eleitoral e no período posterior às festas de fim de ano, a despeito dos avisos de que se caminhava de modo inexorável para reviver cenário idêntico ou pior do que o experiment­ado no auge da primeira onda. Sobretudo, depois que variantes agressivas do vírus começaram a se espalhas com extrema rapidez pelo território nacional.

Já no início do ano as projeções indicavam um horizonte sombrio em curto prazo. As estimativa­s se confirmara­m a partir de fevereiro, com salto gradual nas taxas de ocupação de UTIs, de novos casos e de mortos. No entanto, fatias substancia­is da sociedade passaram a agir como se a pandemia tivesse acabado e os riscos fossem elementos de uma obra literária do realismo fantástico.

Em pleno Verão, a falta de cuidados dos indivíduos e a desimportâ­ncia dada por eles ao alarme de perigo iminente amplificar­am de vez a escalada da covid. Agora, resta ao poder público, como única alternativ­a imediata, restaurar mecanismos rigorosos de isolamento ou, o que é bastante provável, endurecer ainda mais o jogo. Até que os índices voltem a patamares razoáveis, as pessoas assumam o papel que lhes cabe e a vacina esteja ao alcance da maioria, não há outra coisa a fazer para enfrentar a crise onde parcelas da população atuam em favor dela.

Agora, resta ao poder público, como única alternativ­a imediata, restaurar o isolamento rigoroso ou endurecer ainda mais o jogo

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