‘Brasil parou no tempo sobre a vacina’, diz Neto
Presidente do DEM e Mandetta analisam em live por que o Brasil vive a pior fase da pandemia
O presidente nacional do Democratas e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, deputado federal pelo DEM do Mato Grosso do Sul, participaram ontem de uma live transmitida nas redes sociais, cujo tema foi “Um ano de covid: Por que o Brasil vive o pior momento da pandemia?”, No encontro vitual, ambos debateram a crise sanitária e analisaram os motivos que levaram o país a bater novo recorde de mortos pelo novo coronavírus: 1.726 nas últimas 24 horas.
Mandetta e ACM Neto fizeram duras críticas à postura do governo federal em meio à crise de saúde pública nacional e, de forma indireta, também criticaram o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), alegando que falta "liderança" da parte dele e que a situação ideal seria a união do governo central com os estados e municípios para controlar o vírus.
“A gente perdeu muito tempo e alguns colaboraram para isso, discutindo ciência versus economia”, afirmou ACM Neto, referindo-se à necessidade de adoção de medidas restritivas para conter o contágio, que foram criticadas e desestimuladas por Bolsonaro.
O presidente do DEM também lembrou do atraso da vacinação no Brasil em relação a outros países e citou a inércia do governo federal e a burocracia de todo o processo para a aquisição de imunizantes. Segundo ele, o plano nacional de vacinação “não passa de ficção” e o país ficou para trás por se preocupar demais com a origem da vacina. “O Brasil parou no tempo sobre a vacina, ficou esperando a coisa acontecer, fez apostas erradas”, opinou.
EX-MINISTRO
Durante a live, Luiz Henrique Mandetta manteve o mesmo tom das críticas que passou a tecer contra a política de saúde pública do governo federal após deixar o comando do Ministério da Saúde, em abril de 2020, depois de um mês de atritos com o presidente da República sobre como enfrentar a pandemia da covid-19. Depois de sua saída, Mandetta chegou a dizer que o comportamento de Bolsonaro durante a pandemia “contribuiu para elevar o número de mortes no país”.
Ontem, o ex-ministro da Saúde reclamou da ausência de testagem em massa e da desativação de leitos de UTI mantidos pelo governo federal em diversas cidades; também censurou a defesa feita pelo presidente da República de remédios como a cloroquina, já cientificamente comprovado que não serve para a covid-19 e que pode causar sérios danos ao fígado e até piorar a situação dos infectados pelo coronavírus que fizerem uso massivo do medicamento. Luiz Mandetta também falou da onda generalizada de descrédito na ciência estimulada pelo “negacionismo de Bolsonaro”.
Ele ainda atacou a atual gestão do Ministério da Saúde e disse que falta uma campanha por parte da pasta para conscientizar a população sobre as medidas de proteção contra o vírus. “Estamos sem ministro da saúde, há uma ausência hoje”, afirmou o ex-titular do MS, que também condenou a disputa política feita a partir do cenário de pandemia e disse que as divergências deveriam ter sido deixadas para 2022. “O vírus não quer saber se você é radical, se é de direita ou de esquerda, ele quer saber se você vai dar carona para ele”, pontuou o médico.
VACINAÇÃO
De acordo com a análise de Luiz Mandetta, para que a vacina tenha efeito coletivo, será preciso vacinar ao menos 60% da população. Ele também projetou que, a partir de abril, o Instituto Butantan, que é parceiro da chinesa Sinovac na produção da CoronaVac, e a Fiocruz, que produz a vacina de Oxford/AstraZeneca, vão acelerar o envasamento de novas doses. O médido ainda ponderou que o Brasil é dependente da China em relação aos insumos para as duas vacinas aplicadas hoje no país (justamente a CoronaVac e a de Oxford) e, por isso, precisa manter boas relações exteriores.
Os dois políticos defenderam a autorização de compra de vacinas por prefeitos e governadores, concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 23 de fevereiro, e declararam estar na torcida pela aquisição da vacina da Johnson & Johnson, que é aplicada em dose única e de fácil armazenagem: “Seria o nosso sonho”, disse Luiz Mandetta.
O ex-ministro da saúde apontou ainda que a educação deve ser prioridade na vacinação e que, depois dos profissionais da saúde, os próximos da fila deveriam ser os profissionais do setor de educação.
ACM Neto complementou lamentando o fechamento das escolas, mas reforçou que o cenário atual não permite qualquer movimento de retorno de aulas presenciais.
“Acreditei que em fevereiro e março já seria possível voltar, mas aí veio essa onda tão agressiva e agora não há segurança”, afirmou o ex-prefeito de Salvador.
PROGNÓSTICOS
Mandetta e ACM Neto reforçaram a preocupação com a situação atual do vírus no país, ressaltando as altas taxas de ocupação nas UTIs, o aumento de casos graves e o maior acometimento de pessoas cada vez mais jovens. “Os números apresentam uma tendência de piora”, alertou Mandetta, que também fez um apelo para que os jovens tenham consciência e não se aglomerem.
O ex-ministro mostrou preocupação também com o estoque de oxigênio dos estados, devido à falta do insumo em Manaus, e disse que não descarta a possibilidade de escassez, afirmando ainda já ter alertado o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis.
Segundo ele, os cenários mais críticos no momento podem ser vistos no Nordeste e no Sul do país, e que a próxima região a ter a pandemia agravada é a Sudeste.
“São Paulo vem mostrando que o final de março será ainda mais crítico”, ressaltou Luiz Mandetta, que defendeu a continuidade do pagamento do auxílio emergencial até que a vacinação esteja avançada, o que ele projeta que deve acontecer entre setembro e outubro deste ano.
O ex-ministro se despediu da live alertando que ainda é preciso ter paciência. “Se a gente voltar para nossas vidas normais, vai acontecer uma Manaus generalizada no Brasil”, disse. Ele também relembrou e criticou a sugestão dada por muitos de que a população se infectasse e aguardasse pela chamada imunidade de rebanho. “Se todo mundo pegar, vai ser uma tragédia monumental ainda maior”, destacou.
Ao finalizar, Luiz Mandetta afirmou ainda que “a receita é seguir a ciência” e defendeu as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos pelo país. “Temos que ser mais duros com o vírus do que ele está sendo com a gente”, completou.
ACM Neto e o ex-ministro não falaram de planos para as eleições de 2022, mas, ao encerrar o programa, o ex-ministro da saúde se comprometeu com o presidente do DEM: “Nos seus próximos projetos e caminhos, pode ter certeza de que eu vou estar junto. Nós vamos caminhar um bom trecho dessa Bahia para conversar com esse povo baiano”, finalizou.
Apelo para que todos façam sua parte. Quando era prefeito, o que me tirava o sono era ter colapso na saúde, que alguém morresse sem respirador. Continuo rezando para que tudo continue dando certo ACM Neto Presidente do DEM e ex-prefeito de Salvador por dois mandatos
Tem oito meses que o Brasil assinou a entrada no Covax Facility. Se tivéssemos agilidade para destravar a Covax, conseguir adquirir doses, estaríamos tranquilos Luiz Mandetta Médico e ex-ministro da Saúde, ontem, durante live com ACM Neto, presidente do DEM e ex-prefeito de Salvador