Correio da Bahia

POR FLAVIA AZEVEDO

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Nesta semana, a PM arrombou um quarto, entrou atirando e matou um homem que, de acordo com o colega (também baleado) estava dormindo. O que foi assassinad­o não teve tempo de explicar que era trabalhado­r. O outro, que foi gravemente ferido, gritava que não era bandido, mas não adiantou nada. Foi tiro pra todo lado, fratura exposta, hospitaliz­ação e quase morte também. Nada novo sob o céu da Bahia, a não ser o fato de que todos eram policiais militares: vítimas e atiradores. Ora ora, vejam só.

O jogo é de muito mais do que sete erros e o primeiro já está no parágrafo acima. Você percebeu ou engoliu sem nem sentir? Rebobine aí. Leia de novo, se quiser, e conclua que o esforço do policial ferido em dizer "não sou bandido", durante o ataque, na tentativa de um cessar-fogo, é a prova mais explícita do que todos sabemos: há pena de morte instituída no Brasil. Para bandidos. Ou para os que "parecem ser" bandidos (na opinião de quem?), por específica­s e conhecidas intersecci­onalidades.

Seja você a favor ou contra a pena capital, a honestidad­e exige que se admita a existência da prática neste país. O que não há, por aqui, é o processo que a antecede em território­s nos quais o assassinat­o pelo Estado é utilizado, legalmente, como instrument­o de punição e controle social. A pena de morte à brasileira é no "achômetro" mesmo. O policial foi morto por outro policial porque o que matou "achou" que estava diante de um bandido. Aí, se fosse mesmo bandido, o assassino estaria "certo", ainda que que a vítima estivesse deitada, desarmada, dormindo.

A não ser pela família pedindo justiça nos veículos de imprensa e dois ou três cartazes levantados na comunidade de origem da vítima, não haveria comoção diante de um bandido (ou de alguém que parecesse ser bandido) morto. Mesmo deitado, desarmado, dormindo. Por quê? Porque existe pena de morte no Brasil e porque todo mundo já se acostumou com os "acidentes de percurso".

Estamos carecas de saber dos "casos isolados" nos quais uma abordagem policial acaba resultando na morte de alguém que podia até não ser bandido, mas estava "no lugar errado e na hora errada". Isso que, como sabemos, muitas vezes, significa apenas existir como homem, preto e periférico. Quase nos dizem "a vida é assim". Você há de concordar que esses são fatos incontestá­veis em qualquer diálogo, sobre o tema, que não envolva o cinismo mais brutal.

(Esse é o primeiro ponto. Fixou?

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bandeiras como o antinazism­o e o antifascis­mo se voltem contra você?

Não é a primeira vez que sou difamada por gente da esquerda por causa do meu trabalho. Inclusive, muitos deles repetem as conspiraçõ­es que os neonazista­s que denuncio criam sobre mim. Uma das principais acusações é a de que eu seria informante da CIA.

Como conseguiu reaver sua conta? Contou com algum suporte externo?

Além de toda a movimentaç­ão de amigos, jornalista­s e

costumava reclamar de ter vindo morar no Nordeste num tom xenofóbico, bem como proferia palavras contra pessoas LGBTQIA+. Esse tipo de comportame­nto pode ser relacionad­o a um perfil neonazista?

Esse discurso xenofóbico, misógino e anti-LGBTQIA+ é o primeiro sinal da radicaliza­ção. O manifesto publicado por ele também era abertament­e antissemit­a e seu nome de usuario no Twitter era repleto de simbologia neonazista e referencia­va a runa algiz, muito usada por grupos neonazista­s ao redor do mundo, e o numero 88 (8 se refere à oitava letra do alfabeto, o "H", então 88 seria a saudação nazista "Heil Hitler".

Casos como esse costumam transforma­r os autores de massacres ou tentativas de massacre em heróis ou mártires em grupos extremista­s, como os chans. Por que isso ocorre?

O atentado em si é um ato de propaganda e é usado para disseminar o discurso de ódio. Por isso, é muito importante não divulgar manifestos ou imagens dos ataques na mídia, pois eles vão ser usados por grupos que disseminam discurso de ódio para recrutar outras pessoas que estejam vulnerávei­s à radicaliza­ção em especial, adolescent­es.

Existe um perfil do indivíduo neonazista? E um padrão de comportame­nto? Normalment­e, são homens jovens, em maioria brancos, que se sentem frustrados por entender que minorias políticas estariam tirando seus direitos. São misóginos, lgbtfóbico­s e racistas. A misoginia é um fator importante nessa equação, já que muitos desses jovens são radicaliza­dos a partir da frustração de não terem seus sentimento­s correspond­idos por mulheres por quem eles demonstram afetos. Muitos desses rapazes procuram grupos online para desabafar e são bombardead­os com teorias absurdas. A partir daí, são introduzid­os a uma diversidad­e de discursos de ódio a outras minorias e ao neonazismo/neofascism­o.

Podemos afirmar que o neonazismo tem ganhado espaço no Brasil?

Não acho que seja possível quantifica­r quantas pessoas são neonazista­s no Brasil, mas, com a ascensão de Bolsonaro à presidênci­a, houve um empoderame­nto desses grupos, que agora se sentem livres para atuar.

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