PRINCIPAIS MUDANÇAS
1) O empobrecimento da população Este é um dado traduzido por carências como a fome, que, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), dói na barriga de 33 milhões de brasileiros. As mulheres, sobretudo as pobres e negras, historicamente colocadas como cuidadoras e chefes de famílias, mas vulneráveis à falta de equidade de gênero no mercado de trabalho, enfrentam ainda mais as consequências desse abismo econômico.
2) Políticas de transferência de renda na berlinda Depois da substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, em novembro de 2021, há um clima de incerteza em relação à manutenção de políticas de transferência de renda. De acordo com o Ministério da Cidadania, 81,6% dos contemplados pelo Auxílio são mulheres. Ou seja, as indefinições quanto a essas políticas públicas tendem a afetar mais o voto feminino.
3) O aumento da violência doméstica Em contraposição à diminuição do financiamento de projetos governamentais como a Casa da Mulher Brasileira, que acolhe vítimas, houve aumento da violência contra mulher. 86% das brasileiras perceberam aumento na violência contra elas, segundo o DataSenado e o Observatório da Mulher. Na Bahia, as medidas protetivas aumentaram 100% em cinco anos. Essa realidade tende a levar à reflexão sobre quais candidatos pautam assuntos na área.
4) O avanço de discursos e ataques machistas A escalada de violência também é discursiva e, inclusive, alavancada por candidatos – como o presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição, e protagonizou casos recentes de agressões verbais a jornalistas mulheres.
“Esse ranço contra posturas misóginas, grosseiras, que aparecia desde 2018, não vem só de mulheres feministas, mas de mulheres no geral. Na prática, a política do atual governo vai impactar a decisão”, acredita Teresa Sacchet.
5) A piora da qualidade de vida O adoecimento psíquico, o acúmulo de tarefas domésticas e a perda de familiares durante a pandemia podem ser outros pesos na balança da escolha feminina. Se são as mulheres as responsáveis pelas atividades ligadas ao cuidado, as consequências mais severas dessas obrigações recaem, com mais peso, sobre elas. Uma pesquisa global encomendada pelo Instituto Gallup mostrou as mulheres no limite do estresse emocional e físico.
O voto ganha novos contornos, fica claro, conforme o grupo social. E um deles vale menção à parte: o de mulheres evangélicas. O primeiro motivo é numérico: elas são 60% dos evangélicos brasileiros, que, por sua vez, são 65 milhões, informa o Datafolha. Na última semana, uma pesquisa do Instituto de Estudos da Religião (Iser) destrinchou as complexidades do voto de evangélicas.
“Talvez o mais fundamental dessa pesquisa tenha sido a conclusão de que as mulheres evangélicas estão em trânsito neste mundo fragmentado. Elas são mães, trabalhadoras, avós, não só evangélicas, e tudo isso é importante para a formação da identidade delas e suas percepções da realidade social e política”, explica Lívia Reis, cientista social e uma das coordenadoras da pesquisa.
A segunda razão da briga pelo voto das evangélicas é associada à escalada da moralidade cristã no país. “Há uma relativização que atribui um conjunto de moralidade ao evangélico. Mas esse jogo é mais flexível”, contrapõe Reis. Para atingi-las, há duas abordagens: a do pânico moral – como os discursos de que certos candidatos fecharão igrejas – e a da contemplação das outras facetas, como o trabalho.