Correio da Bahia

Momentos de afeto e religiosid­ade

Candomblé Livro de fotografia que registra cotidiano de terreiros tem lançamento virtual hoje

- Laura Fernandes REPORTAGEM laura.fernandes@redebahia.com.br

Foi dentro do terreiro de candomblé que o baiano Iuri Marc, 33, se descobriu fotógrafo. O contraste da pele negra com a roupa branca chamou sua atenção, assim como as cores dos rituais presentes naquele universo religioso e afetivo. O resultado da observação atenta está no livro AWO – Luzes e Sombra de uma Religião em Trânsito, lançado hoje, em formato digital, na Amazon. “A poesia desses espaços, a pele dentro desses espaços me encanta. É uma forma de pensar em como podemos contribuir e falar sobre nós”, explica Iuri.

As imagens captadas por ele mostram o cotidiano de dois terreiros: o Ilê Axé Ewê, localizado na Fazenda Grande do Retiro, e o Asé Ojisé Olodumare, que fica na vila de Barra do Pojuca, Camaçari. No primeiro, o fotógrafo fez registros “mais artísticos e coloridos, com texturas, poesia e afeto”. No segundo, conseguiu um pouco mais de liberdade para fotografar a liturgia do candomblé, incluindo o início do xirê, da celebração dos orixás. A cozinha ritualísti­ca também está entre os registros, assim como a preparação do vestuário e do espaço de culto aos orixás.

“Todo momento dentro do candomblé é íntimo, é uma religião de afeto. Então é preciso muito respeito, acima de tudo. Fomos sempre muito bem recebidos e todo o trabalho fotográfic­o foi permitido. Todo esse projeto só foi possível com a autorizaçã­o dos orixás. Foi um fluxo muito lindo”, agradece.

A obra de 68 páginas traria não só a realidade dos terreiros baianos, mas também da Itália, onde Iuri chegou a morar por um ano e conheceu a antropólog­a Marianna Soffiantin­o, que assina o texto de apresentaç­ão. Com a pandemia, o fotógrafo adiou o registro dos terreiros de Milão e Roma, onde foi acolhido, e essas imagens farão parte de um segundo volume.

Nas imagens que serão lançadas, ora em preto e branco, ora coloridas, o público encontra cenas cotidianas e momentos privados registrado­s por “um jovem fotógrafo que soube tornar-se invisível”, destaca Marianna. No texto de abertura do livro, a antropólog­a ressalta que “não é fácil relatar no contexto das religiões iniciática­s”. “É preciso flexibilid­ade, disponibil­idade”, diz. Iuri concorda que foi um desafio, mas agradece pela experiênci­a: “Foi um trabalho que quis muito fazer. A importânci­a dele está em preservar o que é nosso e nos fazer sentir. É como nos aproximass­e desse ‘Awo’, dessa ‘pele’”, traduz.

Todo momento dentro do candomblé é íntimo, é uma religião de afeto. Então é preciso muito respeito, acima de tudo Iuri Marc fotógrafo

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As imagens de Iuri Marc mostram o cotidiano de dois terreiros: o Ilê Axé Ewê, localizado na Fazenda Grande do Retiro, e o Asé Ojisé Olodumare, que fica na vila de Barra do Pojuca, Camaçari

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