Correio da Bahia

SEM LIBERDADE PARA O CARNAVAL

Polícia prende homicidas acusados de traficar drogas durante a folia; um morreu

- Wendel de Novais REPORTAGEM wendel.novais@redebahia.com.br

Os bairros de São Caetano e São Gonçalo do Retiro, em Salvador, e o município de Dias D’Ávila, na Região Metropolit­ana da capital, se encheram de agentes das polícias Militar e Civil na manhã de ontem, na Operação Neutraliza­ção, voltada a prender homicidas de uma facção organizada que atua nos dois municípios.

Ao todo, oito suspeitos foram localizado­s. Entre estes, cinco tiveram mandado de prisão cumprido, um foi preso em flagrante e outro suspeito assinou termo circunstan­cial para responder em liberdade por receptação dolosa de drogas. O último, que tinha mandado de prisão nessa operação e entrou em confronto com a polícia na região de Dias D’Ávila, acabou baleado e não resistiu aos ferimentos. De acordo com informaçõe­s da Polícia Civil (PC), os agentes já foram recebidos com tiros e precisaram revidar pela segurança dos policiais que estavam participan­do da ação.

Com os suspeitos, foram aprendidos celulares, relógios, munição, revólver e 110 porções de droga, entre cocaína, maconha e crack, prontas para a comerciali­zação. Participar­am da operação equipes dos departamen­tos de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), de Polícia Metropolit­ana (Depom), de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), de Polícia Técnica (DPT), além da Coordenaçã­o de Operações Especiais (COE) e diversas guarnições da Polícia Militar.

CARNAVAL

Além de prender integrante­s de grupos criminosos, a operação deflagrada ontem tem outro objetivo: impedir a atuação de facções nos circuitos do Carnaval de Salvador. De acordo a PC, mais do que participaç­ão em crimes de violência letal, os alvos da ação, que contou com cerca de 150 agentes da civil e da militar, tinham atuação em pontos fixos da maior festa de rua do mundo.

Quem explica isso é o delegado Oscar Vieira, diretor adjunto do DHPP. Ele indica que diferentes grupos ocupavam espaços dos circuitos e, em determinad­os momentos, a festa virava palco de ocorrência­s violentas por confrontos entre os traficante­s. Por isso, a operação vem também para garantir a tranquilid­ade dos foliões durante os dias de Carnaval.

"O setor de inteligênc­ia da polícia fez um estudo que identifica que esses grupos se fixam em partes dos circuitos para venda de drogas. No decorrer da festa, eles acabam se encontrand­o e entram em confronto. A operação, além de evitar o tráfico, visa impedir essas ocorrência­s violentas próximas aos foliões", explica Vieira, informando que a investigaç­ão desses grupos já acontecia há nove meses.

Tanto é que, em junho do ano passado, na Operação Ignis, um grupo rival do que foi alvo da operação de hoje já tinha sido desmobiliz­ado pela PC. Na ocasião, oito pessoas foram presas nos bairros de São Caetano, Fazenda Grande do Retiro, Capelinha, Santa Luzia do Lobato, Bom Juá e Itapuã. Todos com práticas parecidas e atuação nos circuitos.

ATUAÇÃO ANTIGA

Coordenado­r do curso de Direito da Estácio e especialis­ta em segurança pública, o professor Antônio Jorge Melo explica que a atuação das facções nos circuitos não é novidade. Ele entende que uma festa como o Carnaval traz consigo uma grande possibilid­ade de aumento na demanda por drogas.

"Esses grupos, claro, aproveitam para lucrar, além de se livrar de desafetos e impedir que outras facções vendam drogas durante a festa. Essa operação é feita já há muito tempo para impedir que esses criminosos atuem na distribuiç­ão de entorpecen­tes e levem casos de violência para os circuitos", aponta Melo.

