Risco assumido por conta própria
Extremo-sul Cidades mantêm comércio aberto mesmo com proibição por decreto
Os moradores de Teixeira de Freitas movimentaram o comércio da cidade no último sábado. O cenário era de normalidade, apesar do decreto estadual publicado no dia anterior proibir o funcionamento de atividades não essenciais na Bahia. A cidade optou por não seguir a determinação do governo do estado. Assim como Teixeira de Freitas, pelo menos outros três municípios da região Extremo-Sul também não aderiram integralmente ao decreto.
As prefeituras da região que não acataram integralmente o decreto do governo são: Eunápolis, Teixeira de Freitas, Itamaraju e Guaratinga. Nos dois primeiros locais, as medidas mais duras de isolamento social, o chamado “lockdown parcial”, nunca foram determinadas pelas gestões municipais. Em Itamaraju, a sexta, o sábado e o domingo não contaram com essas restrições, que só foram impostas na segunda. Já em Guaratinga, o movimento foi contrário, com um afrouxamento das restrições a partir de 1º de março.
Os leitos de UTI para coronavírus do Extremo-Sul da Bahia estão 78% ocupados, segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Ainda de acordo com a pasta, o índice de ocupação geral dos leitos voltados para a doença da região é de 56%.
Moradora de Teixeira de Freitas, a estudante Gilceia Stein, 43 anos, relatou que grande parte das pessoas que andam pelas ruas da cidade não usa máscara, inclusive dentro de estabelecimentos comerciais. “As pessoas estão vivendo como se não existisse amanhã. Até em uma padaria, o atendente estava sem máscara. As pessoas não estão se importando com o coronavírus”, comenta a estudante. Para ela, a não adesão do “lockdown parcial” por parte da prefeitura dá o aval para comportamentos de risco.
Na cidade, apenas o toque de recolher decretado pelo governo do estado entre às 20h e às 5h é seguido. Na sexta-feira, a prefeitura permitiu, em decreto municipal, o funcionamento normal do comércio local, medida renovada com a prorrogação das restrições pelo Estado. A gestão municipal permitiu a celebração de cultos religiosos até às 19h30 e a atividade de lojas, bares e restaurantes até às 20h. Até mesmo a venda de bebida alcoólica, que ficou proibida entre às 18h de sexta-feira e às 5h de segunda no estado, não foi acatada pela gestão.
A assessoria de imprensa da prefeitura informou apenas que as explicações já constavam no texto do decreto municipal, que aponta que a gestão local é autônoma e que o lockdown determinado pelo estado contraria os interesses e a economia da cidade.
Ainda no Extremo-Sul do estado, Eunápolis também segue apenas o toque de recolher imposto pelo governo do estado. Na cidade, o comércio pôde funcionar até às 20h entre sexta e domingo. Sem proibir as atividades não essenciais, um novo decreto municipal publicado na segunda alterou o horário máximo de funcionamento dos estabelecimentos para às 19h30.
A Prefeitura de Eunápolis ainda permitiu a realização dos cultos religiosos até às 19h30 durante o final de semana, mas o Governo do Estado só revogou a suspensão destas atividades no estado na última segunda.
Prefeita de Eunápolis, Cordélia Torres afirmou que não existe razão para ter lockdown na cidade. Ela acredita que o problema não é manter o funcionamento do comércio, mas deixar as medidas de segurança de lado. “Não adianta limitar o horário de funcionamento do comércio, se praia, rodoviária, aeroporto e ônibus estiverem cheios, e festas clandestinas estejam acontecendo. A consciência está em cada indivíduo. É preciso ser responsável por suas atitudes. O que precisamos é ter empatia. É preciso abrir o comércio, é preciso gerar emprego e renda, é preciso dar oportunidade de trabalho às pessoas, agora, acima de tudo, é preciso agir com muita responsabilidade a tudo isso que estamos fazendo”, respondeu a prefeita.
PARCIAL
Em Itamaraju, a Prefeitura começou o período de lockdown parcial sem aderir ao decreto do governo do estado, mas mudou de ideia na segunda-feira, quando foi publicado um texto que determinou o fechamento das atividades não essenciais na cidade entre a segunda e hoje. O toque de recolher sempre foi seguido por lá.
Entre a última sexta-feira e domingo, os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços da cidade do município puderam funcionar das 5h às 19h30.
Guaratinga fez o movimento contrário de Itamaraju. Na última sexta-feira, a Prefeitura determinou que o decreto estadual que instaurou o lockdown parcial na Bahia tivesse pleno vigor na cidade. Entretanto, na segunda, a gestão local publicou um novo texto, que manteve toque de recolher até 8 de março, mas permitiu o funcionamento de qualquer estabelecimento comercial até às 18h.
A prefeitura de Guaratinga informou que o lockdown não teve continuidade na cidade porque os comerciantes locais não suportariam mais dias de comércio fechado.
IRRESPONSABILIDADE
Em resposta ao CORREIO, o governo do estado caracterizou o não cumprimento das medidas mais restritivas de isolamento como um ato de irresponsabilidade. De acordo com a gestão estadual, as ações foram baseadas no “gravíssimo quadro da doença no estado, com a maior parte das regiões com ocupação de leitos acima de 80%”.
“O temor é pelo colapso do sistema de saúde que aumentará significativamente o número de vítimas graves e fatais”, afirmou o governo do estado. De acordo com a Sesab, os impactos do lockdown parcial só são percebidos, pelo menos, 15 dias após a adoção das medidas restritivas.