Sem segurança e com polêmica
Projeto propõe vigilância armada 24 horas nos bancos de Salvador e gera discussão sobre sua eficácia
A obrigatoriedade de ter vigilância física 24 horas por dia nas agências bancárias para garantir segurança, prevista no Projeto de Lei (PL) nº 136/2022 da Câmara Municipal de Salvador, tem potencial de produzir efeito contrário ao pretendido. É o que reclama a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Segundo a entidade, a presença de vigilantes fora do horário comercial e ainda armados é atrativo para criminosos assaltarem a instituição bancária e itens de segurança, como arma e colete à prova de bala.
O PL, proposto pelo vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB), foi aprovado pela Câmara Municipal em dezembro e agora a matéria segue para apreciação do prefeito Bruno Reis. Para Vasconcelos, o argumento dos bancos é falso e uma estratégia para não gastar mais dinheiro. "A verdade é que os bancos, que lucram bilhões a cada ano, estão retirando os vigilantes e as portas com detectores de metais de várias unidades, expondo bancários e a população", denuncia.
O texto dispõe sobre regras de segurança nas instituições bancárias com objetivo de lidar com a situação de insegurança e violência pública. Trata-se da instalação de circuito interno e externo de câmera de monitoramento 24h, instalação de portas eletrônicas de segurança individualizada e contratação do trabalho de vigilância privada por 24h com porte de arma. Para a execução do trabalho de segurança, a instituição financeira deve fornecer colete à prova de balas.
A Febraban, por seu lado, afirma que a medida vai aumentar o número de assaltos e ataques. Outro efeito que preocupa o setor é a presença de mais armas e mais coletes à prova de bala no prédio. "Se tornará um atrativo para que bandidos busquem roubá-los. É notório que os bandidos utilizam armamento muito mais pesado e chegam em maior número que os vigilantes, o que agrava o risco de confrontos, deixando a guarda e a vizinhança em condição de extrema vulnerabilidade", afirma a entidade, em nota.
A federação ainda argumenta que a presença de vigilantes fora do horário comercial inviabiliza o uso de alarmes e sensores acionados após o expediente dos bancários e expõe os agentes de segurança ao ataque de criminosos com maior arsenal.
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A verdade é que os bancos, que lucram bilhões a cada ano, estão retirando os vigilantes e as portas com detectores de metais de várias unidades Augusto Vasconcelos Vereador de Salvador
cário de vigilância privada é o segundo com mais armas desviadas para o crime. "É algo que a gente vê com muita preocupação", comenta.
O vereador Augusto Vasconcelos, que propôs o PL, argumenta que já existe tecnologia que permite conviver o sistema de monitoramento eletrônico com a presença de vigilância e acusa os bancos de falta de comprometimento com clientes e bancários.
UMA RESPOSTA
Segundo Augusto Vasconcelos, o projeto é fruto do alto número de explosões, assaltos e arrombamentos que tem levado pânico e terror para a população. "Uma agência explodida leva meses e até anos para ser reconstruída [...] trazendo impactos para economia da região e redução de postos de trabalho".
Ele denuncia que bancos já estão tirando vigilantes no horário de expediente comum e extinguiram a função de vigilante nas chamadas unidades de negócios, sob afirmação de que não movimentam numerário nos locais. "Nesses locais já se tem registros de assaltos, furtos e agressões físicas e verbais", comenta o vereador.
A reportagem do CORREIO entrou em contato com o Itaú, Santander, Bradesco e CAIXA solicitando posicionamento mediante ao PL, mas não recebeu retorno. O Banco do Brasil, por sua vez, informa que acompanha as discussões junto às autoridades competentes e também aos demais bancos. A prefeitura de Salvador também foi procurada para dar posicionamento sobre a questão, mas não retornou.