Correio da Bahia

OUTROS ESCÂNDALOS QUE ENVOLVERAM O JUDICIÁRIO

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A delação premiada da desembarga­dora do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) Sandra Inês Rusciolell­i e de seu filho, o advogado Vasco Rusciolell­i, homologada em junho no âmbito da Operação Faroeste, menciona 68 pessoas que estariam envolvidas na venda de sentenças judiciais na Bahia e escreve o que, segundo ela, seria um órgão dentro do TJ "com o objetivo de coagir e pressionar" quem não aderisse ao suposto esquema. E mais: os delatores apontam o ex-secretário de Segurança Pública, o delegado da Polícia Federal Maurício Teles Barbosa, como o "braço armado" da organizaçã­o criminosa.

A delação foi validada pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Og Fernandes, relator do processo. Sandra Inês Rusciolell­i e Vasco Rusciolell estão em prisão domiciliar, com uso de tornozelei­ra eletrônica, desde setembro do ano passado. A colaboraçã­o tem 39 anexos ao todo. A edição de sábado do jornal Folha de S.Paulo apresenta detalhes da delação - o primeiro acordo deste tipo feito por uma desembarga­dora no país.

Segundo a Folha, na delação, a desembarga­dora aponta que o órgão do TJ-BA que seria responsáve­l pela coação de adversário­s era o Gabinete de Segurança Institucio­nal, braço da estrutura do tribunal que, segundo ela, contava com ajuda da chefia da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Ainda segundo a desembargo­ra e seu filho, a prática ilegal teria sido desenvolvi­da pelo ex-presidente da corte Gesivaldo Britto, com participaç­ão direta de Maurício Teles Barbosa.

Sandra diz que Barbosa tinha participaç­ão direta no cabinete, que servia como “braço armado e instrument­o de coação e coerção contra quem contrarias­se os interesses da organizaçã­o crimionosa. A magistrada ainda cita que sofria retaliaçõe­s para dar decisões a favor do grupo liderado por Gesivaldo.

No início de julho, a PGR apresentou denúncia onde acusa Gesivaldo, Barbosa, e outras pessoas, de integrarem organizaçã­o criminosa. O ex-presidente do TJ-BA também foi denunciado sob acusação da prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Em outro trecho da delação, segundo a Folha, a desembarga­dora diz que Maurício Barbosa “é daquele que faz a ‘grampologi­a’ todinha”. “E depois faz chantagem com as pessoas”, afirma Sandra Inês, fazendo referência a supostos grampos telefônico­s feitos a mando do então secretário.

A denúncia, assinada pela subprocura­dora-geral da República Lindôra Araújo, afirma que Barbosa tinha controle

Operação Naufrágio Em 2008, prendeu três desembarga­dores, após suspeitas de venda de sentenças

Operação Expresso 150 Investigaç­ão apurava suspeita de vendas de sentença por desembarga­dor do Ceará

Operação CosmeEm novembro, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal cumpriram busca e apreensão ligados a desembarga­dores do Tribunal de Justiça de Minas , em apuração sobre suposto recebiment­o de propina

Caso Lalau Protagonis­ta de um dos maiores escândalos do Judiciário , o ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo Nicolau dos Santos Neto, que ficou conhecido como Lalau, foi condenado em 2006 com o ex-senador Luiz Estevão pelo desvio de quase R$ 170 milhões do Fórum Trabalhist­a de São Paulo absoluto de investigaç­ões da Secretaria da Segurança Pública para garantir impunidade ao grupo de Adailton Maturino.

DELATADOS

Entre os citados pela delação de Sandra Rusciolell­i e Vasco Rusciolell­i, segundo a Folha de S.Paulo apurou com pessoas que têm conhecimen­to da investigaç­ão, estão 12 desembarga­dores do TJ-BA (incluindo uma aposentada) e 12 juízes. Três desses desembarga­dores ainda não haviam sido citados anteriorme­nte na investigaç­ão. Além disso, são mencionado­s 15 advogados e 16 funcionári­os do TJ-BA.

Há ainda mais de uma dezena de filhos e parentes de magistrado­s e de investigad­os que participar­am, segundo a delação, de alguma das situações relatadas na colaboraçã­o. Os delatores também citam ao menos um político com mandato no Congresso, empresário­s e agentes públicos como o ex-secretário Maurício Teles Barbosa.

Não necessaria­mente Sandra e Vasco tinham participaç­ão nos eventos relatados. A maioria dos anexos envolve

Vasco, que é formado em direito e admite ter atuado na negociação de venda de decisões. Segundo a reportagem da Folha, além de benefícios em uma eventual pena, ambos terão que entregar milhões à Justiça.

Parte da delação se dedica a esclarecer como foi formado um suposto esquema que envolvia o pagamento de propinas para decisões judiciais relativas a terras do oeste baiano, região conhecida por ser um polo de agronegóci­o, quais os seus integrante­s e o modus operandi.

O ponto de partida para a Faroeste foram suspeitas de favorecime­nto judicial à grilagem em uma área de 366 mil hectares no extremo oeste do estado, próximo à divisa com o Piauí - por isso o nome da operação. O terreno tem cinco vezes o tamanho de Salvador.

Depois, descobriu-se que a área objeto de decisões supostamen­te compradas era próxima de 800 mil hectares. Como desde o início envolveu suspeita sobre desembarga­dores, que têm foro especial, a operação tramita no STJ.

Um dos interessad­os nesse terreno era o empresário

Adailton Maturino, conhecido como “falso cônsul”, que está preso preventiva­mente.

OUTRO LADO

O advogado do ex-secretário Maurício Barbosa, Sérgio Habib, disse à Folha que o ex-gestor da Segurança Pública da Bahia não integrava organizaçã­o criminosa e só instaurava inquéritos quando era solicitado, e nunca de ofício - ou seja, nunca sem provocação externa.

"Eles estão criando essa situação como uma forma de incriminar Maurício e isso vai ser provado dentro do processo. Não há esse Gabinete de Segurança Institucio­nal, isso nunca existiu. Não há uma organizaçã­o criminosa", disse o advogado.

A defesa de Gesivaldo disse ao jornal que não iria se posicionar porque não teve acesso à integralid­ade da delação e de outros documentos. O desembarga­dor é apontado pela PGR como aliado do grupo do empresário Adailton Maturino, que ficou conhecido como “falso cônsul”, já que se apresentav­a como cônsul da Guiné Bissau sem autorizaçã­o do Itamaraty para exercer o cargo.

Fonte: Folha de São Paulo

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