Correio da Bahia

Liberações do FGTS já somam, ao todo, R$ 123 bilhões

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RECURSOS Criado há quase seis décadas como uma poupança compulsóri­a dos trabalhado­res, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) historicam­ente só dava acesso aos recursos em caso de aposentado­ria, doença grave, compra de imóvel e morte, benefician­do os herdeiros.

O governo de Michel Temer inaugurou, em 2017, o saque extraordin­ário para todos os cotistas de contas inativas do Fundo como forma de ajudar uma reação da economia cambaleant­e desde a gestão de Dilma Rousseff com incentivos ao consumo. Diante do mesmo problema, o expediente foi apropriado e turbinado no mandato de Jair Bolsonaro.

Entre 2019 e 2022, o governo já autorizou extraordin­ários do FGTS, que somam ao menos R$ 123,7 bilhões em valores corrigidos, segundo levantamen­to do jornal O Globo. O montante equivale a 20% do saldo total do Fundo no fim de novembro, último dado disponível.

Os últimos avanços do governo sobre o FGTS foram a autorizaçã­o do saque de até R$ 1 mil de contas inativas por todos os trabalhado­res e a possibilid­ade de mulheres pagarem cursos profission­alizantes e creches para filhos com recursos de suas contas no Fundo.

As medidas foram anunciadas neste ano eleitoral como uma forma de o governo injetar recursos na economia, cuja previsão de cresciment­o este ano é de menos de 1%.

No entanto, o uso recorrente dos recursos do FGTS — que não estão sujeitos ao teto de gastos como o Orçamento da União —pelo governo preocupa outros especialis­tas e representa­ntes do setor da construção civil e dos trabalhado­res.

Para o presidente da Câmara Brasileira da Construção (CBIC), José Carlos Martins, ao autorizar vários saques emergencia­is, o governo transforma o Fundo em complement­o de renda, o que pode ser prejudicia­l para o próprio cotista:

“O trabalhado­r, sobretudo de baixa renda, não tem mais dinheiro na conta (do FGTS) para dar de entrada no financiame­nto de um imóvel. Eles limparam o tacho. Na hora da necessidad­e, o trabalhado­r não vai ter”.

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