Lições do tombo econômico
A queda histórica do PIB reforça a urgência de recuperar o atraso da vacinação e da agenda de reformas
A queda histórica do PIB brasileiro em 2020 traz lições que precisam ser absorvidas com urgência por aqueles a quem cabe retirar a nação da areia movediça na qual se encontra sob risco de ser completamente sugada. Embora a pandemia seja a maior culpada pelo enorme encolhimento da economia do país, o maior registrado desde 1996, ela não pode mais servir de desculpa para a paralisia que dominou o governo federal diante do enfrentamento da crise sanitária.
Na lista de ensinamentos deixados pelo tombo do PIB, a necessidade de acelerar o quanto antes o processo de vacinação em massa está no topo. O presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares do Planalto devem compreender de vez que a única maneira de escapar da crise e reencontrar o caminho da retomada em um futuro próximo é imunizar a população com rapidez. Líderes de grandes organismos financeiros internacionais e especialistas reconhecidos da área econômica já alertaram que, sem isso, a recuperação será extremamente lenta e indefinida.
Na maratona global da vacinação, o Brasil ainda se mistura à fila dos retardatários no grupo formado pelas maiores economias do mundo. Para alcançar o pelotão de frente, terá que recuperar o longo tempo perdido pelo atraso na montagem do plano de imunização, em meio às resistências sistemáticas em negociar com laboratórios e às desqualificações da vacina como instrumento essencial no combate ao vírus.
Sem falar da queda de braço com governadores, prefeitos e autoridades em saúde, nitidamente alimentada por conflitos de natureza política, ou das declarações polêmicas feitas pelo presidente, que parece mais disposto a criar tensões do que soluções. O agravamento da pandemia exige o abandono de tais posturas, com absoluta concentração de esforços em ampliar a velocidade e o alcance da vacinação. Não há mais margem para manter o país no círculo infinito e vicioso que o acorrenta à crise e o arrasta a passos largos para um horizonte de perspectivas sombrias. Quanto mais se demora, mais distante fica a saída do poço.
Em movimento simultâneo, o governo deve olhar com bastante cuidado para outra lição legada pelo desempenho assustador do PIB: a importância de levar adiante reformas estruturais das agendas econômica e fiscal, como a tributária e a administrativa. Caso o Planalto tivesse se dedicado a concretizar tais projetos desde o início de 2019, o Brasil estaria menos vulnerável aos impactos causados pela pandemia e melhor preparado para superar sem tantos danos o turbilhão provocado por ela.
Nesse diapasão, o gradual enfraquecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, gera uma instabilidade totalmente desnecessária e danosa ao país. No atual momento, a eventual queda de Guedes nome que mantém algum nível de confiabilidade junto ao mercado financeiro, investidores internacionais, representantes do setor produtivo e líderes do Congresso - seria desastrosa. Especialmente, porque está claro que o Brasil não suportará outro tombo de tamanha magnitude.