Correio da Bahia

Intervençã­o derrete ações da Petrobras

Estatal perdeu R$ 103 bi em valor após governo mudar comando da companhia

- Das Agências REPORTAGEM correio24h­oras@redebahia.com.br

A semana começou com forte turbulênci­a no mercado financeiro do país. A Bolsa de Valores (B3) despencou, ontem, 4,87% em reação à indicação do general Joaquim Silva e Luna para assumir o cargo de presidente da Petrobras. A principal pressão no índice veio do tombo nos papéis da estatal. As ações ordinárias da companhia derreteram 20,48%, a R$ 21,55, e as preferenci­ais tiveram uma baixa de 21,51%, a R$ 21,45.

A Petrobras tem peso de 10,27% no Ibovespa. Segundo levantamen­to da Economatic­a, com o tombo nas cotações, a empresa perdeu ontem quase R$ 75 bilhões em valor de mercado. Foi a segunda maior queda diária em valor de mercado da estatal desde o início do plano Real. Na última sexta-feira, a petroleira já tinha encolhido R$ 28 bilhões.

Os temores de ontem se estenderam à intervençã­o do governo na política de preços do setor de energia e na gestão de outras estatais. O Banco do Brasil terminou com perda de 11,65%. O dólar também teve um dia turbulento. A moeda norte-americana teve alta de 1,26%, a R$ 5,4554.

O risco-país, medido pelo CDS (Credit Default Swap), também aumentou. O CDS funciona como um indicador da confiança de investidor­es em um país: se o número sobe, é sinal de que os investidor­es têm dúvidas sobre o futuro financeiro do país e de sua capacidade de resolver suas dívidas. O valor do CDS chegou ontem a 182,26, depois de ter fechado a 158,88 na sexta-feira, alta de 14,71%.

Felipe Miranda, da consultori­a Empiricus, afirma que as notícias dos últimos dias em relação à Petrobras são bastante graves, e fizeram ressurgir o "medo de uma real explosão da economia brasileira". "Para comprar qualquer ativo brasileiro, diante da incerteza e do retorno do risco, todos agora exigirão algum desconto. Ninguém vai dar o benefício da dúvida ao governo", disse o sócio-fundador da empresa de análise em publicação.

MUDANÇA

Na noite de sexta-feira, após o fechamento do mercado, Bolsonaro anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna, atual diretor da Itaipu Binacional, para a presidênci­a da Petrobras, no lugar de Roberto Castello Branco. Para que a troca seja concretiza­da, a indicação ainda precisa do aval do Conselho de Administra­ção da Petrobras, que tem reunião prevista para hoje. O anúncio aconteceu após Bolsonaro fazer críticas à gestão da Petrobras e às sucessivas altas no preço dos combustíve­is. Segundo ele, o último reajuste foi "fora da curva".

A decisão do presidente repercutiu negativame­nte no mercado. A credibilid­ade da empresa é colocada em dúvida, tendo em vista que os investidor­es passam a não ter segurança sobre os rumos dos negócios, que podem sofrer outras mudanças que não estejam previstas em seu plano de gestão.

Luiz Octavio da Motta Veiga, ex-presidente da Petrobras, lembrou que os ex-presidente­s Collor e Dilma tentaram segurar o preço para controlar a inflação, e que o governo atual faz isso por "populismo". Para Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, se o preço do petróleo e taxa de câmbio não forem repassados, a Petrobras terá prejuízo como foi no governo Dilma. "Está se iniciando uma nova era Dilma na história da Petrobras".

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NELSON ALMEIDA / AFP A Bolsa brasileira caiu ontem quase 5% com intervençã­o do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras. Já as ações preferenci­ais da estatal recuam mais de 21%

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