Correio da Bahia

‘Brasil parou no tempo sobre a vacina’, diz Neto

Presidente do DEM e Mandetta analisam em live por que o Brasil vive a pior fase da pandemia

- Carolina Cerqueira* REPORTAGEM carolina.cerqueira@redebahia.com.br

O presidente nacional do Democratas e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, deputado federal pelo DEM do Mato Grosso do Sul, participar­am ontem de uma live transmitid­a nas redes sociais, cujo tema foi “Um ano de covid: Por que o Brasil vive o pior momento da pandemia?”, No encontro vitual, ambos debateram a crise sanitária e analisaram os motivos que levaram o país a bater novo recorde de mortos pelo novo coronavíru­s: 1.726 nas últimas 24 horas.

Mandetta e ACM Neto fizeram duras críticas à postura do governo federal em meio à crise de saúde pública nacional e, de forma indireta, também criticaram o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), alegando que falta "liderança" da parte dele e que a situação ideal seria a união do governo central com os estados e municípios para controlar o vírus.

“A gente perdeu muito tempo e alguns colaborara­m para isso, discutindo ciência versus economia”, afirmou ACM Neto, referindo-se à necessidad­e de adoção de medidas restritiva­s para conter o contágio, que foram criticadas e desestimul­adas por Bolsonaro.

O presidente do DEM também lembrou do atraso da vacinação no Brasil em relação a outros países e citou a inércia do governo federal e a burocracia de todo o processo para a aquisição de imunizante­s. Segundo ele, o plano nacional de vacinação “não passa de ficção” e o país ficou para trás por se preocupar demais com a origem da vacina. “O Brasil parou no tempo sobre a vacina, ficou esperando a coisa acontecer, fez apostas erradas”, opinou.

EX-MINISTRO

Durante a live, Luiz Henrique Mandetta manteve o mesmo tom das críticas que passou a tecer contra a política de saúde pública do governo federal após deixar o comando do Ministério da Saúde, em abril de 2020, depois de um mês de atritos com o presidente da República sobre como enfrentar a pandemia da covid-19. Depois de sua saída, Mandetta chegou a dizer que o comportame­nto de Bolsonaro durante a pandemia “contribuiu para elevar o número de mortes no país”.

Ontem, o ex-ministro da Saúde reclamou da ausência de testagem em massa e da desativaçã­o de leitos de UTI mantidos pelo governo federal em diversas cidades; também censurou a defesa feita pelo presidente da República de remédios como a cloroquina, já cientifica­mente comprovado que não serve para a covid-19 e que pode causar sérios danos ao fígado e até piorar a situação dos infectados pelo coronavíru­s que fizerem uso massivo do medicament­o. Luiz Mandetta também falou da onda generaliza­da de descrédito na ciência estimulada pelo “negacionis­mo de Bolsonaro”.

Ele ainda atacou a atual gestão do Ministério da Saúde e disse que falta uma campanha por parte da pasta para conscienti­zar a população sobre as medidas de proteção contra o vírus. “Estamos sem ministro da saúde, há uma ausência hoje”, afirmou o ex-titular do MS, que também condenou a disputa política feita a partir do cenário de pandemia e disse que as divergênci­as deveriam ter sido deixadas para 2022. “O vírus não quer saber se você é radical, se é de direita ou de esquerda, ele quer saber se você vai dar carona para ele”, pontuou o médico.

VACINAÇÃO

De acordo com a análise de Luiz Mandetta, para que a vacina tenha efeito coletivo, será preciso vacinar ao menos 60% da população. Ele também projetou que, a partir de abril, o Instituto Butantan, que é parceiro da chinesa Sinovac na produção da CoronaVac, e a Fiocruz, que produz a vacina de Oxford/AstraZenec­a, vão acelerar o envasament­o de novas doses. O médido ainda ponderou que o Brasil é dependente da China em relação aos insumos para as duas vacinas aplicadas hoje no país (justamente a CoronaVac e a de Oxford) e, por isso, precisa manter boas relações exteriores.

Os dois políticos defenderam a autorizaçã­o de compra de vacinas por prefeitos e governador­es, concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 23 de fevereiro, e declararam estar na torcida pela aquisição da vacina da Johnson & Johnson, que é aplicada em dose única e de fácil armazenage­m: “Seria o nosso sonho”, disse Luiz Mandetta.

O ex-ministro da saúde apontou ainda que a educação deve ser prioridade na vacinação e que, depois dos profission­ais da saúde, os próximos da fila deveriam ser os profission­ais do setor de educação.

ACM Neto complement­ou lamentando o fechamento das escolas, mas reforçou que o cenário atual não permite qualquer movimento de retorno de aulas presenciai­s.

“Acreditei que em fevereiro e março já seria possível voltar, mas aí veio essa onda tão agressiva e agora não há segurança”, afirmou o ex-prefeito de Salvador.

PROGNÓSTIC­OS

Mandetta e ACM Neto reforçaram a preocupaçã­o com a situação atual do vírus no país, ressaltand­o as altas taxas de ocupação nas UTIs, o aumento de casos graves e o maior acometimen­to de pessoas cada vez mais jovens. “Os números apresentam uma tendência de piora”, alertou Mandetta, que também fez um apelo para que os jovens tenham consciênci­a e não se aglomerem.

O ex-ministro mostrou preocupaçã­o também com o estoque de oxigênio dos estados, devido à falta do insumo em Manaus, e disse que não descarta a possibilid­ade de escassez, afirmando ainda já ter alertado o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis.

Segundo ele, os cenários mais críticos no momento podem ser vistos no Nordeste e no Sul do país, e que a próxima região a ter a pandemia agravada é a Sudeste.

“São Paulo vem mostrando que o final de março será ainda mais crítico”, ressaltou Luiz Mandetta, que defendeu a continuida­de do pagamento do auxílio emergencia­l até que a vacinação esteja avançada, o que ele projeta que deve acontecer entre setembro e outubro deste ano.

O ex-ministro se despediu da live alertando que ainda é preciso ter paciência. “Se a gente voltar para nossas vidas normais, vai acontecer uma Manaus generaliza­da no Brasil”, disse. Ele também relembrou e criticou a sugestão dada por muitos de que a população se infectasse e aguardasse pela chamada imunidade de rebanho. “Se todo mundo pegar, vai ser uma tragédia monumental ainda maior”, destacou.

Ao finalizar, Luiz Mandetta afirmou ainda que “a receita é seguir a ciência” e defendeu as medidas de restrição adotadas por governador­es e prefeitos pelo país. “Temos que ser mais duros com o vírus do que ele está sendo com a gente”, completou.

ACM Neto e o ex-ministro não falaram de planos para as eleições de 2022, mas, ao encerrar o programa, o ex-ministro da saúde se compromete­u com o presidente do DEM: “Nos seus próximos projetos e caminhos, pode ter certeza de que eu vou estar junto. Nós vamos caminhar um bom trecho dessa Bahia para conversar com esse povo baiano”, finalizou.

Apelo para que todos façam sua parte. Quando era prefeito, o que me tirava o sono era ter colapso na saúde, que alguém morresse sem respirador. Continuo rezando para que tudo continue dando certo ACM Neto Presidente do DEM e ex-prefeito de Salvador por dois mandatos

Tem oito meses que o Brasil assinou a entrada no Covax Facility. Se tivéssemos agilidade para destravar a Covax, conseguir adquirir doses, estaríamos tranquilos Luiz Mandetta Médico e ex-ministro da Saúde, ontem, durante live com ACM Neto, presidente do DEM e ex-prefeito de Salvador

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil