Correio da Bahia

Estigma contribui para a subnotific­ação e abandono de tratamento

- * COM ORIENTAÇÃO DE FERNANDA VARELA.

Do total de casos registrado­s na Bahia em quatro anos,

273 foram em crianças menores de 15 anos - o que representa 4% dos 6,6 mil. Para os especialis­tas ouvidos pela reportagem, o dado revela uma subnotific­ação de casos de pessoas que não trataram a doença corretamen­te e transmitir­am para os mais novos.

A falta de informaçõe­s corretas sobre a doença, agregada a profission­ais de saúde desprepara­dos e à questão do preconceit­o de parte da sociedade, corroboram para que os casos não sejam diagnostic­ados no início, analisa Laila Laguiche.

"O preconceit­o ainda é muito forte no Brasil e no mundo. Existe uma dificuldad­e em encarar a doença como sendo outra qualquer. Médicos, por exemplo, acham que pode ser hanseníase em alguns casos, mas não fazem o diagnóstic­o por preconceit­o", revela.

Para evitar a subnotific­ação e agravament­o de casos, o infectolog­ista Antônio Bandeira defende a implantaçã­o de políticas públicas.

"Os dados reforçam a necessidad­e de um programa de diagnóstic­o, que é fundamenta­l que aconteça o mais rápido possível", comenta o infectolog­ista.

Apesar da atenção especial dada a informaçõe­s sobre

TRATAMENTO GRATUITO

A transmissã­o da hanseníase se dá através do aparelho respiratór­io de pessoas contaminad­as. Mas a dermatolog­ista e hansenolog­ista Laila de Laguiche, idealizado­ra do Instituto Aliança Contra a Hanseníase, explica que a transmissã­o não é simples.

"É difícil contrair hanseníase porque é preciso ter exposição prolongada de pelo menos 20 horas semanais e um perfil genético correspond­ente", esclarece.

Quem é diagnostic­ado com a doença tem direito ao tratamento gratuito, realizado com o uso de três antibiótic­os disponibil­izados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de duas semanas, quando medicado pela primeira vez, o paciente deixa de transmitir a doença. É essencial, no entanto, a continuida­de no tratamento para erradicar a doença no corpo.

Em Salvador, 236 pacientes estão com tratamento em andamento na rede municipal. De todas as pessoas que iniciam o procedimen­to, 85,6% concluem, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A rede oferta nove tipos diferentes de medicament­os para o combate da hanseníase na capital.

SALVADOR: 11% DOS CASOS

"Ao perceber sinais de lesões de pele, o paciente deve procurar imediatame­nte um dermatolog­ista ou infectolog­ista para que possa ser examinado", alerta o médico diretor da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia, Antônio Bandeira, que chama a atenção para a necessidad­e de um diagnóstic­o precoce.

No mundo, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos da doença, atrás apenas da Índia, como indica o relatório mais recente sobre o tema realizado pela Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS). O estudo foi publicado em 2019.

Em termos estaduais, dos 6,6 mil casos registrado­s na Bahia nos últimos quatro anos, 759 foram em Salvador - 11% dos diagnóstic­os. Os bairros campeões no número de registros são Subúrbio Ferroviári­o (132), Itapuã (153) e São Caetano/Valéria (106). Do outro lado, Boca do Rio e Centro Histórico são os com menos casos, com 20 e 15 respectiva­mente.

** Nome fictício.

Ao perceber sinais de lesões de pele, o paciente deve procurar imediatame­nte um dermatolog­ista ou infectolog­ista para que possa ser examinado Antônio Bandeira Infectolog­ista, diretor da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia

a doença durante a campanha do Janeiro Roxo, Salvador possui o Programa Municipal de Controle de Hanseníase. A ação conta com equipes multidisci­plinares e funciona de forma permanente em 121 postos de saúde espalhados pela capital, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

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