Quase meio milhão de vacinas retidas
Bahia tem 440 mil segundas doses da AstraZeneca paradas no estoque; em Salvador, há 48 mil. Secretário da Saúde da capital defende antecipar prazo
Com 48 mil unidades da Oxford/AstraZeneca paradas no estoque da prefeitura de Salvador para serem usadas como vacina de reforço, o secretário de Saúde da capital, Leo Prates, elevou a pressão para antecipar o prazo de quem já tomou a primeira dose do imunizante e acelerar a cobertura plena contra a covid. Na Bahia, o contingente é de 440 mil doses retidas na fila de espera sem serventia alguma, segundos dados da própria Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). E elas já poderiam estar no braço da população.
Descontada a soma de Salvador, há cerca de 400 mil segundas doses da AstraZeneca paradas no restante do estado. Esse contingente serviria para completar mais rapidamente a vacinação com o imunizante em uma fatia substancial dos baianos de outros 416 municípios. Contudo, o secretário estadual de Saúde, Fabio Vilas-Boas, defende que qualquer alteração no cronograma deve ser fruto de “decisão pactuada nacionalmente”. O chefe da Sesab, por outro lado, não respondeu se é a favor ou contra a antecipação da segunda dose.
Na contramão da Sesab, Leo Prates busca sensibilizar o Ministério da Saúde a aceitar alterações no cronograma. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a segunda dose da AstraZeneca deve ser usada entre 4 e 12 semanas. Mas a recomendação do ministério é que o prazo seja o maior possível, ou seja, três meses, com base nos índices de eficácia definidos pelo laboratório que desenvolveu o imunizante.
A bula da vacina, disponível no site da Anvisa, indica que, entre 9 e 11 semanas de diferença entre as duas doses, a AstraZeneca tem 72,3% de eficácia. Já no período igual ou acima de 12 semanas, o percentual chega a 80%. Para Leo Prates, esses 8% a menos não fazem tanta diferença. Opinião compartilhada por especialistas ouvidos pela reportagem (leia mais abaixo) .
“Minha defesa é que o Ministério da Saúde mantenha o aprazamento de 12 semanas, colocando a possibilidade de antecipação para nove semanas, caso haja D2 (segunda dose) em estoque. O que não queremos são doses paradas! Salvador está com 48 mil doses que só começarão a ser aplicadas a partir do dia 22/07 e foram recebidas dia 09/07. Tá certo isso?”, argumentou o secretário, em postagem feita, sexta-feira de manhã, em seu perfil no Twitter.
CONTRA A RETENÇÃO
Leo Prates alegou que é mais vantajoso antecipar a segunda dose, até porque a eficácia da vacina ainda seria maior que a de concorrentes como a Coronavac (50,48%) e a Janssen (66%). A justificativa é a de que mais pessoas estariam imunizadas com o esquema completo, e o armazenamento das vacinas seria evitado. Atualmente, o Distrito Federal e sete capitais decidiram adotar a estratégia de aplicar o reforço da AstraZeneca em oito semanas: Rio Branco, Fortaleza, Vitória, Campo Grande, Recife, Florianópolis e Palmas.
A movimentação de Leo Prates esbarra não só no ministério. A Sesab, em reunião da Comissão Intergestora Bipartite (CIB), que define semanalmente a destinação das doses, rejeitou a proposta de antecipar o prazo. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai no mesmo caminho.
“A Fiocruz reforça as orientações do PNI (Programa Nacional de Vacinação) e da Nota técnica conjunta da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicada na terça-feira (13), quanto à manutenção do intervalo de 12 semanas da vacina”, defendeu a fundação, por meio de nota.
A Fiocruz acrescenta também que a resposta imunológica é maior quando o intervalo entre as doses for aumentando. “Adicionalmente, o regime de 12 semanas permite ainda acelerar a campanha de vacinação, garantindo a proteção de um maior número de pessoas”, destacou.