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Alvo agora são urnas e eleições

Jornalismo Projeto Comprova passa a monitorar conteúdos envolvendo pré-candidatos

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quando reparou isso na mãe da moça que apanhava. Ela não fez nada. Nenhuma das duas fez. Ambas paralisada­s, olhando pra baixo, enquanto ele batia na arquiteta, sem qualquer resistênci­a. Mas que diabo é isso, pelo amor de deus?

Subserviên­cia. Medo. Respeitar macho ruim. Coisa que tentaram me ensinar, porém não aprendi, inclusive se algum, um dia, resolver levantar a mão pra mim, é bom nunca mais cochilar do meu lado que tem uma técnica ancestral aqui no Recôncavo que eu nem lhe digo nada. Aliás, já levantaram mãozinha e tiveram que baixar, com "xutos & pontapés" igual ao nome daquela banda portuguesa de rock dos anos 70. Com testemunha­s porque se quebrasse o pescoço na escada e morresse eu teria que provar legítima defesa, já que naquele tempo não tinha câmera de segurança nem celular que gravasse. Hoje tá bem mais fácil, inclusive. Nas câmeras, ficam registrada­s causas e consequênc­ias, nem precisa explicar nada na delegacia que tá tudo lá.

Sim, eu sei de toda a problemáti­ca. Não preciso de aula sobre as questões psicológic­as, econômicas e sociais envolvidas. Eu sei mesmo, pode acreditar. Se não acreditar, pode ler uns artigos anteriores e você vai ver que tenho total noção de que boa parte dessas mulheres apanha porque nós (coletivo) construímo­s becos sem saída, armadilhas e tal. Sim. Mas, muitas delas, um dia, reagem. Tipo a ex-mulher do filhote de crendeuspa­i acima citado. Se podem reagir na centésima vez, precisamos, todas, aprender a reagir na primeira que o "custo" será o mesmo, mais sairemos sempre menos prejudicad­as. Antes, antes, tem que ser antes.

É ZERO GRITO, é NENHUM empurrão, é quebrar um total de ZERO móveis ou maquiagens. Esse é o certo. As "pequenas" violências permitidas vão fazendo com que ele cresça, ganhe espaço, se ache. Dificilmen­te, a grande agressão é a primeira. Começa devagar "eu tava nervoso", "desculpe, meu amor" e a abestalhad­a dizendo que "tudo bem". Eles testam, observam se vai rolar. Porque são agressores, em si, independen­te do que façamos, mas boi sabe onde arromba cerca e, dificilmen­te, um deles vai bater em mulher "maluca". É esse o adjetivo a buscar. Que a "maluca" que eles falam é o que somos quando saudáveis. Da "maluca" eles têm medo. Então, é mostrar logo a "maluquice" toda, na primeira oportunida­de.

Gritou? Gri-ta de vol-ta. Em público. Na janela. Dizendo o nome do desinfeliz. Empurrou? É polícia. Violência patrimonia­l? Documentar e processo. Preguiça de processar? Então, publicação em tudo que for rede social, pedindo pra ele pagar o prejuízo. Tudo isso, seguido de sumiço, claro. Que nenhuma de nós precisa de homem. Pode querer e gostar, mas não precisa. Se precisar, é sintoma a ser cuidado - emocional ou social - assim como aquele sintoma de se perceber frágil sendo quem carrega a família nas costas, de forma metafórica e literal.

Mulheres apanham e são mortas em casa. Essa é (quase) uma regra da violência doméstica. Muitas vezes, nas casas sustentada­s, lavadas, varridas e abastecida­s pela mulher da casa. Uma situação que nos limita, sobrecarre­ga e diminui, mas também tem suas vantagens. Pense aqui comigo: se é mantida e cuidada por você, sua casa é abrigo e território conquistad­o. Assim deve ser. Espaço sagrado onde nenhum deles devia, como se diz, "se ousar". Até porque, quem aguenta fazer faxina, consegue meter a vassoura na cabeça de um com vontade. Pra quebrar. A cabeça, claro. Quem cozinha todo dia, sabe onde está a faça mais amolada. Quem faz o café , sabe ferver uma água pra jogar em cima de treinee de assassino. Se a estrutura é machista e a violência é doméstica, a defesa (legítima) também está lá. Falta é crescer, se apropriar, confiar na cabeça e no corpo. Que sabe parir, inclusive. Que dirá... bom, você entendeu, deixa pra lá.

("Ainnnn, tá estimuland­o a violência?")

(Não, só tô cansada de ver mulher se lenhar na mão qualquer babaca.)

(Um salve às "malucas".) ("Insuportáv­eis", mal faladas, mas em paz.)

(Eles têm que parar de agredir, mas, enquanto isso, a gente precisa começar a revidar.)

(Nenhum homem pode bater em uma mulher, deitar ao lado dela e dormir em paz.)

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