Correio da Bahia

CIRO GOMES ESTÁ NA PISTA

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Ciro Gomes sempre esteve no jogo da sucessão presidenci­al de 2022, mas, numa entrevista ao repórter Joelmir Tavares, mostrou sua equação: “Quem for contra o Bolsonaro no segundo turno tem a tendência de ganhar a eleição. O menos capaz disso é o PT. Por isso, minha tarefa é necessaria­mente derrotar o PT no primeiro turno”. Assim, ele encerra mais um capítulo da relação de amor e ódio que mantém com os petistas e com Lula há quase 20 anos, ao longo dos quais tentou três vezes a Presidênci­a da República.

Na fase de amor, Ciro foi ministro da Integração Nacional e elogiava “a sabedoria do presidente”. Nos momentos de ódio, disse que Lula “está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República”. Batizou.

Na sua última campanha, Ciro esteve nos extremos do amor e do ódio. Em abril de 2018, pareceu possível que ele formasse uma chapa com o petista Fernando Haddad na vice. Fritaram a iniciativa.

Um mês depois, Jair Bolsonaro assumiu a liderança nas pesquisas, com 18,3%. Nessa pesquisa, Haddad conseguiu 4,4%. Um mês depois, noutra, Ciro começou a derreter, Haddad foi para 11%, enquanto Bolsonaro ia para 22%. Ciro disse que o PT tinha uma “estrutura odienta”, negou-lhe apoio no segundo turno, e o resto é história.

(A possibilid­ade da chapa Ciro-Haddad foi revelada pelo repórter Mario Sergio Conti, desmentida pelo petista e confirmada pelo professor Delfim Netto em julho de 2020. Nas palavras dele: “O PT traiu Ciro Gomes e, assim, permitiu a eleição de Jair Bolsonaro”. Delfim havia participad­o da costura.)

Ciro e Lula se encontrara­m em setembro passado, mas não foram longe. Segundo Ciro: “Converso muito com os petistas. Lá dentro, tem um grupo que acha que o Lula, com sua loucura e caudilhism­o, está passando de qualquer limite. Faz as coisas sem consultar ninguém, joga só”. É possível, mas há também o grupo que, em 2018, achava que na eleição devia-se lutar por Lula, ou nada. Deu Bolsonaro, e, com seu aparecimen­to, Ciro Gomes perdeu o cetro do destempero na política nacional.

A guinada de Ciro, com o brado de que “minha tarefa é necessaria­mente derrotar o PT no primeiro turno” pode parecer exagero, mas pode ser também um aceno para um pedaço da esquerda e também para a turma da Faria Lima, avenida por onde passam os carrões dos banqueiros e também 28 linhas de ônibus com a turma do andar de baixo. Para usar uma imagem corrente que ainda não tem claro significad­o, ele seria um nome do centro.

Essa liga não seria uma novidade. Em 2002 um pedaço da plutocraci­a patrocinou um grupo de economista­s para trabalhar numa agenda para Ciro Gomes. Teriam sido 17, reuniram-se por dois dias no Rio e produziram um projeto. Depois que Ciro descarrilh­ou, as ideias do grupo foram chamadas de “Agenda Perdida” e serviram de subsídio ao comissário Antonio Palocci quando ele foi para o Ministério da Fazenda de Lula.

A malha urbana de São Paulo tem seus encantos. A Avenida Paulista liga um cemitério ao bairro do Paraíso, e a Avenida Faria Lima passa pelo Largo da Batata, ponto de partida de muitas manifestaç­ões da esquerda.

Na fase de amor, Ciro Gomes foi ministro da Integração Nacional e elogiava “a sabedoria do presidente” Lula

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