Correio da Bahia

Baianos vacinados testam positivo

Covid-19 infecção ocorreu antes da aplicação da 2ª dose e nada tem a ver com o imunizante

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Foi em 19 de janeiro, no santuário das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), que a primeira pessoa recebeu a vacina contra o novo coronavíru­s na Bahia: a enfermeira Maria Angélica de Carvalho Sobrinho, de 53 anos. Menos de um mês depois, foi internada no Instituto Couto Maia, onde trabalha, por complicaçõ­es da covid-19. O quadro de saúde dela é estável, segundo a diretora da unidade, Ceuci Nunes. A infecção acometeu a profission­al de saúde quando estava a três dias de receber a segunda dose da CoronaVac, ou seja, antes de ser imunizada contra a doença. E Maria Angélica não foi a única.

“Ela está melhorando e já teve todos os sintomas: febre, dor de garganta, tosse, tudo. Está internada há 8 dias e, se tudo correr bem, porque covid não á algo previsível, ela vai poder sair até o final dessa semana”, diz Ceuci, que é infectolog­ista. Maria Angélica iria tomar a segunda dose da Coronavac no dia 16 de fevereiro e no dia 13 começou a sentir os sintomas.

Além da enfermeira, o cirurgião geral Radmesse Brito pegou o novo coronavíru­s após ter tomado a primeira dose da Coronavac, em 26 de janeiro. Doze dias depois, no dia 7 de fevereiro, começou a apresentar dores no corpo, moleza e teve diarreia. Uma semana depois, os sintomas pioraram: Brito começou a sentir falta de ar e a saturação no pulmão ficou abaixo de 92%. O médico, que mora em Jequié, veio para Salvador. Está internado desde o dia 15 no Hospital Aliança, com quadro de saúde estável, e já deixou a UTI.

“Acreditamo­s que ele tenha contraído a covid entre os dias 2 e 4 de fevereiro, trabalhand­o no hospital. Ele estava afastado desde o dia 11 de dezembro, quando fez uma cirurgia na mão, e retornou no dia 2 de fevereiro. Graças a Deus ele não precisou de respirador, usou um cateter de alto fluxo, parecido com cateter normal, só que permite o envio de oxigênio mais concentrad­o, evitando a intubação. Estamos assustados, acho que essa é a palavra que define melhor”, relata a esposa do médico, a psicóloga Patrícia Brito.

Já Joselito Sena, 55, é motorista do Samu há 14 anos e também foi um dos que tomou a primeira dose da vacina e contraiu a covid-19 logo depois. Após quatro dias da primeira injeção da Coronavac, ele começou a sentir os sintomas. “Tomei a primeira dose no início de fevereiro, eu estava normal, mas, quatro dias depois, comecei a sentir sintomas. Tive falta de paladar e olfato, dor de cabeça e garganta inflamada”, conta. Joselito ficou afastado do trabalho durante 15 dias e já retornou – apesar de a garganta continuar “arranhando”.

ORIENTAÇÕE­S

A médica e pesquisado­ra da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Viviane Boaventura diz que esse tipo de situação já era prevista. “Isso já vinha sendo avisado, que a taxa de proteção que a primeira dose da vacina confere é muito baixa. Somente após duas ou três semanas da segunda dose é que a gente espera ver uma resposta de eficácia. Antes disso, não é esperado”, diz.

Mesmo após tomar as duas doses, ainda é possível haver contaminaç­ão, já que não existe, até então, vacina com eficácia de 100%. “Depois da segunda dose, não se pode descuidar, já que o vírus está circulando livremente e a gente tem uma variação na eficácia da vacina. Tem gente que reage muito bem e tem gente que não, isso acontece com qualquer vacina, até de gripe, e pode ocorrer em qualquer pessoa, em qualquer época”, detalha Viviane.

A pesquisado­ra da Fiocruz enfatiza que essa espera para a resposta imune é essencial. “A vacina não é uma bala de prata, a gente tem que vacinar as pessoas, mas essa imunização não é perfeita e a resposta demora de acontecer. Tem uma taxa muita baixa de pacientes que, mesmo tomando as duas doses, podem ter a infecção e isso varia também de acordo com a vacina, mas até com a Pzifer [que tem a maior eficácia até agora, de 95%], acontece, só que em uma quantidade menor”, reforça a médica.

Ela reforça que a vacina é a melhor arma que temos contra a covid-19 até o momento e diz que com a interrupçã­o do processo de vacinação, a imunidade demorará mais tempo para chegar no país. “O Brasil precisa de vacina para ontem. Era muito importante que tivessem outras vacinas disponívei­s, quanto mais e o quanto antes, melhor, porque o efeito de imunidade demora 60 dias, então, quanto mais cedo a gente começar a vacinar, mais cedo terá esse efeito”, critica.

Não existe o monitorame­nto das pessoas que contraíram a covid-19 após terem tomado a primeira dose da vacina, nem por parte da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nem pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).

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ARISSON MARINHO/ARQUIVO CORREIO* A enfermeira Maria Angélica, 53 anos, foi primeira pessoa vacinada contra a covid na Bahia

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