Ameaças de morte, ofensas racistas e misoginia
Ex-feirante, Eliana Gonzaga foi a primeira mulher, e negra, desde a emancipação de Cachoeira, em 1837, a comandar a cidade. Venceu a última eleição, em novembro de 2020, derrotando o empresário Fernando Pereira (PSD), conhecido como Tato, que tentava a reeleição. Se ganhasse, seria o seu quarto mandato.
Dois dias depois do resultado da eleição, Eliana recebeu a primeira ameaça de morte. “Ligaram para meu celular e quando atendi deram rajada de tiros. Nos dias seguintes, surgiu lista com as pessoas que iriam morrer, caso eu não renunciasse”.
O caso ficou mais grave depois que dois correligionários dela foram assassinados. A primeira vítima foi Ivan Passos, morto em 17 de novembro, dois dias após a vitória. A segunda vítima foi
Georlando Silva, que era coordenador de obras da prefeitura, morto em março, com 10 tiros. Além disso, a prefeita foi seguida por homens de moto, que fugiram após intervenção da polícia.
Ontem, Eliana contou que depois que o caso ganhou repercussão as ameaças diretas cessaram, mas os ataques continuam nas redes sociais. Ela disse que está despachando e cumprindo agendas oficiais, que a rotina da prefeitura e o atendimento ao cidadão segue normal, mas que por precaução não dorme em Cachoeira.
O secretário nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Paulo Roberto, integrante da força-tarefa criada para acompanhar o caso, destacou as disparidades entre homens e mulheres no Brasil, e reforçou que Eliana terá ajuda.
“A primeira eleição no Brasil foi em 1532. O país tinha 32 anos de descoberto, mas a mulher só passou a votar em 1932, foram 400 anos de exclusão. E, hoje, 52% do nosso eleitorado é feminino e isso não é reverberado na câmara decisória. Pelo menos 27,8% das mulheres se autodeclaram negras e temos 2% dessa representação no Congresso,” enumerou Paulo Roberto.