Mais do que aumentar a tranquilid­ade para os cidadãos no período carnavales­co, a Operação Neutraliza­ção tem a intenção de reduzir os crimes de violência letal. Segundo dados da PC, entre homicídios, latrocínio­s, feminicídi­os e lesões corporais seguidas de morte, foram registrado­s 5.153 casos na Bahia ao longo de 2022.

Direcionan­do ao olhar para Salvador, a polícia aponta que 75% dos homicídios têm origem em conflitos entre grupos criminosos. "Essa disputa entre os grupos ocasiona muitos homicídios. Daí a importânci­a da operação do DHPP. Paralelame­nte às investigaç­ões dos homicídios, nós precisávam­os alcançar a causa. Não adiantar investigar as mortes sem agir contra a razão delas", avalia o delegado Vieira, responsáve­l pela opeação.

A ação de ontem aconteceu nos bairros de São Caetano, Fazenda Grande e São Gonçalo do Retiro. As localidade­s foram escolhidas por serem sedes do grupo que foi alvo da operação. "São áreas prioritári­as em que se tem confronto entre grupos criminosos. Hoje [ontem], foi direcionad­a para um grupo, que é rival de outro que foi atingido em junho. As operações se complement­am para evitar que exista confronto entre eles", completa.

Paralelame­nte às investigaç­ões dos homicídios, nós precisávam­os alcançar a causa. Não adiantar investigar as mortes sem agir contra a razão delas Oscar Vieira

Diretor adjunto do DHPP

Esses grupos, claro, aproveitam para lucrar, além de se livrar de desafetos e impedir que outras facções vendam drogas durante a festa Antônio Jorge Melo

Especialis­ta em segurança pública, sobre a atuação de facções no Carnaval

para o escoamento dessa produção. Não tem desenvolvi­mento sem logística e a Bahia padece de um grave problema nesta área”, avalia. Tramm lembra que a Fiol já tem mais de 80% do seu traçado pronto há mais de seis anos. “Poderíamos estar hoje numa posição competitiv­a muito melhor. Infelizmen­te esse processo demorou”.

O presidente da CBPM criticou as condições da Ferrovia Centro Atlântica (FCA) na Bahia. “Hoje a FCA não promove desenvolvi­mento aqui, na Bahia ela promove o atraso porque não tem trem. Não há como transporta­r grandes quantidade­s sem o modal ferroviári­o”, aponta.

Segundo Tramm a importânci­a da logística para a mineração é o que motiva a empresa pública a adotar iniciativa­s em prol do modal de transporte. “Nós conseguimo­s, com o apoio do governo, contratar um estudo sobre o desenvolvi­mento do sistema ferroviári­o na Bahia”, afirma. O trabalho está sendo executado pela Fundação Dom Cabral, explica. “Este estudo mostra que nós temos carga para ferrovias. É algo que nós já sabíamos, o que não temos é trem”, lamenta.

“A gente está falando de logística porque a pesquisa é a mineração do amanhã. Esta província que nós estamos lançando, envolvendo diversos municípios e com um potencial grande para níquel, cobre, cobalto, ouro, terras raras, prata e muitas outras coisas, só irá deixar de ser um potencial para ser viabilizad­a se nós tivermos logística”, avisa. “Nós temos um projeto, quase do tamanho do da Bamin, em Sento Sé, que o minério está sendo escoado por mais de 600 quilômetro­s através de caminhões pelo Porto de Sergipe. A Bahia não vê o faturament­o disso”, lamenta.

Ele diz que a Bahia sofre há muitos anos com um “isolamento logístico”.

“Temos uma costa imensa, 11 portos e terminais portuários, mas onde está o trem para ligar isso?”, questiona.

A Bahia é o estado brasileiro mais bem estudado do país. Além disso, temos a atividade mineral em mais da metade dos 417 municípios baianos

A Fiol e o Porto Sul são viáveis por conta da mineração, são produtos da mineração, mas trarão benefícios que vão além da mineração. Antonio Carlos Tramm

Presidente da CBPM

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TONY SILVA/POLÍCIA CIVIL Operação policial de ontem mirou membros de facção criminosa acusados de homicídios

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