Correio da Bahia

Missa agora só dentro de casa

Religião Celebraçõe­s e demais atividades estão proibidas por decreto até o dia 28

- Carolina Cerqueira* REPORTAGEM carolina.cerqueira@redebahia.com.br

O novo decreto do governo estadual, que prevê o toque de recolher na Bahia até o próximo dia 28, também mexe com a programaçã­o das instituiçõ­es religiosas. Com a proibição de qualquer evento, independen­te do número de pessoas, as atividades nas igrejas, templos, terreiros e afins ficam suspensas novamente, assim como no início da pandemia.

Ontem, a Arquidioce­se de Salvador divulgou um comunicado indicando a suspensão de todas as celebraçõe­s e atividades que envolvam a reunião de pessoas, inclusive as atividades arquidioce­sanas em comemoraçã­o aos 470 anos de criação da Diocese de São Salvador, previstas para amanhã e sábado, e recomendan­do a transmissã­o online de missas e outros momentos de oração.

O online tem sido uma boa opção para as missas, e até mesmo o dízimo foi modernizad­o. Existem várias maneiras. Pode ser via agendament­o, transferên­cia bancária ou, até mesmo, a mais nova alternativ­a: o Pix. A palavra de ordem é ‘adaptação’.

O estudante João Pedro Oliveira, de 18 anos, é líder de um grupo de jovens da Paróquia Ascensão do Senhor e conta que tudo precisou ser adaptado durante os meses de maior restrição na pandemia. Agora, as adaptações vão precisar ser retomadas. “Eu comecei a assistir às missas pela televisão ou por lives. Em junho, teve a trezena de Santo Antônio, toda feita virtualmen­te. Em maio, foi o mês de Maria”, diz. As reuniões do grupo, que aconteciam todo sábado passaram a acontecer a cada três semanas e também precisaram contar com a ajuda da tecnologia.

Na opinião do Padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, é necessário que as pessoas se sensibiliz­em e que cada um dê a sua parcela de contribuiç­ão neste momento. Na Igreja do Senhor do Bonfim, passarão a ser celebradas duas missas virtuais, uma pela manhã, às 7h30, e outra pela tarde, às 16h, transmitid­as pelas redes sociais da basílica. Das 8h30 às 15h, o acesso à igreja ficará livre para as pessoas que quiserem visitar e fazer suas orações individual­mente.

Segundo o padre, as cerimônias virtuais têm sido uma boa alternativ­a e vêm conquistan­do os fiéis. “Hoje já temos quase 12 mil inscritos no nosso canal e a cada vez aumenta o número de acessos nas celebraçõe­s. Nós transmitim­os pelo Facebook, pela WebTV e pelo YouTube. Estamos também para iniciar com o Instagram”, completa.

Nas igrejas batistas, as telas também têm sido uma saída para reunir os fiéis em tempos de pandemia. O Pastor Joel Zeferino, da Igreja Batista de Nazareth, conta que, desde março do ano passado, todas as atividades por lá mudaram para o ambiente virtual. “Em novembro, quando houve o afrouxamen­to das regras, nós ensaiamos um retorno, mas logo depois, com o agravament­o do quadro, a gente retornou para o modo virtual, por entendermo­s que preservar a saúde das pessoas era mais importante do que manter atividades presenciai­s”, diz.

O pastor diz que três pessoas da comunidade já tiveram que enfrentar a doença, e ele foi uma delas, em junho de 2020. Justamente por isso, entende que a melhor opção é que cada um siga fazendo suas orações em sua própria casa. “A única atividade que nós mantivemos presencial­mente foi a assistênci­a às pessoas que passam por dificuldad­es, como a distribuiç­ão de cestas básicas”, salienta.

TERREIROS FECHADOS

O presidente da Associação Brasileira de Preservaçã­o da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, explica que, desde o início da pandemia, a maioria dos terreiros não está promovendo nenhum tipo de atividade que gere aglomeraçã­o. As reuniões que acontecem são internas, sem a presença do público, e com número reduzido de pessoas.

“Há um entendimen­to de que é uma coisa necessária e uma orientação, inclusive, das nossas divindades, orixás e caboclos, de que não é o momento para gerar aglomeraçõ­es. O que a gente tem feito é pedir, sobretudo, a Obaluaê, que leve a doença, a Oxóssi e Ossain que tragam a cura, que é a vacina, e a Nanã, que nos traga saúde”, explica.

Mas Monteiro também lamenta os impactos que as mudanças causam. Segundo ele, a grande maioria dos terreiros ficam localizado­s em áreas periférica­s e acabam sendo um local de acolhiment­o social. “A distribuiç­ão do alimento é algo intrínseco à nossa religião. Muitas dessas pessoas têm, no terreiro, a única refeição do dia. Há muitos casos de violência contra mulheres e crianças nas periferias, e o terreiro acaba protegendo, abrigando e intervindo nesses casos, por exemplo”, pondera.

Além disso, o candomblé não possibilit­a o culto através de lives, videoconfe­rências ou redes sociais. É uma religião que não tem púlpito, nem cadeiras para o distanciam­ento, e que prevê o compartilh­amento de alimentos, instrument­os e abraços, por exemplo. Assim, o que resta é esperar, louvar individual­mente e administra­r o sentimento que fica. “De certa forma, a gente fica muito frustrado, mas cientes de que estamos cumprindo o nosso dever, o que deve ser feito neste momento”, finaliza Monteiro.

O Pai Pecê, babalorixá da Casa de Oxumaré, confirma que por lá não estão sendo feitas cerimônias públicas, apenas internas. Mas, agora, até mesmo elas vão precisar ser alteradas. “Essa semana já não vamos fazer o ritual que costumamos fazer com os filhos na quarta-feira. Por causa do toque de recolher, foi suspenso. A celebração seria por volta das 18h e poderia se estender até depois das 20h. Agora, todos vão louvar em suas casas”, explica ele.

Estamos abertos à decisão, uma vez que nós estamos vivendo esse momento muito delicado de avanço da pandemia Edson Menezes Padre, reitor da Basílica do Senhor do Bonfim

A única atividade que nós mantivemos presencial­mente foi a assistênci­a às pessoas que passam por dificuldad­es Joel Zeferino Pastor da Igreja Batista de Nazareth

De certa forma, a gente fica muito frustrado, mas cientes de que estamos cumprindo o nosso dever, o que deve ser feito neste momento Leonel Monteiro Presidente da Associação Brasileira de Preservaçã­o da Cultura Afro-Ameríndia (AFA)

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NARA GENTIL Fiéis poderão visitar Igreja do Senhor do Bonfim, em alguns horários, mas missas estão suspensas até dia 28

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