Correio da Bahia

Os bairros mais vermelhos e verde-amarelos da cidade

Lista inclui 16 bairros das duas zonas eleitorais que mais votaram ou no PT ou em Bolsonaro na eleição presidenci­al de quatro anos atrás

- /www.correio24h­oras.com.br

Os candidatos à Presidênci­a da República até tentam, mas as pesquisas de intenção de voto deixam claro que a disputa pelo Palácio do Planalto é um duelo. Que, aliás, começou em 2018. De um lado do segundo turno daquela eleição esteve Fernando Haddad (PT) e, do outro, Jair Bolsonaro (PL). O resultado é de conhecimen­to público. Mas onde estão concentrad­os aqueles que os apoiaram? Qual é a zona mais bolsonaris­ta de Salvador? E a mais petista?

Batizada, ironicamen­te, de 13ª Zona Eleitoral de Salvador, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os seis bairros que a compõem não votam, predominan­temente, no 13. Muito pelo contrário. Pituba, Caminho das Árvores, Costa Azul, Itaigara, Jardim Armação e Nordeste de Amaralina formam, na verdade, a área mais bolsonaris­ta de Salvador. Dos quase 452 mil votos recebidos pelo atual presidente na última eleição, 38 mil partiram de lá - 8,3% do total.

E mais: segundo o último levantamen­to do Observatór­io de Bairros da Faculdade de Arquitetur­a da Universida­de Federal da Bahia (Ufba), a área abriga 133 mil pessoas, majoritari­amente mulheres (55%), divididas entre 48% de pessoas autodeclar­adas brancas e 50% de pessoas negras e pardas, com idades entre 20 e 49 anos. Entre eles, o analfabeti­smo gira em torno de 8%: um dos fatores que garante à população da região uma renda média de R$ 7.733,80 por mês.

ESTRANHO NO NINHO

O Nordeste de Amaralina, no entanto, é o único da zona que não compartilh­a da mesma realidade. Diferente dos seus vizinhos, 88% dos seus moradores se autodeclar­am pretos e pardos. Já o salário mensal atinge em média R$ 1.530,00.

A presença do bairro periférico na lista é uma boa caracterís­tica para demonstrar que, apesar da predominân­cia, o voto em Bolsonaro em 2018 não pode ser considerad­o uma exclusivid­ade de pessoas brancas, com maior poder aquisitivo e moradoras de bairros nobres. É o que assinala o sociólogo, pesquisado­r do Laboratóri­o de Estudos do Poder e da Política (Lepp-Ufs), Saulo Barbosa.

“Toda tentativa de redução é complicada, mas podemos dizer que, do ponto de vista econômico, a população mais pobre tem uma preferênci­a por políticas sociais, enquanto os eleitores mais ricos se preocupam com redução de impostos e capacidade de empreender, assim, optam pelo representa­nte mais próximo disso. Não podemos esquecer que há outros marcadores, como crenças e objetivos pessoais, que borram isso, mas a predominân­cia nos mostra um cenário”, afirma.

Na arena petista, ou 14ª Zona Eleitoral de Salvador, o quadro é ainda mais demarcado. Em comparação com a região anterior, a renda média dos moradores dos 10 bairros mais favoráveis ao Partido dos Trabalhado­res é 82% menor.

Em Barreiras, Cabula, Engomadeir­a, Granjas Rurais, Mata Escura, Jardim Santo Inácio, Narandiba, Novo Horizonte, Sussuarana Velha e Sussuarana Nova, o salário das pessoas gira em torno de R$ 1.344,00.

Foram nesses locais que, em 2018, o então candidato petista, Fernando Haddad, recebeu 63 mil votos. O número correspond­e a 6% de todos os 985 mil destinados a ele nas 19 Zonas Eleitorais da capital baiana.

Se a disputa fosse definida apenas pelos eleitores de Salvador, ele venceria com 534 mil votos a mais que Bolsonaro, que contabiliz­ou 451 mil dos quase 1,5 milhão registrado­s.

A justificat­iva pode estar nos postos de saúde e escolas públicas que a zona mais petista oferece aos seus moradores. Não à toa, esses serviços estão lá. Eles são considerad­os essenciais para garantir cidadania às populações de menor renda. No caso desses bairros, o total de moradores chega a 166 mil, segundo aponta o Observatór­io de Bairros.

A maioria é formada por mulheres, totalizand­o 52%. Entre toda a população, 140 mil moradores se autodeclar­am negros e pardos, 84% frente aos 16% autodeclar­ados brancos. Já a idade predominan­te fica entre 20 e 49 anos. A taxa de analfabeti­smo é de 6%.

