Bahia acumula um déficit de quase 585 mil moradias
Estado é o recordista em falta de unidades habitacionais no Nordeste e quinto no país
A Bahia é o estado que tem o maior déficit habitacional do Nordeste, ocupando ainda o quinto lugar no ranking nacional. São 584.628 moradias a menos do que seria necessário para atender as necessidades da população. Os dados foram levantados pela Incorporadora Sindona, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A explicação para a situação está na elevação do preço da moradia por conta da pressão exercida pelo número alto de famílias sem casa própria; além do grande contingente vivendo em moradias precárias.
A maior parte do déficit habitacional baiano, 335.624 imóveis (57%) ocorre entre a população com a menor faixa de renda, de até um salário mínimo. Nesse recorte, a Bahia é o segundo estado do país onde faltam mais unidades habitacionais. Logo depois, vem a faixa de população que recebe de um a três salários mínimos. Esse contingente necessita de aproximadamente 208.700 imóveis.
A Bahia também ocupa o segundo lugar do Brasil com mais déficit habitacional para famílias que recebem mais de 10 salários mínimos. Para esse grupo dos mais ricos faltam 9.449 unidades.
MORADIAS PRECÁRIAS
Risco de desabamento, construção irregular e pessoas demais dividindo o mesmo espaço. Essas são algumas das possíveis características de uma moradia considerada precária. Nesse quesito, a Bahia está em terceiro lugar no ranking nacional, segundo dados da Fundação João Pinheiro, com 157.927 moradias nessa situação. O número é maior do que o de toda a região Centro-Oeste e se aproxima do número de todos os estados da região Sul.
Jucilane Silva de Sales, 23 anos, hoje mora de aluguel no Largo do Tanque, em Salvador, porque a casa que tem, no Barro Branco, está impossibilitada de ser habitada. “Eu não fico lá porque a casa não tem piso, não tem banheiro, o telhado está quase caindo e as colunas de sustentação estão precárias. Meu medo é acontecer algo comigo e com meus dois filhos nessa época de chuva porque ainda tem o risco de um barranco desabar em cima da casa”, conta.
O que resta, então, é morar de aluguel, que custa R$ 450, sendo que o auxílio-aluguel que recebe é de apenas R$
Maranhão 210.997
Pará 159.751
**Bahia 157.927
Minas Gerais 113.180
São Paulo 90.538
Piauí 76.449
Rio de Janeiro70.434
Rio Grande do Sul 65.275
Amazonas 64.735
Paraná 55.917 300. Jucilane não recebe salário, trabalha como diarista e o dinheiro que chega no final do mês é incerto. Para trabalhar, ainda precisa pagar uma pessoa para ficar com a filha mais nova, de 1 ano e 6 meses. Por isso, já perdeu as contas de quantas vezes deixou o aluguel atrasar. “Comida a gente se vira, mas ficar sem ter onde morar é que não dá. Meu sonho era ter casa própria segura, direitinha”.
Entram na conta das moradias precárias: coabitação familiar não desejada (duas ou mais famílias que vivem juntas por não conseguirem bancar moradias separadas), moradores de baixa renda com dificuldade de pagar aluguel em área urbana, pessoas que vivem em casas e apartamentos alugados em áreas de grande densidade e, também, a moradia em imóveis e locais precários e com fins não residenciais, os domicílios improvisados.
São Paulo 1.785.158
Minas Gerais 654.365
Amapá 606.625
Rio de Janeiro 588.563
**Bahia 584.628
Maranhão 406.461
Pará 376.072
Ceará 337.184
Rio Grande do Sul 331.920
Pernambuco 326.844
Morador do bairro do Aviário, em Feira de Santana, o empacotador Cláudio Santos, 33, precisou tomar uma decisão dura: retornar à casa da mãe, num bairro próximo, depois de quase 15 anos morando sozinho. O motivo foram os preços do aluguel muito altos, chegando a consumir quase 50% do salário mínimo que recebe.
Cláudio resistiu bastante em ceder à ideia e foi até o limite, mas no final viu que não dava mais para se bancar mesmo trabalhando. Só o aluguel custava R$ 500. Somando água, energia e alimentação, mal dava para cobrir com os R$ 1,2 mil mensais que recebe. "Era uma casa simples, com defeitos, mas era minha. Só que ficou insustentável", contou.
ESPECULAÇÃO
A especialista em planejamento urbano Alyne Cosenza, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unijorge, destaca que um dos fatores que contribuem para o déficit habitacional é a especulação imobiliária. "A população mais carente sempre foi empurrada para a periferia. A gente tem o exemplo da área da Paralela. Novas pessoas começaram a chegar lá em grandes empreendimentos e as pessoas mais carentes que já moravam foram prejudicadas. A área é valorizada e as coisas ficam mais caras, IPTU fica mais caro".
Dono da Sindona Incorporadora, Bruno Sindona afirma que problemas com moradia trazem uma série de outras questões em áreas diversas como saúde, educação e segurança. “Esses números representam uma dificuldade grande de evolução em todos os aspectos. O estado e as cidades perdem muito porque sem famílias desenvolvidas, o estado não se desenvolve. Uma família sem um lar adequado tende a sofrer mais com doenças, crianças passam a ter dificuldade com aprendizado e uma série de outros fatores”.
Para ele, o caminho para reverter essa realidade é investir em moradia. “O caminho é dinheiro e o Brasil tem. O dinheiro investido no (programa) Minha Casa Minha Vida (por exemplo). Ali foram R$ 160 bilhões e entre retornos diretos e indiretos voltaram quase R$ 200 bilhões Ou seja, é uma conta que se soma. Moradias geram imposto, melhoram a qualidade de vida. O país só ganha”.
OS 10 ESTADOS COM MAIS MORADIAS PRECÁRIAS*
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OS 10 ESTADOS COM MAIS DÉFICIT HABITACIONAL*
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