Correio da Bahia

A água invadiu foi tudo

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Bastam as primeiras nuvens carregadas aparecerem no horizonte para a marisqueir­a Vera Lúcia dos Santos, 67, ficar inquieta. Ela mora na Rua Teodoro Sampaio, no Vale das Pedrinhas, onde chuva é sinal de prejuízo. No último temporal, há menos de um ano, ela perdeu guarda-roupa, televisão e sofá. Como a previsão para esse fim de semana é de tempo fechado, ela contou que serão dias de ansiedade.

O sol ainda não tinha nascido quando Vera Lúcia acordou com o barulho dos vizinhos. Ao descer da cama o pé foi direto dentro da água. “A casa estava alagada. Como no dia anterior tinha chovido bastante, eu já tinha colocado os móveis pra cima, mas tive que limpar a casa toda novamente. Não aguento mais esse sofrimento”, contou.

A rua fica na parte baixa do bairro e próxima a um córrego. Quando chove forte, a tubulação não consegue dar vazão e a região se transforma em um rio. Todas as casas da rua têm batentes ou escadas construído­s para tentar conter as enchentes, mas quando o temporal é intenso, como foi nos últimos dias, a água suja invade.

A costureira aposentada Lucrécia Soares tem 90 anos e contou que construiu a casa com o dinheiro das roupas que confeccion­ava na velha máquina. O imóvel tem dois quartos e foi um dos mais impactados com o mau tempo desta sexta-feira. O marido dela, que é acamado, teve que ser retirado às pressas.“A água saia do ralo, subindo e se juntando com a água que vinha da rua. Meu filho colocou os móveis para cima, mas não teve como salvar tudo. Carregou meu marido e colocou ele sentado em uma mesa com os pés apoiados no guarda-roupa. Antes, eu limpava e seguia a vida, mas eu não tenho mais condições de ficar abaixando”, desabafou.

Enquanto Vera Lúcia e Lucrécia tentavam salvar os móveis, o mecânico Gilmar Freitas, 47, corria para colocar uma barreira na entrada da oficina para evitar que as peças fossem levadas. Um balde, por exemplo, foi recuperado quando já estava na rua sendo arrastado pela correnteza. “Vem água de tudo quanto é canto. Toda vez que chove forte é isso que acontece”, disse.

Os moradores reclamaram de construçõe­s irregulare­s levantadas na beira do córrego e disseram que apenas uma obra de macrodrena­gem poderá resolver o problema da região. Uma equipe da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) esteve no local e fez o cadastro de moradores que tiveram prejuízos com a chuva para recebiment­o de auxílio emergência, que alterna de um a três salários mínimos.

Para ter direito ao benefício é preciso fazer o registro da ocorrência pelo 199 e seguir as orientaçõe­s da equipe. Haverá vistoria para identifica­r as perdas. Até as 15h de sexta-feira, a Codesal havia registrado 86 ocorrência­s. No começo da manhã, alagamento­s causaram pontos de retenção nas avenidas ACM e Juracy Magalhães. Na Paralela, um buraco nas imediações da estação de metrô do Imbuí deixou o trânsito ainda mais complicado.

Na rua Macaúbas, no Rio Vermelho, um muro desabou sobre três carros. O acidente aconteceu às 5h50 e os para-brisas dos veículos foram destruídos por pedaços de concreto. No Parque Silvio Leal, em Cajazeiras IV, a água inundou ruas e invadiu casas. Uma estação de tratamento de esgoto transbordo­u e moradores reclamaram da falta de manutenção.

A maioria dos chamados que a Codesal recebeu nesta sexta-feira foi para avaliar imóveis alagados (33 casos até as 18h15), situações de deslizamen­to de terra (17 casos) e ameaça de desabament­o (15 casos). Em emergência­s, como ameaça ou deslizamen­to de terra ou desabament­o de imóvel e alagamento em grandes áreas, a orientação é entrar em contato pelo 199.

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