Correio da Bahia

O presidente em parafuso

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mais arriscado que se pode fazer agora é não ver os sinais gritantes de um ser grotescame­nte autoritári­o investindo contra a democracia.

Na economia, seus rugidos até agora nada resolveram. Os combustíve­is sobem conforme os preços do petróleo e a cotação do dólar. O petróleo está muito volátil e ontem bateu em US$ 114. O dólar está instável também, mas pelo menos o resultado desde o começo do ano continua negativo.

Os estados já congelaram o valor do ICMS. Desde novembro. De lá para cá, o preço de revenda do diesel disparou 27% nas bombas. O número mostra que o imposto estadual é apenas o bode expiatório de Bolsonaro. No período, o dólar caiu 11% — já esteve em queda de quase 20%. O petróleo saltou 34%, com a guerra da Ucrânia.

Os secretário­s de Fazenda estaduais acham que o ministro André Mendonça, do STF, deu um tiro no pé ao atender pedido da AGU que derrubou a regulament­ação da alíquota única. Eles dizem que, ao contrário do que o governo deseja, os impostos vão subir no Distrito Federal e em 25 dos 26 estados da federação, a partir de julho, com reflexo no preço dos produtos. É que eles estabelece­ram um valor único para todo o país, mas permitiram descontos. Se tiverem que seguir a liminar do ministro André Mendonça vão eliminar os descontos. Os preços subirão. É o que explica o diretor-institucio­nal do Comitê Nacional dos Secretário­s de Fazenda (Comsefaz), André Horta.

— O ICMS está congelado desde novembro e continuará assim até o final de junho. A partir de julho entraria em vigor a determinaç­ão do Comsefaz, com a cobrança de R$ 1,006 por litro, mas com descontos em cada estado, para não haver aumento de carga. Se os descontos caírem, a tributação vai subir. Avalio que o governo não se deu conta do que fez — disse.

No Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), a entrevista do diretor-superinten­dente, Alexandre Barreto, à “Folha”, dissolveu a ilusão que o governo tentou criar, de que o Cade poderia enquadrar a Petrobras. O órgão não controla preços. A defesa da concorrênc­ia muito provavelme­nte seria invocada se a Petrobras mantivesse preços artificial­mente baixos, porque isso eliminaria os competidor­es.

Bolsonaro colhe o que plantou na economia. O mundo inteiro está em crise, é verdade. Mas aqui tudo foi muito mais penoso. Na pandemia, ele poderia até crescer como governante, se fizesse esforço para unificar o país contra o inimigo comum. Mas ele abriu guerra contra os governos estaduais, as prefeitura­s, o Judiciário, a imprensa, a Saúde, as vacinas.

A ideia que ele perseguiu de forma obsessiva, de que era preciso abrir a economia a qualquer preço em vidas humanas, não teve apoio no país. Não usou máscaras, e os brasileiro­s usaram. Bombardeou as vacinas, e as pessoas se vacinaram. Ataca a democracia, e a maioria dos brasileiro­s a defende. Esse tumulto que é o governo Bolsonaro espalhou incertezas na economia.

Essa incerteza atingiu a inflação, o emprego, os investimen­tos, o cresciment­o, as expectativ­as. O Brasil vai crescer menos que os emergentes, que os países desenvolvi­dos, que o mundo. A inflação é uma das mais altas do mundo. É contra isso que ele esbraveja cada vez mais alto. Ele grita e roda em torno de si mesmo. É um presidente em parafuso. COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO)

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