Araújo atuou para garantir cloroquina
CPI quer investigar ex-chanceler por compra de remédio denunciada em jornal
A CPI da Covid quer investigar a ação do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo que garantiu o fornecimento de cloroquina ao Brasil. De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o ex-chanceler ofereceu a estrutura do Itamaraty para a vinda do medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19 mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) interromper testes clínicos. O depoimento de Araújo na comissão, que inicialmente estava previsto para esta semana, foi adiado para o dia 18.
De acordo com o jornal, que teve acesso as mensagens, a corrida do Itamaraty atrás da cloroquina começou pouco depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falar em "possível cura para a doença" em suas redes sociais, em 21 de março de 2020. Na época, a Prevent Senior e o hospital Albert Einstein, em São Paulo, haviam anunciado que tinham iniciado estudos com a droga. Segundo o jornal, em declaração durante reunião do G-20, em 26 de março, relatada em telegrama, Bolsonaro apontou para "testes bem-sucedidos".
No mesmo dia, mesmo não existindo nenhum "teste bem-sucedido" em hospitais brasileiros, o Ministério das Relações Exteriores pediu, em telegrama, que os diplomatas tentassem a liberação de insumos para o medicamento. “Aos diplomatas, que tentem sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas antes referidas [EMS, Eurofarma, Biolab e Apsen] e outras que se encontrem em igual condição, cujo desabastecimento no Brasil teria impactos muito negativos no sistema nacional de saúde".
ÍNDIA
Na época, o governo indiano havia restringido a exportação da cloroquina. Cerca de duas semans depois, em 15 de abril de 2020, o ministério pede que a embaixada na Índia faça gestões junto ao governo indiano para liberar uma carga de hidroxicloroquina comprada pela empresa Apsen.
De acordo com a reportagem, durante todo o mês de abril, houve inúmeros pedidos do Itamaraty para obtenção de cloroquina. Até mesmo depois de a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira desaconselharem o uso da cloroquina contra a covid-19 e apontarem efeitos colaterais graves, em 19 de maio, o Itamaraty continuou acionando o corpo diplomático, em telegramas em junho, para garantir o fornecimento de hidroxicloroquina.
A mesma dedicação, porém, não aconteceu para a aquisição de imunizantes contra o coronavírus. Até novembro de 2020, o ministério não havia enviado instruções específicas para diplomatas prospectarem potenciais fornecedores de vacinas ou medicamentos na China, segundo pessoas envolvidas em negociações.
A China é o país que mais produz imunizantes contra a covid e foi alvo de ataques constantes durante a gestão de Ernesto. O país tem cinco vacinas aprovadas pelas autoridades sanitárias locais, entre elas a da gigante Sinopharm —ainda que os produtos chineses tenham eficácia menor do que os da Pfizer e da Moderna, por exemplo. Segundo a Folha, que ouviu pessoas envolvidas na negociação, houve apenas pedidos vagos de informação sobre as vacinas.