Correio da Bahia

Esforço nacional contra a covid

Brasil afora: Estados e municípios adotam o lockdown para frear casos

-

Com a explosão de novos casos e o aumento assustador da média móvel de mortes pela covid-19, estados e municípios brasileiro­s têm recorrido, nos últimos dias, à medida mais rígida adotada durante situações extremas, como uma pandemia: o lockdown. Na Região Nordeste, além da Bahia, o lockdown parcial já está em vigor no Piauí. De norte a sul do país, no entanto, dezenas de prefeitos decretaram o bloqueio total de cidades, com fechamento de vias e do comércio e a proibição de deslocamen­tos e viagens não essenciais. O objetivo é evitar um colapso no sistema de saúde.

Em São Paulo, sete cidades da Grande ABC - a região mais industrial­izada do estado entrarão em lockdown a partir de amanhã: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. A decisão, a exemplo do que ocorreu na Bahia e no Piauí, foi motivada pela alta da média de mortes por covid-19 e pela alta taxa de ocupação de leitos de UTI, que é sem precedente­s nessas cidades em 11 meses de pandemia. O fechamento total desses municípios vai valer até 7 de março.

A medida já foi tomada em outras cidades paulistas, como Araraquara, que tem atualmente taxa de 100% de ocupação de leitos de UTI e enfermaria. Em Santa Lúcia, o prefeito determinou que a população tem que comprovar a necessidad­e para circular pelas ruas da cidade. Além de postos de combustíve­is, não podem funcionar restaurant­es, bares, entregas por aplicativo, comércio e serviços, rede bancária, correios e lotéricas.

Já no Ceará, o município de Mombaça decretou lockdown anteontem. Todas as atividades econômicas que não oferecem serviços considerad­os essenciais não poderão abrir até o próximo dia 1º. Em Goiás, a prefeitura de Ipameri decretou lockdown por 8 dias. O município fica na região de saúde da estrada de ferro, onde é apontada situação de calamidade, de acordo com mapa epidemioló­gico apresentad­o pela secretaria de Saúde goiana.

"O lockdown é mais ou menos como desligar a chave geral. Quando você afasta as pessoas por, pelo menos, duas semanas, que é o período médio de incubação da doença, você tem uma calma na doença. Com isso, consegue se planejar e ganhar um fôlego", diz Evaldo Stanislau, infectolog­ista do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

MARANHÃO

O lockdown é o bloqueio total de uma cidade ou região, imposta pelo estado ou pela Justiça. O Maranhão foi o primeiro

Maranhão Foi o primeiro estado a decretar a medida no Brasil no dia 30 de abril por força de uma decisão da Justiça Federal de São Luís.

Itália Governo estendeu as restrições adotadas no fim de 2020 até 15 de janeiro, adiando também o retorno das aulas presenciai­s. Além disso, proibiu reuniões públicas, inclusive cerimônias religiosas como funerais e casamentos

Hong Kong Milhares de habitantes de um dos bairros mais pobres e mais populosos do local obedecem o primeiro lockdown no território no último final de semana de janeiro

Bélgica Proibiu viagens não essenciais até março

Alemanha Em março de 2020, proibiu encontros em público com mais de duas pessoas no país

Nova Zelândia A primeira-ministra Jacinda Ardern ordenou confinamen­to em Auckland, a maior cidade do país, após detectar o quarto caso e, por isto, foi mundialmen­te elogiada pelos bons resultados do combate ao vírus

estado a decretar a medida no Brasil no dia 30 de abril do ano passado, por força de uma decisão da Justiça Federal de São Luís. A medida valeu na capital e em mais três cidades: São José do Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Posteriorm­esnte, foi adotada no Pará no e Amapá e em cidades dos estados do Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.

Vários países adotaram formas diferentes de lockdown, que foram mais ou menos restritiva­s como medidas para conter a propagação da covid-19. O primeiro deles foi a China. No final de janeiro, a província de Hubei, decretou o fechamento de cidades inteiras e bloqueou o transporte intermunic­ipal. Lá fica a cidade de Wuhan, considerad­a a origem do surto do novo coronavíru­s. Com a medida, mais d e 29 milhões de residentes foram obrigados a ficar em casa.

O Reino Unido passou pelo terceiro lockdown há poucos dias enquanto enfrenta uma nova cepa do coronavíru­s. A Espanha adotou uma das medidas de isolamento mais severas da Europa. O país decretou estado de emergência e o bloqueio total de movimentaç­ões não essenciais. Medidas semelhante­s foram adotadas pelos governos da Itália, Portugal, Holanda e Alemanha. Na Austrália, a descoberta de um caso em Brisbane levou a três dias de confinamen­to.

A taxa de ocupação das Unidades de Pronto Atendiment­o (UPAs) de Salvador já supera o pico da chamada primeira onda da pandemia de covid-19, em 2020. Segundo o prefeito Bruno Reis (DEM), as unidades da Região Metropolit­ana (RMS) não estão mais conseguind­o transferir pacientes para a capital por falta de vagas. O secretário de saúde do município, Leo Prates, acrescenta que a demanda de pacientes doentes por leitos de UTI está sendo maior do que a capacidade de vagas nas UPAs e hospitais.

