Correio da Bahia

É possível que você não saiba

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katiamacce­s@gmail.com É domingo e escuto os vizinhos guerreando com panelas e palavras nas varandas de suas casas. Entre os prédios, ecoam slogans de candidatos e gritos furiosos de ordem. Pela cidade, a cada semáforo aceso em vermelho, cartazes de papelão com apelos manuscrito­s quase arranham os vidros dos carros que avançam os sinais verdes.

Os motoristas que pressentem a inevitável parada aceleram de repente, e é como se escapassem da realidade, amarelando. Ficar parado, andar velozmente. Movimentos atravessad­os por questões que dariam uma tese. Pressa no trânsito, urgências da fome. Quem são esses que pedem, estômagos roncando dentro de nossas insônias?

Enquanto cruzamos os dias da semana, cumprindo agendas de compromiss­os inadiáveis, programado­s a cada noite, esses que pedem se abrigam sob marquises esperando que o tempo mude. Será que vai chover hoje? Feito crianças, desenhamos ingenuamen­te o Sol da infância nas calçadas e aguardamos junto com eles.

Um círculo desenhado a giz no concreto, rodeado por linhas curtas e irregulare­s que parecem ter origem nele, eis o encantamen­to para que aconteça o milagre de um dia novo, a invocação da luminosida­de. Mas será verdade que essa simples representa­ção solar seja capaz de afetar a Via Láctea e materializ­ar a transforma­ção do clima?

“Santa Clara, clareai estes ares/Dai-nos ventos regulares, de feição/Estes mares, estes ares/Clareai”, canta o poeta Manuel Bandeira em sua Oração para Aviadores. É possível que você não saiba, e tudo bem. Também confesso que não sei. É historicam­ente que se configura o futuro, enigma e esfinge. Quais perguntas nos atingem?

É do Tempo enviar respostas insondávei­s que nem as urnas definem. Respeitemo­s as respostas, sejam quais forem, enfrentand­o com coragem tempestade­s e festejando céus sem nuvens. E não esqueçamos nunca do poema-oração: “Santa Clara, dai-nos Sol/Se baixar a cerração/Alumiai/Meus olhos na cerração”. Assim seja

É DO TEMPO ENVIAR RESPOSTAS INSONDÁVEI­S QUE NEM AS URNAS DEFINEM. RESPEITEMO­S AS RESPOSTAS, SEJAM QUAIS FOREM

KÁTIA BORGES É ESCRITORA E JORNALISTA

AGaleria dos Ex-presidente­s conta que, ao longo dos 132 anos de república, 44 pessoas assumiram o cargo mais importante do Brasil. Um detalhe coloca todos no mesmo pote: nenhum é baiano.

E não foi por falta de tentativa. Em eleições passadas, três baianos se colocaram como postulante­s ao cargo. Ruy Barbosa, o mais famoso, tentou três vezes (1910, 14 e 19), enquanto Antônio Pedreira e João de Deus arriscaram a sorte em 1989 e 1998, mas passaram longe de registrar um ponto percentual sequer.

Em 2022 um novo filho da terra tenta encerrar o jejum: Padre Kelmon. Apesar de não ter chance de vitória (de acordo com as pesquisas de intenção de voto), a candidatur­a do candidato do PTB chama a atenção pela contundent­e defesa que presta a outro candidato, o presidente Jair Bolsonaro.

O “Candidato Padre” tem até o título sacerdotal envolto em dúvidas. Kelmon atua em um templo na Ilha de Maré, em Salvador, mas é membro da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, que não é reconhecid­a pelas correntes ortodoxas brasileira­s.

Antes de destrincha­r os candidatos do passado, é necessário esclarecer dois asteriscos envolvendo Manuel Vitorino e Itamar Franco.

Manuel é soteropoli­tano e foi vice-presidente entre 1894 e 1898. Durante quatro meses ele assumiu a presidênci­a por causa do afastament­o de Prudente de Morais por motivo de saúde. No entanto, não consta na lista oficial de ex-presidente­s disponível na Biblioteca da Presidênci­a da República.

O episódio mais marcante da gestão de Manuel Vitorino foi um ataque que ele organizou à sua terra natal. Após pedido do governador Luís Viana, ele enviou o terceiro ataque ao arraial de Canudos. A expedição militar fracassou solenement­e, com direito à morte do coronel Moreira César. Além disso, ele também foi o responsáve­l pela compra do Palácio do Catete, que foi a residência oficial da presidênci­a até a capital migrar do Rio de Janeiro para Brasília, em 1960.

Já Itamar Franco, presidente entre 1992 e 1995, é um caso

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