Lojas de Àguas Claras ainda estão sem abrir
Escolas que também fecharam em Cajazeiras após mortes de PMs voltaram a funcionar nesta quarta
No terceiro dia após as mortes de três policiais militares baleados no final de semana -, alguns comerciantes de Águas Claras ainda estão apavorados e mantiveram as lojas fechadas. O número de estabelecimentos que não abriram ontem, no entanto, foi menor, quando comparado à situação de anteontem. Em Cajazeiras, bairro na mesma região onde ocorreram os assassinatos dos policiais – as escolas e colégios das redes municipal e estadual de ensino já retomaram as atividades, mas com cautela para garantir a segurança de alunos e funcionários.
"No dia seguinte às mortes, isso aqui estava um breu. Já ontem [anteontem], tinha muita loja fechada e outras funcionando. Hoje [ontem], a gente vê que a situação está melhor, tem mais lojas abertas. Mas é aquela questão: as pessoas não estão se sentindo seguras, mesmo passando algumas viaturas", disse um morador de Águas Claras. Um ‘toque de recolher’ foi estabelecido voluntariamente pelos próprios comerciantes do bairro, como medida de segurança, no dia seguinte às mortes dos três PMs.
No sábado (08), o soldado Alexandre José Ferreira Menezes Silva, 30, levou um tiro de fuzil na cabeça quando fazia ronda em Águas Claras. No dia seguinte, os soldados Shanderson Lopes Ferreira e Victor Vieira Ferreira Cruz foram atacados por criminosos quando voltavam do enterro de Alexandre. Eles foram alcançados em Fazenda Grande I. Na terça-feira (10), a reportagem apurou que pelo menos 20 estabelecimentos comerciais fecharam por conta própria em Águas Claras.
"Sabemos que estamos em um momento muito delicado, que ânimos estão acirrados e para ter uma troca de tiros na rua entre a polícia e os bandidos é daqui para ali. Mas acredito que aos poucos isso está passando. Não foram todas, mas algumas lojas que não abriram segunda e na terça, voltaram ao normal. Os donos criaram coragem e é preciso acreditar na polícia, porque uma hora isso tudo vai voltar ao normal", disse um outro morador.
Em nota, a Polícia Militar informou que o policiamento permanece intensificado, através da 3° CIPM (Cajazeiras), e sem previsão de encerramento de atuação em Águas Claras e adjacência. Ontem, uma quarta pessoa foi morta na região em operação da PM (leia ao lado).
FAKE NEWS
Geralmente, ‘toque de recolher ‘ é imposto pelo tráfico quando um de seus integrantes é morto pela polícia, como uma espécie de ‘homenagem’. Mas, o que aconteceu em Águas Claras foi o contrário: o medo dos comerciantes de que houvesse retaliação e conflito entre o tráfico e a PM levou ao fechamento das lojas. Esse temor teria sido alimentado por uma informação que circulou em aplicativo de troca de mensagens, atribuindo à polícia a ordem do fechamento do comércio.
No entanto, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que "são fake news os áudios atribuídos a integrantes da PM com orientações sobre ficar em casa e supostos toques de recolher”. A SSP informou ainda que tem reforçado as ações em toda a Bahia para "aumentar a sensação de segurança e garantir a rotina e o direito de ir e vir dos baianos" e que a secretaria e as polícias militar, civil e técnica possuem canais oficiais de comunicação à disposição da população.
ESCOLAS
Ontem, alguns estudantes voltaram à rotina em Cajazeiras, quando colégios e escolas da rede pública tiveram aulas, mas ainda perdura a sensação de insegurança na região. Desde segunda-feira (08) as aulas estavam suspensas.
Na Escola Estadual Ana Bernardes, em Cajazeira VI, os alunos tiveram aula até às 10h. "O diretor liberou todo mundo, porque a maioria não mora aqui. A gente ainda tem um pouco de medo. Nós viemos porque ele postou no Instagram da escola que ia ter aula", disse um dos alunos.
A manhã foi de aulas também para os alunos do Colégio Estadual Renan Baleeiro, em Águas Claras. "Voltamos, após uma conversa com a comunidade, que concordou. Porém, estamos liberando mais cedo, 10h, por uma medida de segurança mesmo", declarou o vice-diretor na unidade João Milton Júnior.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec), as 14 escolas de Cajazeiras foram reabertas. Mas os pais, ainda inseguros, não leveam as crianças às aulas.
Os pais chegaram perguntando se ficamos sabendo de alguma coisa, se houve relatos de insegurança. Trouxeram os filhos, mas preocupados Anônimo Porteiro de escola em Águas Claras