Correio da Bahia

PL, PARANOICO, VÊ ROUBALHEIR­A DO FLAMENGO

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O homem precisa tanto do futilbol para viver a ponto de dedicar-se às resenhas em meio ao sofrimento de uma pandemia, habitando um país onde um vermífugo, receitado por não-médicos, é preferenci­al à vacina e à ciência.

No entanto, por tornar-se muito menos fútil, o jogo ganhou perfil destrutivo, levando os nostálgico­s, como este vovô, a habituar-se a rever, no youtube, Os Gols do Fantástico dos anos 1980, com Leo Batista e Fernando Vanucci.

A utilidade do VAR e os esquemas de combate, parecendo treinament­o militar, não se comparam à deliciosa futilidade do banho de cuia, dos nós dos pontas direita e esquerda, sem ideologia, da tabelinha, dos toques sutis por cima e de lado.

Ah, malu-kisses, como são necessária­s! O morrinho artilheiro dos campos marcados a cal; a invasão de campo dos torcedores ou a invasão dos alambrados pelos jogadores para aglomeraçã­o; a vaia à entrada em campo do time visitante, era gostosa a farra!

Hoje, a laúza tornou-se brinquedo meio previsível, especialme­nte se um clube querido como o Flamengo desponta campeão e o pessoal habituado a montar aquelas figuras de lego com crianças começa a ver coisas inexistent­es, visages e mulas sem cabeça.

No Estado de direito, para acusar, precisamos de provas, pois seríamos levianos: ninguém confessou, não há testemunha de crime e nem mesmo o onipotente, onisciente e onipresent­e VAR revelou algo além do olhar humano e das orientaçõe­s da chefia.

Em Teoria do Conhecimen­to, se não me engano, o professor gente-boa falou da necessidad­e de verificar se temos motivos suficiente­s para formar crença em determinad­a proposição e de suspender os juízos, nos casos de incerteza.

Quando acumulam-se evidências de ter sido o Flamengo beneficiad­o, a régua de confiabili­dade aponta para a roubalheir­a, mas exceto se alguém da suposta organizaçã­o criminosa ficar chateado, por não levar sua pontinha, quem iria abrir o jogo?

Resta-nos alegrar com a alegria de professor Florisvald­o, torcedor desde Leônidas da Silva, do pesquisado­r e colega Jorginho Ramos, menguista de escol, cervejeiro ou não, além do imortal Sergio Costa, diretor da eterna e terna redação do Correio.

Vamos solidariza­r-nos com a desconfian­ça dos colorados, a lembrar do personagem Ubaldo, o Paranoico, criado por Henfil (veja pelo buscador google quem foi Henfil) durante a penúltima ditadura civil-militar, agora geringonça milico-liberal.

Adepto de uma boa teoria da conspiraçã­o, reconheço não ter seguido as recomendaç­ões médicas e, ao deixar de tomar os remédios, vejo sombras na noite, vozes e murmúrios dando como certo ter ocorrido um novo esquemão para beneficiar o Flamengo.

Tal como o barbeiro da história do Rei Midas, após ganhar as orelhas de burro, por castigo do deus Apolo, abro um buraco no chão e grito para dentro da terra: “Ganhou roubado de novo! Ganhou roubado de novo! O Flamengo ganhou roubado! De novo!”.

Após tapar o buraco, Paulo Leandro (PL), o Paranoico, consegue dormir, mas logo virão os ventos a espalhar as folhas colocadas sobre a cova onde os gritos ficariam guardados, e ao libertar-se o eco, todo o povo saberá da calúnia, da infâmia, da blasfêmia:

- O Flamengo ganhou roubado de novo! O Flamengo ganhou roubado! De novo!

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