Missa agora só dentro de casa
Religião Celebrações e demais atividades estão proibidas por decreto até o dia 28
O novo decreto do governo estadual, que prevê o toque de recolher na Bahia até o próximo dia 28, também mexe com a programação das instituições religiosas. Com a proibição de qualquer evento, independente do número de pessoas, as atividades nas igrejas, templos, terreiros e afins ficam suspensas novamente, assim como no início da pandemia.
Ontem, a Arquidiocese de Salvador divulgou um comunicado indicando a suspensão de todas as celebrações e atividades que envolvam a reunião de pessoas, inclusive as atividades arquidiocesanas em comemoração aos 470 anos de criação da Diocese de São Salvador, previstas para amanhã e sábado, e recomendando a transmissão online de missas e outros momentos de oração.
O online tem sido uma boa opção para as missas, e até mesmo o dízimo foi modernizado. Existem várias maneiras. Pode ser via agendamento, transferência bancária ou, até mesmo, a mais nova alternativa: o Pix. A palavra de ordem é ‘adaptação’.
O estudante João Pedro Oliveira, de 18 anos, é líder de um grupo de jovens da Paróquia Ascensão do Senhor e conta que tudo precisou ser adaptado durante os meses de maior restrição na pandemia. Agora, as adaptações vão precisar ser retomadas. “Eu comecei a assistir às missas pela televisão ou por lives. Em junho, teve a trezena de Santo Antônio, toda feita virtualmente. Em maio, foi o mês de Maria”, diz. As reuniões do grupo, que aconteciam todo sábado passaram a acontecer a cada três semanas e também precisaram contar com a ajuda da tecnologia.
Na opinião do Padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, é necessário que as pessoas se sensibilizem e que cada um dê a sua parcela de contribuição neste momento. Na Igreja do Senhor do Bonfim, passarão a ser celebradas duas missas virtuais, uma pela manhã, às 7h30, e outra pela tarde, às 16h, transmitidas pelas redes sociais da basílica. Das 8h30 às 15h, o acesso à igreja ficará livre para as pessoas que quiserem visitar e fazer suas orações individualmente.
Segundo o padre, as cerimônias virtuais têm sido uma boa alternativa e vêm conquistando os fiéis. “Hoje já temos quase 12 mil inscritos no nosso canal e a cada vez aumenta o número de acessos nas celebrações. Nós transmitimos pelo Facebook, pela WebTV e pelo YouTube. Estamos também para iniciar com o Instagram”, completa.
Nas igrejas batistas, as telas também têm sido uma saída para reunir os fiéis em tempos de pandemia. O Pastor Joel Zeferino, da Igreja Batista de Nazareth, conta que, desde março do ano passado, todas as atividades por lá mudaram para o ambiente virtual. “Em novembro, quando houve o afrouxamento das regras, nós ensaiamos um retorno, mas logo depois, com o agravamento do quadro, a gente retornou para o modo virtual, por entendermos que preservar a saúde das pessoas era mais importante do que manter atividades presenciais”, diz.
O pastor diz que três pessoas da comunidade já tiveram que enfrentar a doença, e ele foi uma delas, em junho de 2020. Justamente por isso, entende que a melhor opção é que cada um siga fazendo suas orações em sua própria casa. “A única atividade que nós mantivemos presencialmente foi a assistência às pessoas que passam por dificuldades, como a distribuição de cestas básicas”, salienta.
TERREIROS FECHADOS
O presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, explica que, desde o início da pandemia, a maioria dos terreiros não está promovendo nenhum tipo de atividade que gere aglomeração. As reuniões que acontecem são internas, sem a presença do público, e com número reduzido de pessoas.
“Há um entendimento de que é uma coisa necessária e uma orientação, inclusive, das nossas divindades, orixás e caboclos, de que não é o momento para gerar aglomerações. O que a gente tem feito é pedir, sobretudo, a Obaluaê, que leve a doença, a Oxóssi e Ossain que tragam a cura, que é a vacina, e a Nanã, que nos traga saúde”, explica.
Mas Monteiro também lamenta os impactos que as mudanças causam. Segundo ele, a grande maioria dos terreiros ficam localizados em áreas periféricas e acabam sendo um local de acolhimento social. “A distribuição do alimento é algo intrínseco à nossa religião. Muitas dessas pessoas têm, no terreiro, a única refeição do dia. Há muitos casos de violência contra mulheres e crianças nas periferias, e o terreiro acaba protegendo, abrigando e intervindo nesses casos, por exemplo”, pondera.
Além disso, o candomblé não possibilita o culto através de lives, videoconferências ou redes sociais. É uma religião que não tem púlpito, nem cadeiras para o distanciamento, e que prevê o compartilhamento de alimentos, instrumentos e abraços, por exemplo. Assim, o que resta é esperar, louvar individualmente e administrar o sentimento que fica. “De certa forma, a gente fica muito frustrado, mas cientes de que estamos cumprindo o nosso dever, o que deve ser feito neste momento”, finaliza Monteiro.
O Pai Pecê, babalorixá da Casa de Oxumaré, confirma que por lá não estão sendo feitas cerimônias públicas, apenas internas. Mas, agora, até mesmo elas vão precisar ser alteradas. “Essa semana já não vamos fazer o ritual que costumamos fazer com os filhos na quarta-feira. Por causa do toque de recolher, foi suspenso. A celebração seria por volta das 18h e poderia se estender até depois das 20h. Agora, todos vão louvar em suas casas”, explica ele.
Estamos abertos à decisão, uma vez que nós estamos vivendo esse momento muito delicado de avanço da pandemia Edson Menezes Padre, reitor da Basílica do Senhor do Bonfim
A única atividade que nós mantivemos presencialmente foi a assistência às pessoas que passam por dificuldades Joel Zeferino Pastor da Igreja Batista de Nazareth
De certa forma, a gente fica muito frustrado, mas cientes de que estamos cumprindo o nosso dever, o que deve ser feito neste momento Leonel Monteiro Presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA)