Não tem mais vaga para UTI pediátrica
Os dez leitos destinados para as crianças durante a pandemia estão lotados em Salvador
Um indicador da Secretaria Municipal de Salvador (SMS) vem chamando atenção nos últimos quatro dias: os leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) pediátricos para covid-19 estão totalmente ocupados na capital baiana desde a última quinta-feira (12). Mas somente os dados não dão conta de explicar a real condição sanitária. A regulação de crianças infectadas pelo coronavírus é pequena e as síndromes respiratórias agudas são as grandes responsáveis pelas internações nessa faixa etária.
“Nas últimas semanas sequer estamos registrando regulação para a covid. É importante lembrar que nós estamos no período de síndromes respiratórias agudas e, de fato, há uma grande procura em nossas unidades por conta delas”, explica o secretário de saúde de Salvador, Décio Martins.
Atualmente, são 10 leitos de UTI disponíveis na capital para internação pediátrica. O número representa a metade do que estava sendo disponibilizado até o final de abril. “Houve um desfinanciamento dos leitos covid desde o final do mês de fevereiro e nós, da Secretaria de Saúde, seguramos os leitos pediátricos e adultos abertos até o final de abril. Mas agora não está havendo financiamento federal para esses leitos, o que não significa que eles não sejam importantes”, completa Décio Martins.
Além dos leitos de UTIs no Hospital Municipal de Salvador (HMS) e no Martagão Gesteira, existem ainda outros 20 de enfermaria e quatro de sala vermelha no gripário dos Barris, sendo estas últimas destinadas aos pacientes que necessitam de vigilância intensiva e que podem ser utilizadas por crianças.
Apesar do controle maior do número de casos e mortes da pandemia, o pediatra e imunologista Celso Sant’Anna é cauteloso, principalmente na identificação. Segundo o médico, entre as crianças internadas podem haver casos de infecções por covid-19 não identificados.
“Existe uma combinação de fatores que está causando a alta de pacientes nas UTIs pediátricas. Em parte, é sim por conta de casos da covid-19, que podem estar eventualmente em processo de elucidação diagnóstica. O diagnóstico de covid-19 não é imediato, ainda mais no caso de pacientes que evoluem de forma rápida. Para se fazer o diagnóstico viral de uma Influenza também pode demorar por volta de 15 dias”, ressalta Celso Sant’Anna.
SISTEMA IMUNOLÓGICO
Outros fatores que podem estar atrelados ao aumento de crianças internadas nesses leitos são a baixa cobertura vacinal e o despreparo imunológico dos mais novos.
“Muitas crianças ficaram em casa nos últimos dois anos e o sistema imunológico delas está menos treinado para combater as infecções. Elas estão sofrendo os efeitos dessa tempestade de vírus que estamos vendo, especialmente em abril”, diz.
As doenças respiratórias graves costumam ser mais frequentes nas estações de outono e inverno, o que ajuda a explicar a explosão atual de casos na capital baiana. As condições são mais preocupantes quando afetam as crianças mais jovens e que ainda estão sendo amamentadas, como explica a pediatra Ana Patrícia Almeida.
“As doenças acometem não somente a via aérea superior, mas comprometem os pulmões causando inflamação, obstrução e diminuição da oxigenação. O que leva o pequeno paciente a fadiga pelo esforço respiratório”, afirma a médica. Quando isso acontece, o paciente pode precisar fazer o uso de suplementação de oxigênio através de dispositivos e fisioterapia respiratória intensiva.
Ana Patrícia indica ainda que pais e responsáveis observem a evolução de quadros que contenham sintomas gripais. “Quando uma criança apresenta quadro febril, tosse, espirros e dor de garganta, é importante hidratar o paciente, realizar limpeza nasal frequente e medicar para febre ou dor. Raramente precisam de outras intervenções, mas se a criança persistir com sintomas intensos, o correto é levar para uma avaliação médica”, recomenda.
O imunologista Celso Sant’Anna também reforça que em cerca de 97% dos casos as crianças se recuperam sem complicações mais graves. “Existe um número reduzido de casos que evoluem de uma forma mais grave para a insuficiência respiratória. Isso depende da condição do paciente e da agressividade do microrganismo, sendo vírus ou bactéria”, explica.