Correio da Bahia

‘FECHAR É PRECISO PARA EVITAR MORTES’

Especialis­tas explicam que o lockdown parcial adotado na Bahia evitará saturação dos leitos de UTI

- Monique Lôbo REPORTAGEM monique.lobo@redebahia.com.br

A adoção de medidas restritiva­s ainda mais severas que colocam a Bahia em um estágio de lockdown parcial se justifica diante do cenário atual da pandemia no estado, que é o pior possível, diz o infectolog­ista da SOS Vida, Matheus Todt. “Na atual conjuntura, é a única coisa que a gente pode fazer”, afirma.

Nas últimas duas semanas, a Bahia viu se agravar o número de pessoas contaminad­as, o que refletiu diretament­e na ocupação das UTIs. Ontem, 82% dos leitos disponívei­s para a covid-19 no estado estavam ocupados. Em Salvador, esse número chegou a 84%.

“Essa é uma medida de desespero, não é uma medida fácil, mas é a que temos. Senão, as pessoas vão morrer”, acrescenta Matheus Todt. O infectolog­ista da SOS Vida explica ainda que as restrições são necessária­s para aliviar a saturação dos leitos de UTI e desafogar os sistemas de saúde. “É uma medida acertada e o quanto antes ela for tomada, maior será o impacto no número de óbitos", avalia. Número esse que, ontem, bateu o recorde de toda a pandemia: foram 100 pessoas mortas em 24 horas, lembra.

A biomédica, doutora em neurociênc­ias, pesquisado­ra da Universida­de Federal do Rio Grande do Sul e coordenado­ra da Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, também concorda com o endurecime­nto das regras. “Estamos vendo o colapso de vários sistemas hospitalar­es e, mesmo com a reposição, ainda em uma taxa muito menor do que a necessária, neste momento tem muita gente precisando de internação”, diz. Para ela, chegamos em um ponto onde não há outra alternativ­a a não ser fechar o máximo possível.

MAIS TEMPO FECHADOS

Um lockdown parcial de três dias está longe de ser o ideal. Isso porque, segundo os especialis­tas, o período não contempla toda a cadeia da doença. “Acredito que teria que ser no mínimo de 10 a 14 dias para ser efetivo”, avalia o o infectolog­ista Fábio Amorim. “Temos pessoas que vão se contaminar hoje ou amanhã e não vão ter sintomas. Aí, na segunda-feira, podem contaminar outras pessoas”.

A médica Mellanie Fontes-Dutra acrescenta que as restrições deveriam ser por mais tempo. “Se fizermos um cálculo, as pessoas pegando o vírus, incubando, passando pelo período infeccioso, se curando, ainda é insuficien­te 14 dias. E se ela acaba desenvolve­ndo isso dentro do lockdown? Isso precisa ser pensado. Esse período não gera um grande impacto”, avalia. Para ela, um lockdown ideal deveria ser expandido para três semanas por ser “muito mais saudável e aí você consegue controlar”.

Para o infectolog­ista Matheus Todt, o ideal seria ter lockdown até que ocorra o desafogame­nto dos sistemas de saúde. Ele avalia, no entanto, que as datas escolhidas na Bahia – o final de semana – têm a ver com o fato de ser o período com mais pessoas circulando pelas ruas dos municípios e entre uma cidade e outra. “Além disso, nesse período vai ter um impacto menor na economia. Essa é a mesma teoria por trás da medida à noite em São Paulo, tem um impacto menor na economia local”, pondera.

Mellanie, por sua vez, não descarta que os gestores públicos estendam as medidas restritiva­s. “O que pode acontecer é ele ser implementa­do e prorrogado. Porque o mais difícil é começar. Pode ser uma estratégia para facilitar a aceitação da população”, opina.

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MARINA SILVA UPAS, gripários e hospítais, tanto públicos quanto privados, estão sobre- carregados com demanda de pacientes graves com a covid-19

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