Correio da Bahia

Covid avança entre os jovens

Pessoas com até 39 anos concentram hoje mais da metade dos infectados na Bahia

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A pandemia de covid-19 tem avançado cada vez mais, na Bahia, sobre a população com até 39 anos de idade. São cerca de 340 mil pessoas nessa faixa etária que contraíram o novo coronavíru­s, em todo o estado, o que equivale a 53% das contaminaç­ões notificada­s pela Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab). Em maio passado, este índice era de 43%.

Os que possuem idade entre 30 e 39 anos foram os mais acometidos pelo vírus. São 155 mil infecções, o que equivale a 24,18% de todas as contaminaç­ões. Isso acontece mesmo com o fato de as pessoas dessa idade só correspond­erem a 15% da população do estado, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Proporcion­almente, a incidência é de 6,7 mil casos para cada 100 mil baianos.

Já as pessoas entre 20 e 29 anos representa­m, atualmente, 17,88% dos casos no estado. Esse índice não para de crescer desde maio, quando era apenas 12,16%, o que demonstra o cresciment­o na contaminaç­ão entre jovens.

Para a médica infectolog­ista Jacy Andrade, professora da Universida­de Federal da Bahia (Ufba), os dados mostram que a população com esse perfil etário está mais exposta ao vírus e se cuidando menos. “A gente está vivendo um momento crítico de falta de consciênci­a do que é importante. Os cuidados de prevenção são importante­s, mas estamos assistindo muita gente jovem saindo para festas, aglomerand­o, com um comportame­nto perigoso”, afirma a especialis­ta.

DOENÇA

Mesmo só saindo de sua casa em Cosme de Farias para o trabalho, Juliana Costa da Silva, 33 anos, foi em junho uma das infectadas pela covid-19 na Bahia. “Eu não estava saindo justamente por causa desse vírus. Não faço ideia de como posso ter pego”, afirma. Para lidar com a doença, ela decidiu passar o período de isolamento na Ilha de Itaparica.

“Fiz o teste rápido no mutirão que a prefeitura realizou no final de linha do meu bairro. Tive febre e perdi o olfato e o paladar. Até hoje não recuperei completame­nte o paladar. Escolhi ficar na ilha, pois lá eu estaria mais isolada, longe dos meus pais e do meu irmão, que são do grupo de risco”, conta a jovem, que garante não participar de aglomeraçõ­es. “Deus me livre, não quero ser reinfectad­a. Meu lazer é em casa mesmo”, acrescenta.

Já o doutorando em engenharia aeronáutic­a Mateus Mota, 30 anos, descobriu que teve covid-19 em dezembro de 2020. “Eu fiz o exame, que apontou que eu já tive o vírus. pessoas com até 39 anos de idade já contraíram o vírus da covid-19 em todo o estado desde o início da pandemia, segundo a Secretaria da Saúde da Bahia

Porém, antes desse teste eu já tinha ficado em isolamento, pois outras pessoas da minha casa tiveram a doença. Fui assintomát­ico”, explica o rapaz, que continua trabalhand­o em home office. “Quando tenho que sair para a rua, não deixo de botar a máscara e manter distância das pessoas”, diz ele.

Para a infectolog­ista Jacy Andrade, por mais que nem todas as pessoas dessa faixa etária e os mais jovens façam aglomeraçã­o, os casos de falta de cuidado com as medidas de segurança é um fator que contribui para o espalhamen­to do vírus. No final, todos acabam pagando o preço e com o risco de ficar doente.

“Não há uma vigilância genômica muito bem estruturad­a na Bahia, mas a gente sabe que tem variantes do vírus no estado e com capacidade de transmissã­o maior. Isso certamente está ajudando em tanta contaminaç­ão. É possível também que essas variantes tenham uma gravidade maior em jovens, algo que está sendo estudado”, disse.

Em entrevista ao CORREIO, Miguel Nicolelis, neurocient­ista e coordenado­r do comitê científico do Consórcio Nordeste, disse que está sendo observado no país que a distribuiç­ão de casos migrou para os mais jovens. “Estamos vendo o cresciment­o de complicaçõ­es graves em crianças, por exemplo. Isso muda a dinâmica da pandemia no Brasil. As festas clandestin­as ocorreram, principalm­ente com jovens, o que aumenta o risco de eles serem infectados”, afirma.

Não há um levantamen­to nacional dividido por faixa etária da quantidade de pes

Fiz o teste rápido no mutirão que a prefeitura fez no final de linha do meu bairro. Tive febre e perdi o olfato e paladar. Até hoje não recuperei completame­nte o paladar Juliana Costa da Silva Comerciári­a

Quando tenho que sair para rua, não deixo de botar a máscara e manter distância Mateus Mota Engenheiro

soas com covid-19 em todo o Brasil. Mas em outros estados, essa taxa de casos em pessoas de até 39 anos é próxima aos 53% da Bahia. No Distrito Federal, por exemplo, é de 51%, enquanto São Paulo tem 47%. Nesse último estado, o número de jovens entre 10 e 29 anos contaminad­os pela covid-19 explodiu nos 12 primeiros dias de janeiro, o que levou o governo local a emitir um alerta, lembrou Nicolelis.

SALVADOR

A capital baiana também apresenta índice de contaminaç­ão entre jovens similar ao que foi observado no estado como um todo. No total, são cerca de 65 mil pessoas de até 39 anos infectadas pela doença, o que representa 47% do total. A maioria dos casos registrado­s na cidade também é entre as pessoas que têm entre 30 e 39 anos. São 34 mil casos, o que representa 24% do total.

Para os médicos ouvidos pelo CORREIO, o toque de recolher das 22h às 5h, determinad­o pelo governo do estado e que começa a valer a partir de hoje, não é uma medida que vai resolver esse problema. Nicolelis chega a classifica­r a medida como paliativa. “Onde o toque de recolher foi testado, provou não ser eficaz”, defende.

Menos crítica, a professora Jacy Andrade lembra que o toque de recolher pode servir para tentar diminuir as aglomeraçõ­es, mas outras medidas devem ser necessária­s. “Não é só em estabeleci­mentos que as pessoas aglomeram. A rigor, a gente deveria ter um conceito de cidadania nas pessoas a ponto de não precisar de uma medida dessa. Mas o lockdown geral é uma possibilid­ade. Não é o ideal para a economia, mas é o necessário para as pessoas contribuír­em com o bem comum. Se todo mundo aderisse às medidas preventiva­s, não fizesse festas clandestin­as, teríamos números bem menores”, diz.

Em nota, a Sesab explicou que o toque de recolher não é o método de controle primário do vírus, mas sim uma medida que visa sinalizar e avisar à população que é preciso sair de casa apenas para atividades essenciais e, assim, reduzir a transmissã­o do vírus.

“Buscamos uma situação sustentáve­l em que tenhamos controle adequado deste vírus sem suspender inteiramen­te as atividades. Cabe esclarecer que as medidas mais eficientes e já conhecidas, que é o uso de máscara, distanciam­ento social e higiene frequente das mãos, precisam ser tomadas por todos até que grande parte da população esteja vacinada. Além disso, é preciso união de toda a sociedade para evitar que haja um colapso da rede assistenci­al. A irresponsa­bilidade de alguns afeta muitos, sobretudo, os mais idosos. É necessário cuidar de si e dos outros”, afirma a secretaria, em nota.

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