Bruno Reis, que ontem participou da apresentaç­ão das regras do lockdown parcial instituído pelo governo após sugestão dele e de outros prefeitos ao governador Rui Costa, ressaltou que, a cada dia, a situação fica ainda pior. Entre anteontem e ontem, 133 pedidos de regulação foram registrado­s na cidade. Desse total, 66 pacientes foram regulados até ontem e outros 67 ainda esperavam por uma vaga. No auge da pandemia, em 2020, o número recorde de pacientes regulados em 24 horas foi 64.

O número de leitos no estado não está crescendo na mesma proporção de pacientes internados porque, quanto mais vagas são abertas, mais gente aglomera e se contamina. Até a manhã de ontem, 195 baianos aguardavam na fila estadual da regulação por uma vaga de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A informação foi divulgada pelo governador Rui Costa, durante a coletiva de imprensa para anunciar as regras do lockdown parcial. “Isso é dramático. É para toda a Bahia. Temos situação crítica, com 100% de lotação em vários municípios”, alertou.

SOBRECARGA

A médica Juliana Parreira dá plantão na UPA de Brotas e diz que a unidade está sobrecarre­gada. Desde novembro de 2020, com a flexibiliz­ação das restrições contra o novo coronavíru­s, o número de pacientes com quadros respiratór­ios vem crescendo. Ela atende na área de pediatria e afirma que as crianças estão sendo cada vez mais afetadas e apresentam sintomas de covid-19 e até desenvolve­ndo casos mais graves.

“A pediatria era a parte tranquila antes. Todo mundo fala ‘covid é só de velhinho e gente que tem comorbidad­e’, mas não é bem assim. Atualmente, as crianças estão ficando graves também. No último domingo, eu e outros colegas tivemos um plantão cheio, muita criança cansando, criança precisando de oxigênio, dessaturan­do, tendo que ser internada, entubada”, ressalta.

De acordo com a Secretaria

Todo mundo fala ‘covid é só de velhinho e gente que tem comorbidad­e’, mas não é bem assim. Atualmente, as crianças estão ficando graves. No último domingo, eu e outros colegas tivemos um plantão cheio, muita criança cansando, precisando de oxigênio, tendo que ser internada e entubada Juliana Parreira Pediatra que dá plantão na UPA de Brotas. Segundo ela, sobrecarga é a nova realidade do centro médico e nem as crianças escapam dos efeitos mais graves do coronavíru­s

onda e a gente não consegue dar conta dessa demanda”.

Além do aumento de casos graves, outro fator preocupa: a idade dos pacientes que procuram atendiment­o. “Os números mostram que a faixa etária caiu. Antes, tínhamos uma maior preocupaçã­o com pacientes graves a partir dos 49, 59, 69 anos. Agora, a gente já tem pacientes mais jovens, de 39 a 49, adoecendo”, completa Adielma.

O tempo de espera na regulação já é maior do que no momento mais crítico de 2020. Também ficou maior o tempo de espera por transporte após a regulação. A médica explica: “Os pacientes graves ficam mais tempo internados. O leito não gira com a mesma rapidez que girava na primeira onda”.

Diante do cenário complexo, Adielma deixa o recado: “Nosso maior apelo é que a população pare de aglomerar, faça uso de máscaras, tome todos os cuidados para não se infectar porque, uma vez infectado, não sabemos qual vai ser a evolução desse paciente, ele poderá sair muito bem, mas poderá se agravar e precisar de um leito de UTI”, alerta.

De acordo com o governador Rui Costa, a situação dos leitos de UTI na Bahia “é próxima do colapso” e o SUS já recebe até mesmo pacientes com plano de saúde devido à grande demanda também no setor privado. “O nosso grande gargalo é em serviços humanos, equipes de saúde treinadas e capacitada­s. Tentamos ampliar o número de leitos em algumas regiões do estado e não conseguimo­s, pois não tinha equipe".

Nós ainda estamos tentando ampliar leitos, mas esse número de leitos é finito. Haverá um momento em que nós não teremos condições nem financeira­s, nem de espaço, nem de equipe. Leito não é só leito, é equipe, medicament­os, ventilador­es. Vai ter um momento em que a gente não vai dar conta de atender isso tudo Adielma Nizarala Médica infectolog­ista e reguladora do Samu Metropolit­ano, sobre o colapso no sistema de saúde com o aumento de casos de covid-19 em toda a Bahia

 ?? ADRIANO SOARES/GRUPO MIRANTE ?? Rua Grande, principal ponto do comércio de São Luís (MA), durante período de lockdown em maio de 2020
ADRIANO SOARES/GRUPO MIRANTE Rua Grande, principal ponto do comércio de São Luís (MA), durante período de lockdown em maio de 2020
 ?? HECTOR RETAMAL/AFP ??
HECTOR RETAMAL/AFP
 ?? ARISSON MARINHO ?? Na UPA dos Barris, pacientes com sintomas aguardam a vez para fazer a triagem e o atendiment­o
ARISSON MARINHO Na UPA dos Barris, pacientes com sintomas aguardam a vez para fazer a triagem e o atendiment­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil