Mergulho no mundo de Belchior
Não foi planejado, mas o álbum Ana Cañas Canta Belchior serve como boa saudação pelo aniversário de 75 anos de Belchior, terça-feira. Lançado nas plataformas de streaming, e com direito a registro visual no YouTube, o trabalho reúne 14 canções do cantor e compositor cearense, que morreu em 2017. E faz a gente lembrar como ele foi uma voz essencial de seu tempo, com um texto que ainda tem muito a dizer nestes tempos difíceis.
Em seu primeiro projeto de relei tura, Ana Cañas assume com leveza o desafio de imprimir sua marca em clássicos tão marcantes da MPB – o repertório é baseado na fase mais popular de Belchior, dos anos 70. Ela consegue ser sutil e ao mesmo tempo densa para cantar Coração Selvagem, A Palo Seco, Como Nossos Pais, Divina Comédia Humana, Medo de Avião, 3X4 e, claro, Apenas um Rapaz Latino-Americano.
O álbum nasceu no ano passado, junto com a pandemia e após uma repercussão inesperada de uma live em homenagem a Belchior. “Foi muito despretensioso, mas foi mágico”, resume a cantora, que se surpreendeu com as reações positivas dos fãs no Brasil e em lugares como Estônia e Rússia. Só quando resolveu encarar a projeto da gravação – financiada através de financiamento coletivo – é que se deu conta de quanto o artista exigia em termos de “emoção”.
“Belchior traz para sua música uma densidade que vem de uma erudição e de uma vida muito complexa”, afirma Ana, lembrando que o cearense que migrou para São Paulo ia ser padre, estudou medicina, abandonou tudo pela música, viveu a ditadura militar, fez muito sucesso, mas morreu em um autoexílio que seus fãs não compreenderam direito. “As músicas
Sinto que uma voz feminina relendo um clássico da música popular brasileira é como um portal. Novos sentimentos e olhares. Porque mulheres conhecem cerceamento e opressão de forma única Ana Cañas