Governo criou orçamento ‘secreto’ de R$ 3 bi, diz jornal
CONTAS PÚBLICAS O governo federal montou um orçamento secreto de R$ 3 bilhões em emendas para garantir apoio de sua base aliada no Congresso. Desse valor, pelo menos R$ 271 milhões foram para tratores, retroescavadeiras e equipamentos agrícolas. A revelação foi feita ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo. No caso de 115 tratores ao preço de R$ 15 milhões, o jornal identificou que apenas 12 deles seriam compradas dentro dos valores de referência do próprio governo.
Segundo o jornal, o Ministério do Desenvolvimento Regional reconheceu em documento que foram os parlamentares, e não a pasta, que definiu a aplicação de R$ 3 bilhões em verbas. Os ofícios com a indicações dos gastos partiram de 37 deputados e cinco senadores, entre eles o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a hoje ministra Flávia Arruda (PL-DF), o ex-líder do governo na Câmara, Vítor Hugo (PSL-GO), e o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP).
A oposição destacou que a acusação acontece em meio à falta de insumos para o combate à pandemia de coronavírus. "O tratoraço de Bolsonaro entrará pra lista dos crimes perversos desse governo", disse a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP).
O jornal paulista analisou 101 ofícios de parlamentares a ministérios do governo de Jair Bolsonaro nos últimos três meses. Neles, os congressistas solicitam a compra de produtos e serviços, incluindo equipamentos agrícolas.
Um deputado de Rondônia pediu a compra de tratores, mas o preço era maior que o triplo registrado. "O governo aceitou pagar R$ 359 mil num trator que, pelas regras normais, somente liberaria R$ 100 mil dos cofres públicos", diz o jornal. Apesar de terem base eleitoral 2 mil quilômetros distante de Goiás, dois deputados da região Norte, um do Amazonas e outro de Rondônia, destinaram R$ 4 milhões para Padre Bernardo (GO), no entorno de Brasília. O dinheiro serviria para adquirir máquinas agrícolas. Mas, pela tabela do governo federal, elas custariam bem menos: R$ 2,8 milhões. O ex-líder do governo Vítor Hugo disse ao jornal que "não houve sugestão de preços" para os equipamentos. Ele responsabilizou as prefeituras.