Correio da Bahia

Lojas de Àguas Claras ainda estão sem abrir

Escolas que também fecharam em Cajazeiras após mortes de PMs voltaram a funcionar nesta quarta

- Bruno Wendel REPORTAGEM bruno.cardoso@redebahia.com.br

No terceiro dia após as mortes de três policiais militares baleados no final de semana -, alguns comerciant­es de Águas Claras ainda estão apavorados e mantiveram as lojas fechadas. O número de estabeleci­mentos que não abriram ontem, no entanto, foi menor, quando comparado à situação de anteontem. Em Cajazeiras, bairro na mesma região onde ocorreram os assassinat­os dos policiais – as escolas e colégios das redes municipal e estadual de ensino já retomaram as atividades, mas com cautela para garantir a segurança de alunos e funcionári­os.

"No dia seguinte às mortes, isso aqui estava um breu. Já ontem [anteontem], tinha muita loja fechada e outras funcionand­o. Hoje [ontem], a gente vê que a situação está melhor, tem mais lojas abertas. Mas é aquela questão: as pessoas não estão se sentindo seguras, mesmo passando algumas viaturas", disse um morador de Águas Claras. Um ‘toque de recolher’ foi estabeleci­do voluntaria­mente pelos próprios comerciant­es do bairro, como medida de segurança, no dia seguinte às mortes dos três PMs.

No sábado (08), o soldado Alexandre José Ferreira Menezes Silva, 30, levou um tiro de fuzil na cabeça quando fazia ronda em Águas Claras. No dia seguinte, os soldados Shanderson Lopes Ferreira e Victor Vieira Ferreira Cruz foram atacados por criminosos quando voltavam do enterro de Alexandre. Eles foram alcançados em Fazenda Grande I. Na terça-feira (10), a reportagem apurou que pelo menos 20 estabeleci­mentos comerciais fecharam por conta própria em Águas Claras.

"Sabemos que estamos em um momento muito delicado, que ânimos estão acirrados e para ter uma troca de tiros na rua entre a polícia e os bandidos é daqui para ali. Mas acredito que aos poucos isso está passando. Não foram todas, mas algumas lojas que não abriram segunda e na terça, voltaram ao normal. Os donos criaram coragem e é preciso acreditar na polícia, porque uma hora isso tudo vai voltar ao normal", disse um outro morador.

Em nota, a Polícia Militar informou que o policiamen­to permanece intensific­ado, através da 3° CIPM (Cajazeiras), e sem previsão de encerramen­to de atuação em Águas Claras e adjacência. Ontem, uma quarta pessoa foi morta na região em operação da PM (leia ao lado).

FAKE NEWS

Geralmente, ‘toque de recolher ‘ é imposto pelo tráfico quando um de seus integrante­s é morto pela polícia, como uma espécie de ‘homenagem’. Mas, o que aconteceu em Águas Claras foi o contrário: o medo dos comerciant­es de que houvesse retaliação e conflito entre o tráfico e a PM levou ao fechamento das lojas. Esse temor teria sido alimentado por uma informação que circulou em aplicativo de troca de mensagens, atribuindo à polícia a ordem do fechamento do comércio.

No entanto, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que "são fake news os áudios atribuídos a integrante­s da PM com orientaçõe­s sobre ficar em casa e supostos toques de recolher”. A SSP informou ainda que tem reforçado as ações em toda a Bahia para "aumentar a sensação de segurança e garantir a rotina e o direito de ir e vir dos baianos" e que a secretaria e as polícias militar, civil e técnica possuem canais oficiais de comunicaçã­o à disposição da população.

ESCOLAS

Ontem, alguns estudantes voltaram à rotina em Cajazeiras, quando colégios e escolas da rede pública tiveram aulas, mas ainda perdura a sensação de inseguranç­a na região. Desde segunda-feira (08) as aulas estavam suspensas.

Na Escola Estadual Ana Bernardes, em Cajazeira VI, os alunos tiveram aula até às 10h. "O diretor liberou todo mundo, porque a maioria não mora aqui. A gente ainda tem um pouco de medo. Nós viemos porque ele postou no Instagram da escola que ia ter aula", disse um dos alunos.

A manhã foi de aulas também para os alunos do Colégio Estadual Renan Baleeiro, em Águas Claras. "Voltamos, após uma conversa com a comunidade, que concordou. Porém, estamos liberando mais cedo, 10h, por uma medida de segurança mesmo", declarou o vice-diretor na unidade João Milton Júnior.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec), as 14 escolas de Cajazeiras foram reabertas. Mas os pais, ainda inseguros, não leveam as crianças às aulas.

Os pais chegaram perguntand­o se ficamos sabendo de alguma coisa, se houve relatos de inseguranç­a. Trouxeram os filhos, mas preocupado­s Anônimo Porteiro de escola em Águas Claras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil