Estigma contribui para a subnotificação e abandono de tratamento
Do total de casos registrados na Bahia em quatro anos,
273 foram em crianças menores de 15 anos - o que representa 4% dos 6,6 mil. Para os especialistas ouvidos pela reportagem, o dado revela uma subnotificação de casos de pessoas que não trataram a doença corretamente e transmitiram para os mais novos.
A falta de informações corretas sobre a doença, agregada a profissionais de saúde despreparados e à questão do preconceito de parte da sociedade, corroboram para que os casos não sejam diagnosticados no início, analisa Laila Laguiche.
"O preconceito ainda é muito forte no Brasil e no mundo. Existe uma dificuldade em encarar a doença como sendo outra qualquer. Médicos, por exemplo, acham que pode ser hanseníase em alguns casos, mas não fazem o diagnóstico por preconceito", revela.
Para evitar a subnotificação e agravamento de casos, o infectologista Antônio Bandeira defende a implantação de políticas públicas.
"Os dados reforçam a necessidade de um programa de diagnóstico, que é fundamental que aconteça o mais rápido possível", comenta o infectologista.
Apesar da atenção especial dada a informações sobre
TRATAMENTO GRATUITO
A transmissão da hanseníase se dá através do aparelho respiratório de pessoas contaminadas. Mas a dermatologista e hansenologista Laila de Laguiche, idealizadora do Instituto Aliança Contra a Hanseníase, explica que a transmissão não é simples.
"É difícil contrair hanseníase porque é preciso ter exposição prolongada de pelo menos 20 horas semanais e um perfil genético correspondente", esclarece.
Quem é diagnosticado com a doença tem direito ao tratamento gratuito, realizado com o uso de três antibióticos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de duas semanas, quando medicado pela primeira vez, o paciente deixa de transmitir a doença. É essencial, no entanto, a continuidade no tratamento para erradicar a doença no corpo.
Em Salvador, 236 pacientes estão com tratamento em andamento na rede municipal. De todas as pessoas que iniciam o procedimento, 85,6% concluem, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A rede oferta nove tipos diferentes de medicamentos para o combate da hanseníase na capital.
SALVADOR: 11% DOS CASOS
"Ao perceber sinais de lesões de pele, o paciente deve procurar imediatamente um dermatologista ou infectologista para que possa ser examinado", alerta o médico diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Antônio Bandeira, que chama a atenção para a necessidade de um diagnóstico precoce.
No mundo, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos da doença, atrás apenas da Índia, como indica o relatório mais recente sobre o tema realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo foi publicado em 2019.
Em termos estaduais, dos 6,6 mil casos registrados na Bahia nos últimos quatro anos, 759 foram em Salvador - 11% dos diagnósticos. Os bairros campeões no número de registros são Subúrbio Ferroviário (132), Itapuã (153) e São Caetano/Valéria (106). Do outro lado, Boca do Rio e Centro Histórico são os com menos casos, com 20 e 15 respectivamente.
** Nome fictício.
Ao perceber sinais de lesões de pele, o paciente deve procurar imediatamente um dermatologista ou infectologista para que possa ser examinado Antônio Bandeira Infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia
a doença durante a campanha do Janeiro Roxo, Salvador possui o Programa Municipal de Controle de Hanseníase. A ação conta com equipes multidisciplinares e funciona de forma permanente em 121 postos de saúde espalhados pela capital, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.