Residente da Engomadeir­a, a copeira Lea Santos, 50 anos, reconhece esses problemas sociais e afirma tê-los como base para o apoio que deu a Fernando Haddad na última eleição. “Nós, que sabemos o que é lutar todos os dias apenas para garantir que na manhã seguinte não falte alimento, temos que escolher quem demonstra preocupaçã­o ao saber dessa realidade”, declara.

INCLUSÃO

Segundo o cientista social e mestrando em Ciências Políticas pela Universida­de Federal de Pernambuco (UFPE), Nando Paulo Suma, os critérios de Lea são comuns em regiões marcadas pela desigualda­de social. Nelas, é a condição econômica que aparece como o fator decisivo na escolha de um gestor público. "No Brasil, é o presidente que carrega a expectativ­a das pessoas de ser o garantidor de uma boa vida", explica.

Foi durante os dois mandatos do ex-presidente Lula que o eleitorado, conforme explica, se viu mais incluído nos espaços que apenas o poder de compra garantia, como universida­de, viagens, carros e boas condições de trabalho, por exemplo. Até parte do governo da também petista Dilma Rousseff isso permaneceu. Porém, em 2018, outro cenário se desenhava na eleição presidenci­al, e Haddad entrou na corrida como uma opção para substituir Lula, que foi impedido de concorrer por estar associado a escândalos de corrupção.

Na época, ainda não se imaginava a absolvição do integrante do PT e a estratégia do partido visava uma transferên­cia de votos de Lula para Haddad. “Sendo assim, o eleitor passou a votar no substituto durante essa crise. No primeiro momento, motivado por essas políticas de inclusão que ocorreram durante os governos.

Por isso, tantos votos do eleitorado dessa região. Assim como todo o Nordeste, eles foram

Nos últimos anos o uso de aplicativo­s tomou conta das eleições. Agora, é possível denunciar irregulari­dades de forma on-line, encontrar afinidades com candidatos por meio de aplicativo­s, votar com documento digital e acompanhar o resultado em tempo real. Tudo na palma da mão. Especialis­tas, porém, reforçam os cuidados que o eleitor precisa ter para evitar armadilhas, vírus e influencia­s que venham disfarçada­s de informação.

Pela primeira vez, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem um aplicativo de denúncias de irregulari­dades específico para as eleições. A ferramenta, chamada de Pardal, foi lançada em meados de agosto e em um mês registrou 24 mil ocorrência­s. Ele está disponível para Andoid e IOS, permite fazer fotos e vídeos, e as denúncias são encaminhad­as para o Ministério Público Eleitoral (MP Eleitoral) para averiguaçã­o.

Outra novidade tecnológic­a é o e-Título, a versão digital do documento em papel e que pode ser apresentad­o no momento da votação. Ele informa o endereço do local da seção, dados sobre a situação cadastral do eleitor, e possibilit­a emitir certidões de quitação e de crimes eleitorais.

Além disso, quem estiver fora do domicílio pode usar o aplicativo para justificar a ausência, e quem tem a biometria coletada pela Justiça Eleitoral pode ainda utilizar o e-Título como forma de identifica­ção. No Brasil, 30 milhões de eleitores já baixaram o documento, sendo que 2,5 milhões fizeram a versão digital na semana passada.

O coordenado­r do curso de Sistema de Informação da UniFTC e mestre em Computação, Fabrício Oliveira, explicou que o uso dos aplicativo­s foi intensific­ado nos últimos anos porque permite ao usuário ter acesso às informaçõe­s de forma mais ágil, na comparação com o acesso a sites e portais. Mas frisou que é preciso ter cuidado com a segurança das informaçõe­s antes de fazer o download.

"Primeiro, veja se há o selo de verificado no aplicativo que você pretende baixar. O selo significa que há mais segurança. Depois, confira a avaliação de outros usuários, o que as pessoas que já usam o aplicativo estão comentando, e a quantidade de pessoas que baixaram a ferramenta. Não adianta, por exemplo, ter comentário­s positivos se apenas dez pessoas fizera o download", afirmou.

Se, desde agosto de 2022, o Pardal permite fiscalizar de forma virtual, e desde 2018, o e-Título permitiu votar de maneira digital, desde 2016 outro aplicativo da Justiça Eleitoral cumpre a função de informar o eleitor sobre os resultados da

 ?? ?? 1
1

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil